Já votei

Já votei. E com direito a jornalistas, fotógrafos e câmaras de televisão? Claro que não, todo esse arsenal era para António Costa que, pelos vistos, vota na mesma mesa. Há muito que vivemos na mesma aldeia, do concelho de Sintra, mas nunca ali me havia visto perante o “circo” da comunicação social, em dia de eleições, por só recentemente ter actualizado o meu recenseamento enquanto eleitor.

Votei então, desta vez, na … (calma , que o voto é secreto) União Recreativa e Desportiva de Fontanelas e Gouveia, sim que a mesma colectividade serve as duas aldeias ligadas entre si, geográfica (uma pega-se à outra) e toponimicamente, já que não há na rua ou praceta que não se apresente em verso. Isso deve-se a José Valentim Lourenço, apaixonado pelas coisas da(s) terra(s) e prematuramente desaparecido. A sua qualidade como cidadão interessado perpetua-se num busto erigido em Gouveia. Cheguei a conversar com ele no “Praça da Alegria”, mal eu sabia que viria aqui parar. A ele deveu-se também o início das representações de cegadas e revistas na colectividade, se bem que esta já tivesse todo um palmarés ligado à música e aos bailaricos.

Votei, por ser esse o meu dever cívico e por assim me sentir legitimado a dizer o que penso de quem nos governa e de como somos governados.
Fi-lo, porém, com desalento, longe dos tempos em que a política e vários dos seus protagonistas me empolgavam. Serviu esta campanha eleitoral para esclarecer e informar? Claro que não … há muito que as campanhas eleitorais não servem para isso. Perdem-se assim duas semanas que deveriam ser valiosas para argumentar de forma honesta e credível e propor, objectivamente, soluções e alternativas. A conversa acaba sempre por ser a mesma de eleições anteriores, num “bota-abaixo” estéril que nada contribui para a dignificação da política e de seus fazedores.

Sou dos que acompanha atentamente os tempos de antena, comícios, ou o que nos mostram deles, e debates. E uma vez mais senti que tudo ficou por dizer em relação a medidas concretas para sectores que me interessam e tenho como fundamentais em qualquer sociedade que se quer humanista, moderna e competitiva: Educação, Saúde, Justiça e Cultura. Não, gastou-se o tempo na habitual tentativa de culpabilização do adversário: “quem é que chamou a troika”, de quem é a culpa de estarmos como estamos”, blá, blá,blá,blá… Há muito que sabemos que a culpa é de quantos nos governaram em conluio com banqueiros ávidos de lucros e gestores sem visão, governantes que gastaram o que não tinham para satisfazerem os interesses dos seus partidos, da finança e da especulação. Sabemos de tudo isso e muito mais. E não levantámos a voz para os impedir ou, pelo menos tentar. Essa é a “nossa” culpa.

Não é chorando “sobre o leite derramado” que se reergue um país, quero é que me apresentem propostas credíveis. Por isso regozijar-me com o aparecimento de novos partidos ou movimentos cívicos e protagonistas. Mas até nestes, que esperava um discurso novo, de futuro e esperança, não o encontrei, perdidos que se acharam na lengalenga do costume, ora demagógica, ora irrealista. É a caça ao voto!

Votei, porque não quero pertencer ao “partido” da maioria (ao que chegámos, tantas as mentiras que nos contam): o da apatia, o da abstenção. Não creio que seja a possibilidade do voto electrónico a resolver a abstenção, antes a qualidade, verdade e transparência da política e seus intervenientes.

Votei, porque esse é um direito e um poder que a Democracia me dá. Em liberdade, em consciência e no respeito por tudo o que nos distingue e diferencia.