À espera de um “milagre”!

Já lhe disse várias vezes que gosto muito de arte sacra. A representação artística da Fé é algo que me toca profundamente, sobretudo pela sua estética, por isso não há terra que eu visite, por cá ou na estranja, em que não entre nas suas igrejas ou catedrais e tanto melhor se tiverem os seus próprios museus. Sobre essas visitas são vários os escritos e fotos que neste blogue pode encontrar.

No dia em que Monforte celebra a sua padroeira, a Senhora do Parto, fazendo-a sair da Matriz em procissão, quis escrever sobre o património em arte sacra que a vila guarda mas não mostra porque a necessitar de muitos cuidados de restauro ou pelo menos de limpeza (e antes esta que um ignorante restauro!). Resultam as peças, muitas de interesse e valiosidade artística inegáveis, das igrejas do concelho que actualmente se encontram fechadas ou desactivadas. São vários os templos que Monforte teria para mostrar não estivessem fechados, por necessitarem, também eles, de intervenção. Logo à entrada da vila, quem vem de Portalegre surpreende-se pelo conjunto de três que o terreiro exibe, o de Nossa Senhora da Conceição, o do Calvário e o de São João Baptista, estão de cara lavada, é certo, por decisão da autarquia, porém fechados, porque o seu interior necessita de demorado e aplicado restauro. Gonçalo Lagem, o autarca de Monforte, é um homem interessado e empenhado na defesa dos patrimónios que lhe foram confiados pelo voto popular, já vai em dois mandatos, procurando apoios para a sua preservação e dinamização, mas estamos a falar de verbas avultadas e neste caso de peças que pertencem à paróquia e não à autarquia. Outras de igual modo valiosas e devidamente inventariadas estão guardadas num banco, dizem-me que até jóias ofertadas por devoção, à espera de melhores dias, quando for possível um pequeno espaço onde tudo possa ser mostrado a quem como eu é devoto da Arte.

Ali na vizinha Arronches foi o que aconteceu: no coro alto da Matriz criou-se um espaço museológico com peças de arte sacra, a maior parte dos séculos XVII e XVIII, tiradas do abandono e vandalismo, acima de tudo por vontade da autarquia.

Tenho a certeza que Gonçalo Lagem conseguirá idêntica façanha, não lhe falta vontade em pôr o concelho nas “bocas do mundo” pelos melhores motivos: veja-se o caso dos 16 painéis azulejares, do século XVIII, que representam passagens da vida e milagres atribuídos a Isabel de Aragão, mulher de D.Dinis, o rei poeta e lavrador. Propriedade da Misericórdia de Monforte, foram retirados da nave da igreja do convento do Bom Jesus, demolida em 1946 e até então totalmente revestida de azulejos (como seria bela!). O convento requalificado em 2005 era onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal. Um ano depois estava o Município, era o actual presidente o então vereador da cultura, a celebrar um protocolo com a Santa Casa no sentido de os inventariar, desencaixotar (houve anteriormente alguém com sensibilidade para assim os guardar e conservar) e remontar, dando-lhes dignidade e visibilidade. Um deles é visível ao público agora no âmbito das festas de Monforte, no antigo Hospital da Misericórdia recentemente recuperado e requalificado como Centro de Formação, Educação e Universidade Sénior, mas em breve todos estarão em espaço digno e reabilitado para o efeito, remontados e estudados por quem sabe (Prof. José Meco, historiador de artes decorativas e nomeadamente de azulejaria, e Prof. Maria de Lurdes Cidrães, investigadora de Literatura Portuguesa e grande conhecedora de temas ligados à vida da Rainha Santa, leia-se a sua obra “Os Painéis da Rainha”, sobre os azulejos que revestem a capela da Rainha Santa, em Estremoz).

Serei então o mais entusiasta dos monfortenses, ainda que adoptivo, aplaudindo a iniciativa da Câmara e tudo farei para divulgar um património azulejar de que Monforte se deve orgulhar, esperando um dia fazer o mesmo com toda a arte sacra que, agora esquecida e a necessitar de cuidados, pode botar a vila no roteiro de muitos visitantes interessados. Antes que alguém se aproveite e se “abotoe” com uma ou outra peça. Lá diz o povo, alentejano ou não, que “o seguro morreu de velho!”.

4 comentários a “À espera de um “milagre”!

  1. Catarina Duro

    Muito grata pela sua divulgação da minha terra , das coisas boas que tem e das menos boas, porem com um Presidente tão empenhado temos esperança que Monforte está a sair da “gaiola”, com a sua preciosa ajuda ainda melhor será . Bem haja.

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  2. Helena Loureiro

    Olá.

    Pode ser que reunidas várias forças, ( privadas e publicas) os milagres por este pais aconteçam.
    Vamos fazer força.
    Helena

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