Era mais que sabido que a prova iria resultar numa choradeira colectiva. Imagine-se numa competição, mês e meio, longe de sua casa e dos seus, podendo apenas contactá-los por telefone, e uma vez ao dia, sem acesso a jornais, internet ou televisão, roído(a) de saudades, e ao entrar na cozinha do MasterChef, para a primeira das provas do nono programa, depara-se com o seu filho (ou filha) à espera, para uma aventura a dois. Quem resiste a tal? Eu nem pensar, que sou de sucumbir a qualquer (re)encontro entre pais e filhos, até na ficção. Confesso que quando assisto ao filme de Spielberg, “A Cor Púrpura”, revejo vezes sem conta, numa atitude de puro masoquismo, a cena final de “Miss Celie” com os seus filhos, e choro “baba e ranho”.
O Márcio teve o abraço por que tanto ansiava: o do seu Martim, que tem servido de inspiração às suas receitas. A propósito, lamento a leviandade com que se opina no mural oficial do MasterChef e noutros sítios onde falazam os costumeiros “treinadores de bancada” sobre este concorrente, sem que se conheça a verdadeira dimensão do seu drama enquanto pai. Já a Marita, que na semana passada começou a ceder à pressão e às saudades, reencontrou a sua Eva, e com a Marta foi aquilo que se viu com o seu “ai Jesus”, o pequeno David, isto para apenas referir três dos encontros mais tocantes que cumpliciámos.
Logo os petizes tomaram conta da cena e por isso vivemos, naquela cozinha, momentos de verdadeiro deleite. O David não parou de comer as lambarices que a caixa-mistério escondia para a execução da prova, dos chocolates às gomas, passando por granjeias multi-cores e eu só pensava em dores de barriga, entre outros desagradáveis distúrbios gástricos, enquanto o outro Martim, este, filho do Pedro, encantava todos com a sua tagarelice e boa disposição.
Só mesmo o Leonel, por não ter crianças que lhe fossem próximas, não terá sentido a energia tão especial desta prova, antes pelo contrário. Já o havíamos pressentido ao longo do desafio, mas uma vez concluído e desligadas as câmaras, ele próprio nos confessa a tristeza que sentiu. Já a Ann-Kristin não cabia em si de contentamento pela vitória conseguida, com a ajuda da jovem Maria, uma prima do namorado, por terem apresentado três propostas deliciosas em apenas sessenta minutos. É que a vitória na primeira das provas é sempre garantia de vantagem para a seguinte.
E esta desenrolou-se na terra da Cátia: Cascais. Foi junto à Câmara da vila e à estátua que celebriza a figura de D.Pedro I, o mesmo que tirou os cascaenses da sujeição de Sintra ao elevar o lugar à condição de vila, que recebemos os concorrentes e lhes propusemos como prova de equipas um desafio diferente. A ideia era que desta vez fizessem “fingerfood”, paparoca de comer com as mãos, e que a vendessem a turistas ou outros passantes, tudo pela vitória mas mais ainda pelo CRID – Centro de Reabilitação e Integração de Deficientes, para o qual haveria de reverter o total das verbas obtidas.
Ann-Kristin teve a primazia de escolher a equipa com quem queria trabalhar e logo optou por quatro pesos-pesados desta competição (chamem-lhe parva!): Silvia, Leonel, Cátia e Manuel. Já lho havia dito: para além de cozinharem muito bem, os concorrentes desta segunda série de MasterChef, desde cedo se revelaram sabedores do jogo e das suas subtilezas. Mas mesmo assim ainda é possível surpreendê-los quando já acham que sabem tudo. Então não foi que trocámos as volta à bela da dinamarquesa e ela acabou a capitanear a equipa dos “rejeitados”, e ainda por cima sem a Marita, por esta se ter sentido mal. Confesso que me divertem estas marotices do MasterChef.
A prova foi atribulada com correria até ao mercado da vila, em boa hora recuperado e revitalizado, para o abastecimento do peixe necessário, e desnorteio nas bancadas de trabalho. A meio da prova, a bem dizer, ambas as equipas mudaram de estratégia e de pratos. Temi o pior ao ver que a equipa vermelha (à partida a mais forte, dado os concorrentes que a compunham) nada tinha para vender concluído o tempo da prova, já a equipa adversária, entretanto, se havia organizado e se bem que uma ou outra das suas sugestões culinárias não tivessem a saída pretendida, logo souberam captar a atenção do possíveis clientes, assumindo uma postura aguerrida e indo ter com eles a ponto de pararem o trânsito. E não é que foram bem sucedidos!? Feitas as caixas e ainda que por uma pequena diferença, ironia das ironias, a equipa da Ann-Kristin, composta pelos elementos que menos lhe interessavam como parceiros, revelou-se melhor no negócio e assim ganhou o desafio.
