Um “bicerin”, sem culpas!

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Não podia estar em Turim sem provar o “bicerin”, uma bebida tradicional da cidade feita com chocolate derretido, café e natas, tudo em camadas e por esta ordem, no mesmo copo de vidro, se bem que há quem diga que, originalmente, os três elementos eram servidos separados. Isto há duzentos e cinquenta anos, ou coisa que o valha, que a bebida tem quase tanto de vida quanto o café onde é preparada e vendida (1873). Coisa feminina, dizem alguns, que tal delicadeza é incompatível com manápulas e certo é que desde 1910 o café é pertença e administrado por mulheres, tendo sido Ida Cavalli a sua primeira proprietária. Assim gerido podiam as senhoras da cidade frequentar sózinhas o local, sem que ficassem faladas. Mas muitos foram os homens famosos que à bebida se renderam, a começar pelo conde de Cavour, o primeiro primeiro-ministro do Reino de Itália, passando pelo escritor Alexandre Dumas, pelo filósofo Nietzsche, pelo compositor Puccini, e pelo rei Humberto II e sua mulher Maria José (diz-se que, antes de partirem para o exílio, ali estiveram bebendo o seu “bicerin” e que a casa nunca deixou de enviar para Cascais os chocolates da sua preferência).

Ao sentar-me numa das suas oito mesas, pequeno que é o café, não deixo de pensar neles e em tantos outros que ali se deliciaram com esta bebida que mistura, na conta certa, sensações tão contrárias, como são o quente e frio, o amargo e o doce. É o que acontece quando se está num local carregado de história e de estórias.

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Faltou dizer-lhe que o café “Al Bicerin” fica de frente para o Santuário da Consolata. O culto a Nossa Senhora da Consolação, conheceu grande desenvolvimento no século V, com São Máximo, bispo de Turim.

O Santuário é um triunfo de mármore e talha em ouro que não pode deixar de ser visto. Eu vejo com a devoção que a Arte me merece.

Dada a sua privilegiada localização, o café “al Bicerin”, ao longo da sua história de dois séculos e meio, sempre conheceu grandes enchentes, em dias de celebração, reclamando a bebida, que por o ser não quebrava os jejuns obrigados. Longe já ia o tempo (século XVII) em que no seio da Igreja se debatia se o chocolate, enquanto bebida espumosa feita das sementes de cacau e chegada à corte espanhola pelas mãos do conquistador Alfredo Cortês, respeitava ou não os rigores do jejum.

É sabido que o que é bom ou engorda ou é pecado! Pelos vistos, neste caso, o problema é o das calorias! E eu ralado!

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10 comentários a “Um “bicerin”, sem culpas!

  1. Ana Silva

    Olá Manuel Luís
    Moro em Turim desde setembro de 2015 e fiquei surpreendida hoje quando, ao assistir ao você na tv, disse que esteve uns dias em Turim!
    Como gostaria de me ter cruzado consigo e bebido o delicioso “bicerin” na sua companhia!
    Assisto ao você na tv sempre que posso, adoro a vossa alegria contagiante, faz-me sentir mais próxima de Portugal, do qual tenho imensas saudades!
    Desejo-lhe as melhores felicidades quer pessoais quer profissionais
    Beijinho

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  2. Graça Baptista

    Manel, deleito-me com o seu “Cabaret”!
    É através dele que “viajo” porque as suas descrições e narrações são deveras aliciantes.
    Para mim é o melhor apresentador de sempre!
    Continue a fazer serviço público com esta qualidade.

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  3. Carla

    Manuel
    Eu, aqui no nosso cantinho à beira mar viajo consigo, fico a conheçer mais, fico a saber de histórias e estórias. Maravilhoso tudo, o fotógrafo suponho que seja o Rui está de parabéns.

    NB- Os leitores se clicarem na foto podem ver em ecrã grande, vale a pena ver estas maravilhas.

    Besitos
    Carla

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    1. MLG

      Obrigado Carla pelo seu comentário. O fotógrafo sou sempre eu à excepção das fotos em que eu apareço ( são poucas) e mesmo essas por vezes sou em que as tiro com temporizador. Um beijo

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  4. Madalena Ferreira

    Olá MLG,

    O MLG, sabe o quanto é importante a partilha que faz com os visitantes do seu blog?
    Fico na dúvida?! Eu que não sou invejosa – invejo-o! (inveja com energias positivas), existe?

    Fotos magníficas! Também eu bebia um “bicerin”

    Obrigado pela partilha,

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