Aquivos por Autor: admin

Joana em Serralves

Gosto, e muito, do que Joana Vasconcelos concebe, por isso bem quis ir até ao Guggenheim de Bilbau, para ver a sua exposição “I’m your mirror “ e nessa ida aproveitava para visitar o casco histórico da cidade que desconheço, tinha até hotel e viagem marcadas, que sou dos que planeia tudo com antecedência não dando margem a qualquer improviso, não tivesse a saída da Cristina para a SIC alterado os meus planos impedindo-me que saísse de antena. Felizmente que a exposição veio, entretanto, para Serralves pelo que aproveitando uma ida ao Porto logo a quis visitar.

Há quem diga que a artista faz do lixo luxo, procurando de forma rasteira e redutora castigar o seu trabalho, talvez por ter sucesso, porém o que Joana utiliza nas suas obras são objectos do quotidiano, do ambiente doméstico que vive em cada um de nós. A própria o diz: “o nosso ambiente doméstico não é lixo, pelo contrário é um lugar que se deve preservar, valorizar e que se deve ter em conta como um lugar seguro, um lugar de prosperidade”. Usando imagens, materiais e técnicas tão enraizadas na nossa cultura popular, como o azulejo, o bordado, a renda, a cerâmica … Joana Vasconcelos aproximava a sua arte da vida real. E são da vida real as mensagens que as suas obras vinculam, alterando padrões, rasgando mentalidades, por isso também gerando polémicas. Museus e coleccionadores de Arte compram-na, o povo entende-a ou procura entendê-la e acorre às suas exposições. Em Serralves, naquela manhã de sábado vi pais e filhos, muitos, cativados pela cor, pelas formas, sobretudo pelo uso de objectos do privado que a artista traz para o público com criatividade, humor e ironia. Aproveite, enquanto Joana Vasconcelos mora em Serralves.

Um Hotel Monumental

Já o tinha debaixo de olho, mesmo antes de estar concluído e de ter sido vendido pelo grupo “Mystic Invest”, de Mário Ferreira, à cadeia hoteleira francesa Maison Albar, para ali me hospedar, faltava era um pretexto que me levasse uma vez mais ao Porto, fazendo-me desviar do destino que agora prefiro, por razões óbvias, para fins-de-semana e outras ocasiões de lazer.

No “Monumental Palace” fiquei então por altura do “Portugal Fashion”, e em boa hora, que o Hotel tem muito do que gosto. Gosto de sabê-lo edifício com história, no centro mais imponente e popular da cidade, ali era nos anos trinta o café do mesmo nome, diz-se que dos mais luxuosos da península, pelos pormenores da decoração e pela animação constante que duas orquestras permitiam, mais tarde,porém, seria Pensão, acabando o edifício por ficar, em grande parte, votado ao abandono.

Gosto da forma como foi reabilitado, resgatando-lhe a alma e a grandeza que só os mais velhos lembravam e uma outra fotografia esbatida exibia, entre uma fachada e interiores Arte Nova e Arte Deco. Gosto dos detalhes de como foi “vestido” e decorado, prova do inequívoco talento de Artur Miranda e Jacques Bec, dupla infalível, da OitoemPonto. Gosto do conforto dos seus quartos e suites, que se numa destas fiquei, a que aqui reproduzo em fotos, a alguns dos quartos deitei olhada, o suficiente para perceber que não há dois iguais. Gosto do que nos propõe entre bar, café, restaurante gastronómico e o SPA com piscina (única nos hotéis da baixa portuense) e tratamentos. Gosto da elegância e da simpatia do seu serviço e atendimento.Por tantos gostares estou ciente que, na Invicta, é Hotel para a ele me afeiçoar.

Monumental Palace Hotel
Avenida dos Aliados,
Porto

www.maison-albar-hotels-le-monumental-palace.com/pt/

Viciado me confesso!


