Fui a Copenhaga, pela primeira vez, em 1988 e a precisão da lembrança deve-se ao facto de ter então saboreado a reconstituição da ementa servida por Babette no filme dinamarquês, oscarizado nesse mesmo ano como o melhor da estranja (“A festa de Babette”, a partir da obra de Karen Blixen).
Da cidade, guardei a imagem das cúpulas verdes, a sensação agreste dos ventos do norte e a ideia dela ser plana e por isso muito convidativa para quem gosta de “ir a penantes”. Vinte e cinco anos depois voltei, talvez para confirmar o que antes havia experimentado. E sim, mantém-se o verdete das cúpulas, por oxidação do cobre de que são feitas e os ares do norte continuam vigorosos (tanto melhor para um país que pretende ser alimentado, energeticamente, pelo vento). Já o Tivoli, o parque da cidade inaugurado em 1843, que então me havia seduzido pelas suas luminárias, me parece agora pouco mais que uma feira popular sofisticada, independentemente de manter profícua oferta cultural, convenhamos que nem sempre de insuspeita qualidade. Não me peçam é para falar da “Pequena Sereia”, que já então a tinha achado ridícula, e o mesmo penso do bruxelense “Manneken Piss”. Fiquei foi a saber que já lhe cortaram a cabeça por duas vezes, mas… ela resiste.
Também não encontrei na arquitetura clássica o arrebatamento que sinto em muitos outros centros históricos, talvez por se fazer notar um passado de dificuldades e contenções, até mesmo ditadas pelo luteranismo dominante.
Melhor era virar-me, então, para o que de novo se foi construindo, que aí, sim, não faltariam motivos de júbilo. A começar pela deslumbrante Ópera, inaugurada em 2005, junto ao porto da cidade. A obra revestida a pedra calcária alemã é de Henning Larsen, proeminente arquiteto dinamarquês, e completa surpreendentemente todo um eixo constituído pela barroca MarmorKirken (Igreja de Mármore) e pelo Amalienborg Slot (residência oficial da rainha). Consegui bilhetes para o “Tríptico”, obra curiosa de Puccini, por se tratar de três operas, todas elas de um acto, que em nada se ligam, sendo que a última, “Gianni Schichi”, é talvez a mais conhecida, pela maravilhosa ária “O mio babbino caro” que me deixa sempre em lágrimas.
Já no Det Kongelige Teater (Teatro Real) pude assistir ao Ballet Real da Dinamarca, uma das mais antigas e celebradas companhias de dança clássica do Mundo (1748). Naquela noite, por uma feliz coincidência, também Margarida II assistiu ao espetáculo, no camarote real, e deu para perceber o respeito e carinho que os dinamarqueses sentem pela sua rainha, ela própria amante das artes e interveniente enquanto cenógrafa, pintora e ilustradora.
Há dois meses que estava na lista de espera do “Noma”, tido como o melhor restaurante do Mundo, em 2010, 2011 e 2012 (este ano acaba de perder um lugar no pódio, tenho para mim que devido a um recente caso de intoxicação alimentar ali ocorrido), que marcações só mesmo para o final do Verão que ainda nem começou. E não é que por desistência de dois comensais, ali me amesendei no meu último dia de férias!!! Acredite! Paga-se uma nota preta, é certo, mas a experiência é única. O conceito consiste em trazer para a cozinha matérias-primas estranhas e diferentes, como raízes, musgos, folhas…
Entre divertimentos de boca e outras sustanças, a degustação contempla vinte títulos e combinações, acompanhados por uma seleção de nove vinhos (entre alemães, franceses e italianos – de estranhar é a ausência neste restaurante, como em qualquer outro em que tenha estado, de vinhos portugueses, quando estes competem com os melhores do Mundo), resultado de um intenso e apaixonante trabalho laboratorial e de experimentação que antecede o da própria prática culinária. Tal como na “Festa de Babette”, é a cozinha inspirada, criativa, feita com enlevo, a quebrar regras e a rasgar mentalidades.
Ópera, Ballet e o restaurante Noma ou como, numa cidade que não será de todo das minhas preferidas, acabei por viver uma semana memorável.
Notas à margem:
– Sempre que viajo, gosto de vasculhar e encontrar na História factos que nos liguem aos povos que visito. Berengária foi filha do primeiro dos Sanchos, nossos reis, logo neta de Afonso, o Conquistador. E foi rainha da Dinamarca, ao casar em 1214, com Waldemar II.
