O dia dos três efes

fatima

Que dia!

Em Fátima peregrinaram quantos através da Fé sentem a alegria, a esperança, a força para enfrentarem os medos, as inquietações. Com Francisco, o Papa que recusa a pompa a favor dos gestos simples, que clama pelos deserdados da Vida: os que dormem na calçada do relento, os que mendigam afecto, os que vivem na periferia do nosso coração.

futebol

No Marquês de Pombal, acendeu-se a paixão do clubismo e muitos milhares exultaram, civilizadamente, com o título garantido. A noite tingiu-se de vermelho.

Agnóstico e sem cor futebolística, jubilo com a alegria, a festa, a comunhão. No respeito pelo outro e seus valores, crenças e amores.

festival

O glorioso dia não ficaria completo sem a vitória da música, da voz e das palavras. Minha fé. Em Kiev, um jovem com voz diáfana, sem truques nem malabarismos, conquista júri e público eurovisivos, como uma canção, matéria viva do amor e da simplicidade. Eu, que tinha tal certame canoro como coisa mais que morta e enterrada, dei por mim “colado” ao ecrã, torcendo pela qualidade e pela verdade. Tardou … mas acabaram por triunfar.

Em 1969, o país viveu uma expectativa semelhante com a “Desfolhada” da Simone, também ela dada como favorita nas apostas. O festival da canção, tanto o caseiro como o internacional, era um dos poucos acontecimentos que galvanizavam o público em geral. A sociedade bafienta e falsamente moralista, de então, havia-se escandalizado com uma frase do poeta (Ary dos Santos): “quem faz um filho fá-lo por gosto”, negando ao amor a dimensão do prazer e da elevação. Foi grande a desilusão no momento da verdade dos votos, que saímos de Madrid num dos últimos lugares, não sem que a artista tenha inscrito a canção nos anais da música e da poesia portuguesa. Ontem, quarenta e oito anos depois, incendiou-se a ternura conquistando milhões. E da tristeza fez-se graça!

À garupa de Salvador hão-de agora cavalgar quantos antes se perderam no supérfluo do cabelo desgrenhado, da roupa desalinhada, dos tiques e dos toques, esquecendo o essencial: que o Mundo é diverso e não tem o tamanho de uma ervilha.

18 comentários a “O dia dos três efes

  1. Maria Sousa

    Olá Manuel,
    Pois é foi um fim-de-semana fantástico para o Povo Português, é pena não darmos mais valor a cada Português e à sua grandiosidade enquanto Povo. Estamos um pouco apagados e longe das grandes conquistas de outros tempos, falta-nos garra e espírito de conquista, só conseguimos dizer mal de tudo e de todos.
    Adorei a vitória do Salvador, a 1ª. vez que o vi também não compreendi bem a escolha, mas depois de ouvir a música pela 2ª. vez, adorei a música e a letra e percebi que a sua forma de cantar, os gestos e a sua forma de estar em palco é que dão fulgor à canção. O meu coração quase que explodia quando comecei a ver os 12 a serem dados por tantos Países e também o comentário do Malato fazia-nos vibrar, foram momentos de stress.
    Só quem tem o coração aberto a tudo e a todos os que nos rodeiam, o amor pelo próximo e o aceitar como cada um é, é que percebe a canção e a diferença do Salvador, a canção é contagiante, já a ouvi várias vezes e cada vez adoro-a mais.
    Parabéns ao Salvador e à Luísa, são fantásticos, boa sorte para a carreira deles, obrigado pela alergia e triunfo que deram ao nosso País, grande Portugal.
    Quanto ao Futebol não sou grande fã, fica para quem gosta e são muitos, ainda bem.
    Um Abraço
    Maria Sousa