Tenho a certeza que muitos milhares de portugueses me compreendem se eu disser que os Stark, os Targaryen, os Lannister, os Greyjoy… passaram enquanto personagens a fazer parte do meu dia-a-dia. É coisa recente diga-se,que só há vinte dias comecei a ver a série de que meio mundo fala (“Guerra dos Tronos”), vejam só quantos anos levo de atraso. Nunca fui muito de me agarrar a séries, que isto esperar uma semana por cada episódio dá conta da minha ansiedade, mas o “problema” resolveu-se a partir do momento em que aderi à Netflix e agora à HBO, podendo somá-los como se não houvesse amanhã. Foi o que me aconteceu há um ano com “Downton Abbey” e com “The Crown”, se bem que esta última tenha seguido mais com uma ferramenta de preparação para a transmissão televisiva do casamento de Harry e Meghan, que co-apresentei, em Maio último, a partir de Windsor. Seguiu-se um período digamos que de “desmame”, que isto na ânsia de rapidamente tudo querer saber de tramas e conluios também vicia, ocupando-me antes com documentários diversos sobre temas e áreas do saber que me interessam e desafiam.

Espicaçado agora por tanto reclame à temporada que hoje estreia como sendo a última de toda a saga, pus-me a ver o primeiro dos sessenta e seis episódios até aqui exibidos e compilados em sete temporadas. E não é que em pouco mais de duas semanas só me faltam dezasseis para me pôr a par! Logo me deixei apanhar, de modo obsessivo, pela qualidade da escrita, pela trama, pelas interpretações, pela produção (dizem-me que envolvendo dez milhões de dólares por cada episódio. Só pode!!!), pelos efeitos especiais, por tudo e mais alguma coisa… Aquilo entranha-se de tal forma que até me esqueço que é ficção. Sanguinária, como nunca vi, não dá para nos afeiçoarmos a personagem alguma, que todas elas, ou quase, têm acabado degoladas, estropiadas, decepadas, decapitadas, esventradas (acho que esgotei as palavras acabadas em “adas” relacionadas com as piores safadezas), a série agarra-nos visceralmente a ponto de não se querer parar de ver. Dou comigo pregado à cabeceira da cama, tal a violência da maior parte das cenas (até agora nenhuma outra supera o choque sentido com a do casamento vermelho, verdadeira sangria), exausto no momento de apagar a luz, com pesadelos durante o sono … mas no dia seguinte lá estou a querer mais. É vício do qual só me vou libertar quando a série terminar de vez. Eu sei que me compreende!

Esse (meu) alfaiate!

Sabe bem as linhas com que cose a Vida, sabe-o desde rapazelho ao querer o mundo para lá do bairro onde cresceu e onde outros se perderam, os amigos que não rejeita, antes os abraça, como que a querer dizer-lhes que a esperança não vai nua. Urge é vesti-la com dom, cada um terá o seu, e teimosia, esse “braço armado” da perseverança. Sempre soube o que não queria: o desamor, que calou com lágrimas e solitude, por isso é companheiro enamorado, pai atento e dedicado; a indignidade, esse caminho estéril que outros pisam cheios de si, por isso faz da honradez entretela, a leviandade ou ligeireza, que o mister é coisa séria e por isso chuleia-o a rigor não venha a desfiar-se. Foi a alfaiataria a escolhê-lo numa das dobras da Vida, sabendo esta que ele seria homem para ao ofício se atirar com nervo e paixão. E assim se fez artista, desejado e respeitado.

Com alinhavos de simpatia e de humildade tenta outras sortes, ora na televisão agora em livro, cuidado e pedagógico, e assim encanta e segue em passadas de triunfo. Surpreendendo, desafiando e superando-se.

Honrado que fiquei por me convidar para o prefaciar visto as palavras de gala para com elas bordar a admiração e o respeito que lhe tenho. Mais que o oficiante que me veste como quem aconchega uma segunda pele enalteço o homem leal e corajoso que nascido da noite quis para si dias limpos e azuis na cambraia do talento, da criatividade e do afecto. Parabéns Paulo!

Confidências a Garnel!