– De estranhar o facto de não ter encontrado no “Noma”, ou em qualquer outro restaurante de Copenhaga, vinho português, quando sabemos que o temos tão bom quanto os melhores do Mundo. Que continua a falhar na promoção, no exterior, do que de melhor podemos oferecer? Não deveria caber à diplomacia também esse papel?
– Há sempre um português! Leonardo, assim se chama este jovem de 28 anos, natural de Santa Maria da Feira. No restaurante “Noma” é ele quem procura os produtos que depois hão-de ser estudados, avaliados e experimentados, muito antes de se apresentarem no prato.
Foi a Copenhaga?é que não me passava pela cabeça(ihihihihi)amei as fotos e sei que se divertiu e claro uma ópera que degustou cada minuto.Eu por acaso antes preferia degustar essas iguarias que estão nas fotos!adoro dar conhecimentos á minha gula.beijo grande
Esta salada deve ser deliciosa…vou experimentar.
Olá Manel Luís!
Tenho 25 anos e não me custa nada dizer que o admiro imenso! Tanto a si como a Cristina. Sou Enfermeira e neste momento estou à espera do dia em que vou trabalhar para Inglaterra e espero um dia ser um bocadinho culta como você, pelo menos é também por isso que luto na vida. Por um futuro profissional e familiar mas um futuro rico em sabedoria que sem ela, não somos nada. Vocês nestes meses de desemprego foram grandes amigos de todos os dias! E como na tv e no vosso facebook são aos milhares a dizerem as mesmas coisas resolvi vir aqui ao cantinho agradecer-lhe por isso. E pela sabedoria de todos os dias, porque seja o que for, aprendi sempre alguma coisa convosco. Vou continuar a ver-vos sempre que me for possível! Um beijinho grande do Porto 🙂 Filipa Martins
Desejo-lhe o melhor da Vida. Um beijo
fantastico ..
Oi Manel Goucha parabéns você é um sortudo mas merece porque nestes tempos difíceis os Portugueses necessitam de si porque transmite esperança e boa disposição , e faz esquecer os males da crise que felizmente não o afecta.
Adorei visitar o site, desejo-lhe muitas felicidades e continue assim como é. Um grande beijinho
Meu querido tudo bem?
Nossa que delicia ler o relato da sua viagem!!!!!
Não preciso nem perguntar se foi boa 🙂
Quando nos enontramos?
beijinhos
Ah!!! amei o Cabaré do Goucha
Parabens Manuel Luis..um homem culto como o senhor so podia viajar assim..parabens mais uma vez pela pessoa que è..um beijinho meu levado pelos ventos de Bruxelas..P.S. jà agora aproveito para lhe dizer,que se ainda nao conheçe Bruxellas..venha..visitar vale a pena ..esta cidade linda e tao cheia de beleza,cultura, mistèrio,etc…bem-aja.
Olá Beatriz
Já estive algumas vezes em Bruxelas mas tenho a sensação que não conheço a cidade como ela merece. Por isso quem sabe….Um beijo para si.
Obrigado Manel Luis por partilhar essa sua viagem.Adorava puder degustar esse tipo de comida,arrojada e diferente.Tudo de bom para si.Um beijinho…
A comida é saborosa ou curiosa/diferente? Nunca experimentei nada do género e não imagino como seja. Parece-me tudo muito estranho!
Acho muito interessante as dicas que vai dando sobre as cidades que visita, quem nunca teve oportunidade de ”ver” (pelo menos parte (da)) a cidade fica a conhecer sobre o seu ponto de vista, que na minha opinião é muito interessante!
Obrigada!
Parabéns Manuel Luiz e obrigado pelos detalhes da sua semana de férias.
Desejo-lhe muita saúde para poder fazer muitas mais.
Um beijinho com muita admiração
Olá Manel Luís
Foi um gosto visitar o site.
Já esperava encontrar nele alguma coisa diferente,e foi isso
mesmo.Vindo do Manel só podia,obrigado por partilhar,gostei.É de longa data a minha admiração por voçê,um homem inteligente
culto interessante,e que aprendeu a brincar.Parabéns por ser quem é.Beijinho e felicidades…