Uma ida à Igreja e ao Museu de São Roque é das poucas memórias que tenho com o meu pai em Lisboa, por certo durante umas férias com ele passadas. Conservo também na lembrança que a primeira vez que fui ao Convento de Mafra foi pela sua mão, eu não teria mais de nove, dez anos. Passado que é tanto tempo ponho-me para aqui pensar: afinal que homem era este que, involuntariamente (seria?) iniciou-me na arte de olhar, de observar, de contemplar e até de desejar. Porque me levou a tais locais se sempre o pressenti indiferente em relação à Arte?! Foi-se o tempo de o descobrir!
Não mais havia entrado em São Roque, restava-me apenas uma sumida imagem dos dourados da talha, das esculturas e dos paramentos que templo e museu exibem. Foi desta, tanto o desejei, sempre que apressadamente por ali passava. Comecei pelo Museu onde antes era a Casa Professa dos Jesuítas em Lisboa, nada tendo a ver com o projecto original à data da inauguração, sob a presença de D.Carlos e D.Amélia, em 1905, nem mesmo com as sequentes remodelações de 29 ou de 68. O notável acervo que mantém a particularidade de não ter sido desagregado do monumento que lhe esteve na origem, muito por via da sua doação à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por vontade de D.José, em 1708, apresenta-se-nos em três níveis espaciais, seguindo toda uma lógica temática e cronológica. De realçar o notável conjunto de relicários presentes no Museu e na Igreja, chegados aos nossos dias por doações várias e pelo facto da Ordem ter sempre dado grande importância ao culto das relíquias. Guardam-se estas em delicados bustos, sacrários, arcas, custódias, caixas … feitos em ouro, prata, madeiras raras e pedras preciosas.
É na Igreja que o meu olhar se esbugalha, particularmente no barroco de várias das suas capelas. Triunfo de ouro, devoção e talento ali a Arte toca o Divino. Assim proclamava a Igreja o seu poder contínuo ao passo que quem governava, de forma absoluta, realçava a sua autoridade na terra e a riqueza das suas posses. Eternamente apaixonado pela grandiosidade e exuberância do Barroco, por ele me deixo subjugar. Não era essa a intenção?
Em andando pelo Chiado, ao Largo Trindade Coelho, também conhecido pelo Largo da Misericórdia ou até Largo do Cauteleiro, não deixe de admirar o que outros nos deixaram de Belo … para cuidar, honrar e divulgar.
Igreja e Museu de São Roque
sábado 10.00-18.00/domingo 10:00–18:00
segunda-feira 14:00–21:00/terça-feira 10:00–18:00
quarta-feira 10:00–18:00/quinta-feira 14:00–21:00
sexta-feira 10:00–18:00
Boa tarde
Mais um post fantástico. Obrigada. Quando estava a ler lembrei-me de uma frase sua que ouvi na semana passada no Você na TV, que já não visitava Bragança há algum tempo. Tenho a certeza que iria gostar de ver o Museu Abade de Baçal (entre outras coisas). Beijinho
sofia
Olá Manuel.
Adoro as suas visitas, esta então está cheia de riqueza, imagens lindas.
Nós temos um património magnífico.
Beijo
Maria
Manuel
Adorei!
Bom entrar aqui e puder beber a sabedoria das suas palavras, observar o belo viajar consigo no tempo e espaço.
Transcrevo algo o que vai fazer pensar, refiro-me aos 1º parágrafos que escreveu.
-Queres dizer que o rio está em toda a parte ao mesmo tempo, na nascente, na foz, na catarata, no molhe, na corrente, no oceano e nas montanhas, em toda a parte, e para ele existe apenas o presente e não a sombra do passado, nem a sombra do futuro?
Exatamente . E quando aprendi isso passei em revista a minha vida e ela também era um rio, e Sidaddharta moço, Siddharta homem maduro e Siddharta velho encontravam-se separados apenas por sombras e não pela realidade.
O diálogo entre Siddharta e Vasudeva é sublime, merece ser lido e relido como aprendemos aqui.
Abraço
Carla
Às vezes acho que falta aqui aquele botão que existe em alguns blogues de “favorito” em que clicamos para mostrar o quanto gostamos dum post, este seria um dos meus favoritos!
Olá Manuel Luís, obrigado por partilhar connosco, eu sou de Lisboa e tenho o previlegio de conhecer várias igrejas e museus, eu gosto muito de quando vou a algum lugar dar uma vista de olhos nas igrejas e monumentos, por isso eu entendo muito bem o que você quer dizer, beijinhos.
Também já andei numa fase de visitas a museus Lisboetas e o museu de Arte Antiga é aquele, onde nunca me canso de voltar, mas de facto, não conheço a Igreja de São Roque que é, sem dúvida, um verdadeiro” banho” de Barroco. Vou colocá-la na minha lista de visitas culturais.
Lucinda Pereira
Boa noite Manuel Luís Goucha Obrigado pela partilha adorei esta visita virtual desde da história ao museu e as maravilhosas fotografias o meu muito obrigada mais uma vez e uma noite de descanso