Se há pessoa de quem gosto é da Felipa Garnel. Conheço-a há um ror de anos, da televisão, ao tempo em que começou pela mão do nosso Nico, num jogo de fim de tarde, e, muito depois, da apresentação de projectos variados, como o das conversas com tempo, um verdadeiro luxo, já na TVI, e onde me teve como convidado, das revistas que dirigiu com competência e muitos resultados, “Caras” e “Lux”, mas sobretudo da Vida. Gosto de almoçar com ela, de gargalhar desfiando recordações, histórias comuns como aquela que vivemos em Atenas, depois de um jantar delicioso no bairro Plaka, assim uma espécie de Bairro Alto lá do sitio.

Viajávamos no paquete “Funchal”, com outras figuras conhecidas, e tínhamos de retomar o cruzeiro. Apanhámos um táxi, e junto iam também a Ana Zannati e a Lara Li. Lembro-me de como nos vimos gregos para fazer entender ao motorista que o queríamos era ir para para o porto do Piréu. Lá percebeu muito a custo e depois da Ana ter desenhado, convenhamos que às três pancadas, um barquito entre ondas. A meio do percurso em bom andamento começámos a perceber que a corrida não era regular, ora metia pé ao travão ora arrancava como que a querer driblar uma outra viatura que, entretanto se havia apresentado pela esquerda. É então que o taxista abre o porta-luvas e saca de uma pistola, que coloca ao seu lado. Imaginem a nossa cara. A Felipa só ria, eram os nervos, com Ana a mandá-la parar e a sugerir que mantivéssemos uma conversação aparentemente normal. Estávamos de férias, apresentava eu o “Praça da Alegria” e já havia gravado um concurso de tunas académicas, o “EFE-ERRE-Á”, que sabia ir estrear dali a dias. Com alguma miúfa, confesso, mais até por não entender o que se estava a passar já que o desgraçado do motorista não sabia uma de inglês para nos explicar o que quer que fosse, fui escorregando do banco da frente para o chão do carro, só dizendo que era ridículo ficarmos todos ali, “morridos” de morte macaca, com um concurso novo a ir para ar a título póstumo. Ainda hoje estamos para perceber o que se passou, mas estamos cá para contar!

Nem de propósito, desta vez era a Felipa ao volante por um mês como motorista da Uber, para uma experiência que haveria de resultar num livro. Confidenciou-me num dos nossos almoços e fez-me guardar segredo. Guardei-o a ponto de ter esquecido e de me surpreender quando o livro, já editado, chega-me às mãos, teriam passado, entretanto, uns cinco meses. O mundo real viajou no seu carro, por isso o que nos relata são histórias de gente comum. Como a da avó desvelada que leva a neta aos tratamentos do IPO ou a da grávida em riscos de perder o seu bebé, a caminho do hospital, como a do Pedro que insistiu para que a Felipa parasse a corrida para que ele saísse, não por estar indisposto mas por não querer aparecer num programa que afiançava ser de apanhados ou a da jovem mal educada e ainda menos agradecida a quem os pais queriam proporcionar um aniversário inesquecível, a começar com um pequeno-almoço no “Myriad” de tantas estrelas, ao Parque das Nações …”

Tive, por um mês, o mundo no meu carro!” – diz-me a autora com orgulho. Não, não vou contar-lhe as histórias, mais de uma vintena, porque o que aconselho é que leia o livro para que, página a página, entre na corrida e seja cúmplice. Lê-se de enfiada, ora sorrindo ora molhando os olhos, que assim é a Vida, ora empolgante ora castigadora… mas sempre desafiante. Venha o próximo Felipa!

No Botão!


Sabia lá eu que existia uma freguesia (do concelho de Coimbra) chamada Botão. Botão para mim é coisa de abotoar, tem é de haver casa ou presilha, e com “u” é nome de país asiático. Mas há e a localidade até que é pitoresca, mostrando orgulhosa vestígios de muita antiguidade. Dizem que foi sede de concelho medieval, que teve hospital e Misericórdia e que foi Manuel I, nosso venturoso rei, quem lhe concedeu foral em Janeiro de 1514. A sua história está intimamente ligada ao Mosteiro de Lorvão, já que quando este passou para as monjas de Cister, uma das suas abadessas, D.Catarina de Eça, fez ali construir paço, que servia para a estada das religiosas a caminho de Viseu, e reformar a Igreja. Se do paço nada resta impõe-se ainda a Igreja matriz, vetusta de muitos séculos, devendo o seu actual aspecto às grandes obras que nela foram feitas no século XVI e cem anos depois. “ Tem de ir ao Botão ver o altar-mor, em pedra, da Igreja!”- sugeriu-me um simpático casal em Lorvão e foi assim que ali cheguei. A capela-mor, manuelina, tem tecto abobadado com o brasão da abadessa e o altar em pedra policromada exibe dois nichos em que se abrigam as esculturas de São João Evangelista e São João Baptista. No alto, dois anjos músicos ladeiam o frontão. Gostei sim do altar-mor, mas também ficaram os meus olhos numa imagem da Virgem com o Menino ao colo, numa das capelas laterais.