Saí de Cascais, uma vez mais, encantado com a diversidade que esta tem para oferecer a quem a visita, entre a sua história como vila de pescadores e de veraneio, muito apreciada pela corte portuguesa, ao tempo de D.Carlos e D.Amélia, a sua cultura, de que o recente bairro dos museus é expoente máximo, e a sua gente amável, não menos importante património. Por outro lado, saí dali muito preocupado com a Marita, e o caso não era para menos: antes mesmo da última das provas, ficámos a saber, pela própria, da sua impossibilidade em manter-se na competição por motivos de saúde. Pela Marita ganhei profunda estima e admiração. Em momento algum recuou perante as dificuldades da competição, independentemente da sua incapacidade auditiva. Nunca a tratámos de modo diferente, nem ela o teria permitido. Sei do que disse na casa, aos colegas: “se eu perceber que sou beneficiada, a ponto de serem menos exigentes comigo, por ter as dificuldades de audição que todos sabem, eu saio da competição!”. Saiu sim, mas por ter soçobrado ao cansaço e à pressão com consequências nefastas para a sua saúde. Recordo a sua tranquilidade, doçura e um inesquecível arroz de fumeiro! Muito obrigado Marita por me ter dado oportunidade de a conhecer.
Como se não bastassem todas as emoções havidas, este nono programa ainda nos reservaria o mais terrível dos desafios: “macarrons”!
Passo a explicar: é um pequeno bolo redondo, com recheio, e entre três a cinco centímetros de diâmetro, especialidade da Lorraine mas muito apreciado em toda a França. Sou doido por “macarrons”, sendo que para mim os melhores são os de Pierre Hermé, celebrado chef confeiteiro que chega ao ponto de criar, em cada Primavera/Verão e Outono/Inverno distintos e surpreendentes sabores, tal como se fosse uma nova colecção de moda. Fazê-los não é coisa fácil, é parecido dominar as técnicas para que o bolo resulte crocante, com uma espécie de “renda” em toda a volta, na união das duas metades, e seu recheio seja cremoso. Eu próprio fiz uma aula de “macarrons”, na escola de cozinha de Alain Ducasse, em Paris, e ainda não me atrevi a passar à prática.
Nenhum dos concorrentes havia anteriormente experimentado fazê-los e por isso se instalou o pânico na cozinha do MasterChef. A Silvia, uma vez mais numa prova de eliminação, foi das que mais desesperou com problemas na massa e sobretudo no momento de os embalar, conforme era exigido, mas, surpresa das surpresas, não é que consegue a melhor das receitas, quase perfeita!!! Sorte de uma primeira vez ou o triunfo da persistência? Certo é que é a minha concorrente favorita, pela graça, pela força, pela espontaneidade. Pena que não seja tudo isso que esteja a ser avaliado. Desta foi o Leonel a sair, não havia como escapar, tal o desaire da sua prova, ironicamente um doce, logo ele que nas coisas de açúcar vê a sua maior vocação. Ainda me lembro do seu delicioso bolo de especiarias, com gelado, servido no estádio do Jamor.
Pesarosamente o vimos deixar a competição. Encantou-nos o seu jeito elegante de ser e de se posicionar face ao jogo e aos colegas/adversários. Em momento algum o vimos fomentar intrigas ou perder tempo em algo que o desviasse do objectivo: ser capaz, ultrapassando os diversos desafios, de ir mais além. Nem de outro modo poderia ser para quem já tinha mostrado a sua nobreza ao abdicar de salvar a sua própria pele, quando o poderia ter feito, optando por safar dois colegas de uma prova de eliminação. Foi bom tê-lo connosco durante nove semanas, honrando o que pensamos ser a verdadeira fibra de um transmontano.
Na próxima semana:
Facas, uma cozinha dividida a meio e muitas estrelas para alimentar.
Não chega para o(a) agarrar ao próximo programa? Então, acrescento outro ingrediente não menos importante: repescagem!
Boa noite! Ou, melhor direi, boa madrugada Mlg!
É um enorme prazer vê-lo e lê-lo em qualquer circunstância.