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  2. Ricardo Polidoro Alves

    Caro Manuel Luís Goucha, na minha opinião, acredito que seja um homem culto e bem informado.
    A Ciência todos os dias nos explica diversos fenómenos, para os quais grande parte das vezes nos parecem sobrenaturais. Explica-nos também que cada ser humano tem um maior predisposição genética, para um pensamento empírico, ou um pensamento analítico. Discordo quando o Manuel Luís Goucha afirma que a ignorância nos leva a crer em Deuses. Actualmente existem bastantes cientistas que são crentes.
    Individualmente, crescemos e assimilamos as influências , com os quais nos identificamos.
    Pessoalmente, sendo eu crente, vejo que o senhor apresenta sinais de incompreensão perante o lado espiritual.
    Observe, que no dia de 13 de Maio, houve alegria na Fé, no Desporto e nas Artes. Apesar da enorme diversidade na população portuguesa, houve espaço para celebração para todos.
    Um enorme bem haja.

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  3. Maria filomena Serra

    Parabéns. O Manuel Luís é um Senhor em toda a essência da palavra.
    Fico orgulhosa de existirem seres humanos como o Senhor,com os seus defeitos. mas com muitas qualidades.quem põe muitos (anormais em sentindo).

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  4. José Carlos

    Tive oportunidade de ler o que escreveu no seu blog, não sei como as revistas trataram o seu conteúdo (mas acredito que muito mal : é na verdade um meio de manter a sociedade num registo de ignorância sábia).
    Confesso que fiquei admirado quando o vi, a si como à Cristina, a fazer as entrevistas de campo no Santuário (o meu espanto deveu simplesmente pelo facto de terem a coragem de fazê-lo, quando proficionalmente não precisariam de optarem por tal posição televisiva). Por isso dou-lhe os meus parabéns.
    Relativamente ao facto de acreditar ou não nas apariçãoes de Fátima. Embora eu acredite, em nada me senti ofendido pelo facto de não acreditar. As aparições foram reconhecidas pela Igreja há já muito tempo, mas ninguém é obrigado a acreditar, nem mesmo um cristão (é aqui que repousa muita ignorância). Tratam-se de “revelações privadas” que podem (ou não, por isso é que é necessário uma aprovação da Igreja) encaminhar a nossa fé para a Revelação universal: Morte, Paixão e Ressurreição de Cristo. Foi precisamente nessa linha que o Papa desenvolveu a sua visita “pessoal” a Fátima.
    Gostaria no entanto de saber a sua opinião sobre a peça realizada no fim do jornal das oito do dia 14 de maio (seis por meia duzia). Eu sei que não lhe diz respeito, mas como profissional da comunicção que esteve em Fátima, como se sente a ver o trabalho recolhido por si (e pela Cristina em particular) a ser tratado como foi? A peça a que me refiro não foi realizado, penso eu, por nenhuma revista cor de rosa. Foi a estação pela qual dá a cara. Fiquei particularmente admirando com o alinhamento: 14 minutos a falar da visita e depois bem uma crónica que se diz ser da semana e que aborda o mesmo material, para o denegrir.
    Desejo-lhe um bom trabalho e continue a ser quem é 🙂
    José Carlos

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  5. Cristina Santoscosta

    Ser-se único, individual, diferente do figurino comumente aceite pela maioria só é próprio dos GRANDES.
    Desafiar o padrão também!
    O Salvador foi … é!
    E eu tenho a sorte de conhecer alguns que me ajudam a ser um bocadinho maior.
    Que grata estou por issso …
    cristina

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  6. Ana_slb

    Caro Manuel Luís Goucha
    Gosto muito do seu trabalho e acompanho este blog. Nunca pensei vê-lo escrever algo sobre o Benfica ou futebol porque sei que não aprecia nem tem cor futebolística. Mas adorei este texto. Foi um Glorioso dia para Portugal e fiquei feliz ao ver que não deixou o “meu Glorioso” de lado!
    Por isso mesmo aqui ficam as minhas saudações benfiquistas!