Valeu a ida ao Botão até porque conheci, por mero acaso, que tenho por hábito meter conversa com quem passa, uma filha da terra a ela regressada muitos anos depois de ter andado pelas Américas. Vitória, assim se chama tão gentil senhora, foi ter com o marido que acaba por lhe faltar em sete meses. Viúva com uma filha nos braços atirou-se à Vida, a sua que diz dar um filme. A filha com estudos e o genro engenheiro partiram para Munique e agora é vê-la cá e lá para matar saudades e estar com os netos, já vão em três. Diz que Deus a terá sempre ajudado talvez por ter nascido naquela casa, onde hoje vive, mesmo frente à Igreja. Prometi-lhe voltar talvez por alturas de Nossa Senhora da Piedade que é quando faz bom tempo e há festa rija.

No Mosteiro de Lorvão

Em havendo um mosteiro por perto é certo e sabido que tenho de me pôr a caminho. Apesar de não ser crente gosto destas casas de Deus na terra, locais de clausura e de piedade, e de imaginar a vida ali dentro entre orações, leituras, cânticos, recolhimento e o manuseio de doces e outras artes, como a dos papéis picados que lhes serviam de cama, ou a de palitar (e não se veja no verbo qualquer sentido pecaminoso que é mesmo de palitos que falo talhados, originalmente, em pau de loureiro para adorno das gulodices). Assim era em Lorvão com as monjas cistercienses, e antes já tinha sido com os frades da Ordem de São Bento, estes dados à arte de iluminar.

Gosto das representações artísticas da Fé e, se bem que no caso do Mosteiro do Lorvão muito do seu património se encontre distribuído por vários museus, como o de Machado de Castro em Coimbra, já me basta a Senhora da Vida, entre outras imagens sacras de grande beleza artística, os túmulos de prata de duas das filhas de Sancho I, nosso rei (Teresa e Sancha, beatificadas por vontade de Clemente XI e outra houve, Berengária, que ali foi  educada e veio a ser rainha da Dinamarca), mas acima de tudo o cadeiral setecentista para me deslumbrar. Será dos mais imponentes que podemos encontrar por esse país fora, minucioso nos seus detalhes, em jacarandá e nogueira. Um incêndio destruiu dez das suas cadeiras e é tal a delicadeza de pormenores e a sua mestria técnica que na hora de as recuperar não houve quem fosse capaz de as igualar às demais.

Depois é provar os pastéis cuja receita se diz ter saído do antigo mosteiro que não há por ali
pastelaria que os não tenha. E seguir o conselho de um simpático casal que andava ao mesmo, à procura do que temos de melhor: “já reparámos que gosta de Arte, então vá à Igreja do Botão, uma aldeia aqui a poucos quilómetros, vai gostar do altar-mor em pedra! É uma beleza!”.
Bora lá para o Botão, sem sair das redondezas, que na hora fiquei curioso pelo nome da freguesia e pela prometida “jóia”. Será o próximo escrito!

Na mata encantada!