O meu nome é Eugénia e, permitindo-me dar um pouco de gostinho ao dedo indicador, gostaria apenas de partilhar o meu apreço por programas onde a supremacia do ser humano é, de igual modo valorizada e em paralelo com o fracasso. Estas duas, digamos, experiências, as quais permitem-nos que cresçamos e nos tornemos “grandes” são, muitas das vezes, encaradas pelos outros “mesquinhos” seres, de forma depreciativa, e permitindo-se a eles mesmos, sim, esses que nunca e nada experimentam (por medo, cobardia, ressabiamento e falta, até, de amor próprio) apontar o seu dedo de forma bem aguda, o trabalho de quem, pelo menos, tenta!
Trabalhei alguns anos com o Pedro. Na altura, era um jovem ainda “verde” mas com humildade qb e avidez suficientes para aprender a crescer e saber “mais”!! Os seus olhos, sempre brilhantes, plenos de entusiasmo e de vida, contagiavam as crianças de quem cuidava… e, em pouco tempo, o seu colo, carinho e gentileza eram notados por todos! Em poucos dias, já o sentia da família…
Tenho pena dos que, cegos de preconceito, invejam os que (à sua maneira, é certo) se levantam do seu conforto, arregaçam as mangas e lutam!
A esses mesquinhos, apenas digo:
– Comprem um creme gordo! Um que seja ótimo para os vossos cotovelos!
Mlg, Obrigada.
GV
Olá, queria dizer que gosto muito do programa e que gosto muito de si . Gosto da forma como cativa as pessoas. Adoro o seu sentido de humor e de como se apega às pessoas ! Um dia hei-de conhecê-lo ! Beijinhos e um abraço dos Açores. Tudo de bom 🙂
Obrigado pelas suas amáveis palavras. Um beijo
Caro Manuel Luís.
Muitos parabéns pela qualidade do programa. Sou fã desde a 1ª temporada. O episódio de sábado foi muito emocionante pela presença dos filhos (e não só), dos concorrentes. Um misto de emoção e divertimento. Tenho pena que tenha saído o Leonel, mas como já referiram aqui, nesta fase, todos merecem ficar. Obrigada
Obrigado Ana Maria pelo seu comentário. Não perca o próximo programa. Tenho a certeza que vai gostar.
foi um encanto com as crianças, principalmente com o filhote do Pedro…talvez por ser o mais pequenino… e foi de uma ternura vê-lo com ele ao colo… e suas palavras p concorrente q saiu foi emocionante… Ps: pena a desistência, acontece!
abraço
Foi muito duro para a Marita. Também tive pena de a ver desistir. Obrigado pela suas palavras.
Sr.Manuel Luis Goucha raramente comento mas neste caso quero fazê lo Parabéns por ser a pessoa que é um verdadeiro cavalheiro com classe requinte educação gentileza sensibilidade um Senhor de verdade gostaria que muitos dos jovens deste Pais vissem em si um exemplo a seguir … Parabéns pelo seu Cabaré e votos de continuação de muitos muitos sucessos.
Ana Melita
Muito obrigado pela generosidade do seu comentário. Um bocadinho exagerado talvez, mas soube-me bem.
Caro Manuel sou sou admiradora pelo ser humano que é, pela classe e cultura que tem e pelo muito que respeita todos com quem se cruza. Consigo aprendemos sempre. Leio deliciada os seus artigos e viajo com as suas fotos. Bem haja
Obrigado Olga pela simpatia do seu comentário. Fico contente por gostar deste blogue.
Sem dúvida… uma barrigada de emoções…. ADOREI! E como sabe o Leonel era dos meus preferidos pela. sua postura. mas o grupo de 4 onde estava na eliminatoria é muito bom. Ganhou a Silvia que é uma “força da natureza”…e de quem também gosto. Outro por qum “torço” sempre é o Marcio….. mas há mais… o Pedro, o Manuel…… Definitivamente amo os sabados a noite….. AMO o programa.
Parabens MLG que não sendo Michelin é um ESTRELA de 1ª grandeza em carinho e doçura!
Isabel santos
PARABENS
Obrigado Isabel.
O programa tem de ser visto com objectividade e não com a emoção. É uma competição de cozinha e não de personalidades ou caracteres. O Leonel, que revelou ser um jovem de princípios, não era um concorrente estável. Que ganhe mesmo o melhor ou a melhor, em termos culinários, independentemente do seu feitio. Um beijo
Caro Manuel Luis, mal acaba o programa corro logo para o seu “cabaret” para ler as suas palavras sempre tão acertivas.
Tenho pena que o Leonel tenha saído, já que era um dos meus favoritos… Mas nesta fase, já todos merecem ficar.
Vemo-nos para a semana!! Já estou ansiosa!
Não imagina como fico contente Ana Barata, por entrar no meu cabaré. Então até para a semana. E olhe que vai ter uma surpresa no MasterChef.