Primeiro pensei no Palace Hotel do Bussaco, já que Mogofores ficaria a vinte minutos de carro e se o programa de segunda era em parte feito na casa de José Cid, aproveitava-se o fim de semana para conhecer toda uma região adiada por décadas, mas houve quem me dissesse que o hotel estava degradado, pelo que tirei daí o sentido antes procurando ficar pela Coimbra da minha infância, como que numa romagem de saudade, logo eu que não sou dessas coisas, revisitando algum do seu património agora com um outro olhar, porém o Hotel Quinta das Lágrimas, que é onde gosto de pernoitar, estava lotado. Nada feito, ainda que pela cidade tivesse passado para um almoço com os que me são mais chegados. Veio-me então à ideia a Curia, também perto do destino final, com um magnífico Hotel Palácio recentemente renovado, jardins e todo um passado ligado ao turismo termal, mas repetir-se-ia a nega, já que também aquela unidade estava completa toda ela por conta de um casório. Bom, não vi outra hipótese que não fosse a primeira e lá liguei para o Palace do Bussaco, acreditando que à terceira seria de vez e é que foi mesmo, se bem que resvés, uma suite ainda se encontrava disponível: a do rei. Ora pois, que outra poderia ser, que se fizesse a reserva e ala então para o Bussaco.
Nunca lá tinha ido (incrível não é?) e logo me deslumbrei com toda aquela floresta encantada num triunfo de verdes, caminhos de águas e mistérios. Deixo para o nobel Saramago a melhor das descrições quando diz que “o viajante passeia e entrega-se sem condições, não sabendo exprimir mais do que um silencioso pasmo diante da explosão de troncos, folhas várias, hastes, musgos esponjosos que se agarram às pedras…” e mesmo ele acha que as palavras se lhe acanham perante tamanha beleza. Não seria pois de admirar que D.Fernando II tivesse feito notar a seu filho, o rei Luis I, que muito lhe aprazaria ver ali construído um pavilhão de caça, segundo a sua ideia uma sorte de Torre de Belém entre vagas vegetais. Luis I acabaria
por adiar o projecto afadigado que era em assuntos sérios da governação já sob a ameaça da propaganda republicana. Seria Emídio Navarro, Ministro das Obras Públicas quem mais tarde recuperaria a ideia fazendo D.Carlos interessar-se por ela. D.Carlos e seu irmão Afonso já conheciam o Bussaco, de um Verão passado, o de 1877, com Maria Pia de Saboia, mãe e soberana, que ali terá aquietado sua alma atormentada. A Luigi Manini, o mesmo arquitecto da Quinta da Regaleira, foi confiado o projecto e os melhores artistas seriam chamados à obra: Jorge Colaço para os zulejos, Costa Mota para as esculturas, Carlos Reis para as pinturas, entre outros notáveis. Começou a ser contruído já o século XIX agonizava, D.Carlos assassinado no Terreiro do Paço a 1 de Fevereiro de 1908 nunca chegou a entrar naquele Palácio de Reis que poucos anos depois acabaria por virar hotel. A sua concessão está desde sempre na família de Alexandre de Almeida, percursor da indústria hoteleira em Portugal, homem de rasgo e visão, sendo hoje um seu neto, também ele Alexandre, já que o nome se perpetua entre gerações, quem dirige a empreenda.
Imponente, teatral, delirante, não tivesse Manini oficiado também como cenógrafo no Teatro de São Carlos, o Palace Hotel do Bussaco apresentava-se então como “o melhor de Portugal e um dos melhores da Europa, com as suas instalações de luxo, magníficos salões, telefone para a rede geral do país, orquestra e chá dançante aos domingos”. Passaram cem anos, o hotel terá perdido algum do seu brilho, que os tempos são outros, precisará de cuidados, a nível da decoração e do conforto, que contudo não deslutrem o seu glorioso historial e demais património, mas ali pernoitar é sem dúvida uma experiência inesquecível e para repetir.
Na minhas deambulações haveria de encontrar o Nuno, artista da fotografia, que ali me desafiou para uma rápida sessão. Entre poses e disparos, foi-me dizendo que apesar de lisboeta vive em Almeirim onde montou o seu negócio e que ali era num encontro de fim de semana para fotógrafos de casamentos, a bem dizer a sua especialidade. A tarde caía pesada, não tardaria toda a floresta ficaria guardada na penumbra e na memória, mal parecia recusar tão simpático convite, logo eu que gosto tanto de fotografia: “bora” lá fazer de modelo! E olhe que gostei do resultado! Se estiver a pensar casar, já tem aqui uma sugestão!
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