Primeiro pensei no Palace Hotel do Bussaco, já que Mogofores ficaria a vinte minutos de carro e se o programa de segunda era em parte feito na casa de José Cid, aproveitava-se o fim de semana para conhecer toda uma região adiada por décadas, mas houve quem me dissesse que o hotel estava degradado, pelo que tirei daí o sentido antes procurando ficar pela Coimbra da minha infância, como que numa romagem de saudade, logo eu que não sou dessas coisas, revisitando algum do seu património agora com um outro olhar, porém o Hotel Quinta das Lágrimas, que é onde gosto de pernoitar, estava lotado. Nada feito, ainda que pela cidade tivesse passado para um almoço com os que me são mais chegados. Veio-me então à ideia a Curia, também perto do destino final, com um magnífico Hotel Palácio recentemente renovado, jardins e todo um passado ligado ao turismo termal, mas repetir-se-ia a nega, já que também aquela unidade estava completa toda ela por conta de um casório. Bom, não vi outra hipótese que não fosse a primeira e lá liguei para o Palace do Bussaco, acreditando que à terceira seria de vez e é que foi mesmo, se bem que resvés, uma suite ainda se encontrava disponível: a do rei. Ora pois, que outra poderia ser, que se fizesse a reserva e ala então para o Bussaco.

Nunca lá tinha ido (incrível não é?) e logo me deslumbrei com toda aquela floresta encantada num triunfo de verdes, caminhos de águas e mistérios. Deixo para o nobel Saramago a melhor das descrições quando diz que “o viajante passeia e entrega-se sem condições, não sabendo exprimir mais do que um silencioso pasmo diante da explosão de troncos, folhas várias, hastes, musgos esponjosos que se agarram às pedras…” e mesmo ele acha que as palavras se lhe acanham perante tamanha beleza. Não seria pois de admirar que D.Fernando II tivesse feito notar a seu filho, o rei Luis I, que muito lhe aprazaria ver ali construído um pavilhão de caça, segundo a sua ideia uma sorte de Torre de Belém entre vagas vegetais. Luis I acabaria
por adiar o projecto afadigado que era em assuntos sérios da governação já sob a ameaça da propaganda republicana. Seria Emídio Navarro, Ministro das Obras Públicas quem mais tarde recuperaria a ideia fazendo D.Carlos interessar-se por ela. D.Carlos e seu irmão Afonso já conheciam o Bussaco, de um Verão passado, o de 1877, com Maria Pia de Saboia, mãe e soberana, que ali terá aquietado sua alma atormentada. A Luigi Manini, o mesmo arquitecto da Quinta da Regaleira, foi confiado o projecto e os melhores artistas seriam chamados à obra: Jorge Colaço para os zulejos, Costa Mota para as esculturas, Carlos Reis para as pinturas, entre outros notáveis. Começou a ser contruído já o século XIX agonizava, D.Carlos assassinado no Terreiro do Paço a 1 de Fevereiro de 1908 nunca chegou a entrar naquele Palácio de Reis que poucos anos depois acabaria por virar hotel. A sua concessão está desde sempre na família de Alexandre de Almeida, percursor da indústria hoteleira em Portugal, homem de rasgo e visão, sendo hoje um seu neto, também ele Alexandre, já que o nome se perpetua entre gerações, quem dirige a empreenda.
Imponente, teatral, delirante, não tivesse Manini oficiado também como cenógrafo no Teatro de São Carlos, o Palace Hotel do Bussaco apresentava-se então como “o melhor de Portugal e um dos melhores da Europa, com as suas instalações de luxo, magníficos salões, telefone para a rede geral do país, orquestra e chá dançante aos domingos”. Passaram cem anos, o hotel terá perdido algum do seu brilho, que os tempos são outros, precisará de cuidados, a nível da decoração e do conforto, que contudo não deslutrem o seu glorioso historial e demais património, mas ali pernoitar é sem dúvida uma experiência inesquecível e para repetir.

Na minhas deambulações haveria de encontrar o Nuno, artista da fotografia, que ali me desafiou para uma rápida sessão. Entre poses e disparos, foi-me dizendo que apesar de lisboeta vive em Almeirim onde montou o seu negócio e que ali era num encontro de fim de semana para fotógrafos de casamentos, a bem dizer a sua especialidade. A tarde caía pesada, não tardaria toda a floresta ficaria guardada na penumbra e na memória, mal parecia recusar tão simpático convite, logo eu que gosto tanto de fotografia: “bora” lá fazer de modelo! E olhe que gostei do resultado! Se estiver a pensar casar, já tem aqui uma sugestão!

