Isto é mesmo da idade, em se chegando a uma certa está mais que visto que há personalidades que fomos conhecendo e/ou admirando ao longo da vida, da nossa, que vão desaparecendo. De uma das várias áreas de interesse que me são caras, a gastronomia, vi não há muito finar-se Paul Bocuse, tido como um dos maiores criadores da, na altura, chamada nova cozinha francesa, isto nos idos de setenta, hoje foi Joël Robuchon a deixar-nos, aos 73 anos. Falamos, novamente, de um génio da gastronomia celebrado com trinta e duas estrelas Michelin, visionário a ponto de ter introduzido através dos seus restaurantes o conceito de “atelier” que, segundo o próprio, segue a ideia dos bares de tapas espanhóis procurando promover o convívio entre quem come e quem cozinha. Encontrará, aliás, neste blogue alguns textos que fui escrevendo sempre que ao seu “L’Atelier”, de Paris, regressava com a excitação de uma primeira vez. São inesquecíveis a sua tarte de trufas, os seus raviolis de lagostins … o seu puré de batata, e deste diria mesmo icónico desde os anos oitenta: duzentos gramas de manteiga, e não é uma qualquer, para um quilo de batatas fazem dele um creme suave, aveludado que apetece comer à colher de tão guloso que é. Atentado calórico, pois será, se bem que servido com parcimónia em pequeno caçoilo de ferro fundido, aliás as preocupações com uma alimentação mais saudável que eliminasse açúcares e gorduras em excesso em favorecimento do consumo de legumes e da milenar cozedura a vapor, bem como do uso dos produtos de cada estação (preceitos já norteadores no movimento liderado por Bocuse) estiveram presentes nos últimos anos da sua vida, talvez por via do cancro que teve de enfrentar e que acabou hoje por o vitimar, e sobretudo do encontro que ocorreu entre si e Nádia Volf, médica de origem russa, especialista em acupuntura e neurofarmacologia, tendo dele advido fértil amizade e uma obra escrita a quatro mãos: “le goût et la vie “ (o gosto e a vida).
Para o Presidente Emmanuel Macron, Joël Robuchon, o mais estrelado dos chefs de todo o mundo, encarna o esplendor da cozinha francesa, simbolizando toda uma arte de viver na exigência e respeito pelo trabalho e pelas tradições.
O que tenho como certo é que manterei o hábito de ir ao restaurante da “rive-gauche”, desejando que o seu legado continue a cumprir-se de modo vibrante e já que esse é dos grandes prazeres que um dia também eu hei-de levar desta vida. Tem tempo, que espero ainda salivar de desejo, muitas vezes, por aquele puré de batata! Ai aquele puré!…