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  7. Marieta Costa

    Bom dia Manel.
    Eu digo, mas que grande Sr. Adoro ouvir tudo o que diz, pois nenhuma palavra é em vão, a sua veracidade faz com que o admire cada vez mais. Também sou (agnóstica) pena que as pessoas não saibam respeitar tudo e todos, não deixando de seguir os seus ideais, e tentar descobrir mais e mais sobre tudo o que nos rodeia.
    Adorava poder dar-lhe um abraço daqueles sem tamanho, cheio de paz e, muito amor pela vida.
    Parabéns por ser como é.
    Bem-haja

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  8. Paulinha Velez

    MLG
    Antes de tudo parabéns pelo seu trabalho em Fátima…nao que esteja surpreendida mas tinha de o felicitar pelo profissionalismo,senti a sua emoção ao ver todas aquelas pessoas,o respeito com que tratou este assunto.So por isso valeu a sua ída a Fatima.
    Quannto ao Festival também sou do tempo que aguardava este evento com a canção na ponta da lingua…e na esperança que algum país nos desse os tais 12 pontos…
    No sabado senti que era desta ao receber logo 12 pontos na primeira votação…e a partir dai so me deu para chorar…
    A musica é linda a canção tambem ..e o Salvador é unico ,a diferença as vezes assusta mas foi esta diferença que nos deu a vitoria …somos grandes quando somos assim …puros ,simples e sem.mascaras….obrigado…obrigado,obrigado
    Ah e claro que ja tenho a canção na ponta da lingua…

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  9. Transmontana

    Estou totalmente rendida à sua personalidade que muito admiro ao longo dos anos que o sigo pela TV! Este comentário é para testar, mais uma vez, a aceitação do meu endereço electrónico que o seu blogue teima em rejeitar. Abraço

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  10. Élisa Coelho

    Permita-me que invada um pouco do seu espaço, mas hoje não resisti.
    Sou jovem , apenas 23 anos, e ontem foi a única vez que vivi o fenômeno da Eurovisão.
    Talvez porque Portugal andava na boca do mundo . Talvez porque o Salvador trouxe amor à música . Não lhe consigo explicar .
    Ao ler este seu texto revi-me tanto nas suas palavras. Ufa! Encontrei alguém que me compreenda. Aqui, todos ao meu redor não compreenderam todo o meu êxtase quando ouvimos :” Portugal, é o vencedor da Eurovisão” . Não encontro explicação para tanta amargura ao nosso país.
    O facto é que desde que faço vida no estrangeiro vivo as cores da nossa bandeira de maneira diferente. É um amor inexplicável. É a alegria quando saímos vencedores e a tristeza da derrota.
    Admiro-o tanto por conseguir cativar-me , colando-me ao ecrã, nas manhãs de folga em que é o único momento que tenho disponível para mim.
    Palavras sábias de um Homem bom e transparente.
    Bem haja Sr. Manuel Luís. Toda a sorte do mundo !
    Elisa.

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  11. Miguel Silva

    Caro Manuel,
    Adorei a sua mensagem, especialmente aquele toque final no último parágrafo! (sei que entende o que quero dizer).
    Quero dizer que todos os dias, quando me desloco para a Farmácia onde estou a estagiar, em Coimbra, passo pela casa da sua mãe (soube há pouco tempo – fiquei admirado!). Lembro-me sempre de si e fico com um sorriso subtil na cara, que ninguém compreenderá. Sábado recebi o Papa, pelas estrada em frente à minha casa: foi um momento inolvidável. Aqueles 3-4 segundos de uma inefabilidade e emoção supremas que ficarão para sempre na minha memória, tal como o dia em que o conhecer pessoalmente (a si! ).
    Bem-haja,
    Miguel Silva

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  12. José

    Agora só falta o Goucha e a Cristina a apresentarem a Eurovision 2018, em direto (e para mais de 200 milhões de pessoas), no MEO Arena.
    Apesar de serem da TVI, tenho esperança.

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  13. Maria Isaura

    Pois é Manel…e o número13 é o meu número de sorte!!! Adorei que o meu Benfica fosse campeão e também adorei que o PAPA viesse a Portugal e também fiquei eufórica com a vitória do Salvador!!!

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