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Viagem ao (meu) passado!

Quando deixei Coimbra aos dezassete e regressei à Lisboa onde nasci ainda se desciam uns dez degraus para franquearmos as pesadas portas de Santa Cruz. O rebaixamento da Praça dita Oito de Maio, por ter sido nesse dia mas de 1834 que as tropas liberais do Duque da Terceira entraram na cidade, se bem que também seja popularmente conhecida por Largo de Sansão por ali ter existido uma fonte invocando o bíblico herói, efectivar-se-ia anos mais tarde, permitindo que a entrada da igreja ficasse a bem dizer ao nível do pavimento. A fachada de quinhentos, se bem que na origem fosse românica tal a antiguidade do antigo Mosteiro, em pedra calcária de Ançã, ganhou assim uma maior majestosidade independentemente do que se perdeu da estatuária que outrora ocupara todos os seus nichos.

Lembro-me de ali ir com a avó Palmira à missa dos Domingos, de me maravilhar com os azulejos azuis e brancos, soube já adulto serem do século XVIII, que vestem grande parte da sua nave única com cenas da Bíblia, e de me empolgar sabendo que ali eram tumulados Afonso, o primeiro dos nossos reis e seu filho Sancho, imortalizados em esculturas jacentes de Nicolau Chanterenne, também ele autor do púlpito magnificamente rendilhado a pedra, e onde o senhor prior perorava homílias ameaçadoras, isto no entendimento de uma criança que nunca compreendeu porque a existir Deus teria ele de ser castigador, tampouco essa de que para ganharmos o reino dos Céus teríamos que aqui penar. Deslumbravam-me as casulas adamascadas pelos seus finos bordados a ouro e a teatralidade de toda a celebração, completamente alheado da demais assembleia que a seguia entre rezas e benzeduras, debitando latim em uníssono, tenho que a maioria, humilde e pouco ou nada letrada, sem perceber pêva.

Levei mais de quarenta anos para agora a Santa Cruz voltar. Dá pena ver o estado degradado do seu Claustro do Silêncio, mais a mais sabendo que já foi de muita fama, mas muito do que ainda se abre ao olhar do visitante, como por exemplo o Altar Mor, o cadeiral do Coro Alto e a sacristia, leva-nos a viajar no tempo e a imaginar Santa Cruz enquanto grande centro de espiritualidade e de sabedoria e onde foram cónegos regrantes nomes como Santo António e São Teotónio.

Do Alentejo para o Papa!

Há muitos anos, era eu viajante a bordo do Paquete Funchal, pude presenciar na Praça de São Pedro a uma “udienza papale”, pontificava então João Paulo II. Em estando o Papa em Roma é sabido que às quartas-feiras há leituras, cânticos e benção na Praça, ou na sala de audiências se o tempo não estiver de feição, para quantos se inscreveram com a devida antecedência. Imagine a empolgação quando João Paulo II saudou em português quantos cruzeiristas ali se encontravam, entre milhares de pessoas.

Foi pois numa quarta-feira em atrasado que desta o Papa Francisco recebeu uma delegação de padres e peregrinos portugueses, integrando-se nestes Gonçalo Lagem, o presidente do Município de Monforte que não quis deixar de honrar Francisco com algo que representasse a essência da sua terra, este imenso Alentejo que tantos nos arrebata como aquieta. A ideia foi da sua amada Inês, como lhe gabo o seu enamoramento de companheiro e pai, e logo confiada foi a sua execução a Sílvia Carola, gerente da empresa monfortense “Carola e Borralho”.

Ao receber um capote alentejano branco com gola de borrego, igualmente imaculada, o Papa visivelmente agradado terá dito: “con esse abrigo puedo evangelizar en el Polo Norte que no paso frio!”.

Registo aqui a feliz ideia de lhe ofertar um capote alentejano, tradicionalmente usado pelos pastores para fazer face aos rigores da invernia, ou não fosse Francisco o Pastor! Pena que haja tanta ovelha negra no seu rebanho, a começar pelos da Casa.

www.carolaeborralho.com