Ouvir um repórter dizer em directo que “um jovem conduzia debaixo de álcool”, em vez de “sob o efeito de…”, “no auto-estrada”, quando qualquer miúdo de nove anos (acho eu) sabe que o substantivo é feminino, e que “quando o mesmo for presente ao juiz verá-se qual a medida de coacção aplicada”, quando “ver-se-á ” é que seria a conjugação correcta, leva-me a reflectir sobre o tipo de preparação que alguns profissionais da comunicação social têm.
Sou do tempo em que a formação fazia-se na tarimba, já que não havia cursos de comunicação social, tampouco levas de pretensos candidatos ao estrelato. Quem tinha unhas é que verdadeiramente tocava guitarra, o que não obstou a que fizessem carreira de forma exemplar, porque não se acomodavam, porque se revelavam homens e mulheres de cultura, muitos profissionais que hoje continuam sendo para mim fonte de inspiração.
O português, como se já não bastasse a colonização anglo-saxónica a que está sujeito, sofre, cada vez mais, verdadeiros “tratos de polé” por parte de quem o devia cuidar, preservar e dignificar. Ou não fosse ele a matéria-prima com que trabalham.
Culpa do repórter? Não! Culpa de quem faz de conta que não vê e que não ouve. Culpa do estado a que isto chegou: excelência é um conceito que pouco vale. Não está em causa a pessoa em si, não a conheço, está em causa, sim, a dignificação de uma categoria profissional indispensável a uma sociedade democrática. Está em causa sim o brio que devia estar presente na vida de qualquer um de nós, independentemente do que façamos. Está em causa a nossa língua, pátria no dizer inspirado de Fernando Pessoa, de que tanto nos devemos orgulhar. Quem fala em público, e quem escreve para o público, tem o dever de cultivar o bom e escorreito português. Quem se apresenta perante um auditório tem de saber o que está a dizer. Por isso há um caminho que nunca está percorrido: o da observação, o da formação, o da procura. Com os outros, os que nos acrescentam, com os bons livros, com a imprensa digna e credível, se aprende. É nisto que acredito, e esta é a minha fé, por isso a defendo mesmo sabendo que estou a pregar no deserto.
Gostaria de saber que livro recomenda para se entender melhor quando se utiliza o hifan em algumas palavras?
Creio que a sua dúvida é se colocar o hífen em palavras como chamasse ou chama-se. Se assim for, não precisa de nenhum livro (aliás o livro iria explicar-lhe a diferença entre tempos verbais, o que poderia ser confuso).
A minha dica é que passe para a negativa a frase. Se o “-se” (ou a expressão em questão) passar para trás do verbo, então é obrigatório colocar hífen; se o “se” se mantiver no mesmo lugar, a palavra não leva hífen.
Por exemplo:
Se ele chamasse o professor, o professor iria ajudá-lo.
Se ele não chamasse o professor…
O meu amigo chama-se João.
O meu amigo não se chama João.
Espero ter sido útil! (E creio que o Manuel Luís não levará a mal a minha intromissão).
Obrigado pela partilha Rute.
Já agora, e quando são palavras com hífen mas com “te” em vez de “se” no fim?
Funciona do mesmo jeito:
Comeste a sopa? Não comeste a sopa?
Ouvi-te ao telefone. Não te ouvi ao telefone.
Bom dia!
Acompanho o Você na TV e outros programas da TVI onde o vejo e reconheço assim como louvo o seu esforço na defesa da língua portuguesa. Acho muito bem que não recorra a estrangeirismos, é um comunicador nato e também escreve muito bem.
Agora os dois jornalistas que o Você na TV tem por lá e que fazem umas peças ou exteriores, um normalmente na rubrica Casos Criminais e o outro em rubricas diversas são bastante limitados. Admito que o Você na TV possa ser uma porta de entrada para muitos jovens recém licenciados e que todos cometemos erros, (eu então é um fartote; por isso não sou jornalista nem estou diariamente em canal aberto), mas sinceramente é confrangedor. Erros de concordância, utilização repetida de muletas linguísticas, o recurso ao pleonasmo, para nem falar do “houveram” ou das vezes em que o discurso emperra…
Aproveito a sua última frase, “É nisto que acredito, e esta é a minha fé, por isso a defendo mesmo sabendo que estou a pregar no deserto.”, para pedir-lhe que pregue um bocadinho na redacção ou reunião do programa pois assim talvez possa contribuir para a formação de profissionais melhores.
Um Abraço.
Manuel
Primeiro quero desejar-lhe um feliz 2015, continue com a sua boa disposição, a ser genuíno com é!
Já ouvi uma pivô a dizer ” foi matado” em vez de foi morto.
Concordo 100% com a sua frase:
“Quem fala em público, e quem escreve para o público, tem o dever de cultivar o bom e escorreito português.”
A leitura, ter o hábito de ler bons livros é caminho para melhorar significamente a escrita como a fala.
Quando estou cansada mentalmente, já dei por mim a trocar letras e dizer mal as palavras, talvez seja o caso dos jornalistas…
Carla
Olá Manuel Luís, eu sei que ás vezes há pessoas que dão erros no Português, elas não têm a culpa de se enganarem na escrita das palavras mais importantes. A mim graças a Deus, que não acontece nada disso, porque eu sempre escrevi bem e ainda para mais o meu pai é professor de Português. Há dias ia a caminho do meu local de trabalho e vejo isto ” Encerrado para Remudelação”. A frase correta é ” Encerrado para remodelação”. Outra situação que é caricata é uma pessoa perguntar o seguinte ” Onde é que tu vais?” ” Vou a subir para cima” ou a ” descer para baixo”. São estas as situações mais caricatas que reparo muitas das vezes.
Um abraço grande para si deste seu fã e também fã da Cristina Ferreira.
Não concordo com a expressão “no meu tempo é que era bom” (e pelo que vejo no seu programa, o Manuel também não). Por isso, não penso que antes de existir uma licenciatura destinada à formação de jornalistas (que atualmente já não se chama Comunicação Social, mas sim Ciências da Comunicação, curiosamente), a língua portuguesa fosse melhor tratada. Os erros dados é que eram diferentes. Das gerações mais antigas, ouvimos às vezes (demasiadas) “hades”, mas nos jovens encontram-se outros erros, como “tênhamos”. No entanto, parece-me que os erros no português falado são menores nos jovens do que nas pessoas mais velhas. A situação inverte-se no português escrito, onde as incorreções são muitas e frequentes, principalmente na internet. Eu que o diga, que tenho 18 anos e embirro com as abreviaturas que os meus amigos usam até eles, de tão fartos, se renderam ao bom uso da língua portuguesa.
Por curiosidade, gostava de saber porque é que o Manuel ainda usa o acordo ortográfico antigo. Isto, porque na escola já se usa o atual há vários anos, por isso eu já estranho quando vejo um “c” ou um “p” a mais.
Atenção: também não se diz “melhor preparada”, mas sim “mais bem preparada” …
Não são só os repórteres em directo que dizem asneiras de palmatória. Quantas vezes as notas de rodapé sofrem de mal idêntico, desta vez escrito. Continue com as chamadas de atenção mesmo pensando que brada no deserto. Cumprimentos.
O meu comentário vai na tentativa de vos fazer chegar um pedido simples de ajuda – mas concordo como sempre com o Manuel – além das abreviaturas pergunto a mim mesma se não têm um mero corrector ortográfico – escrever “Vamos haver se ela repara” ou pode ser co mingo ou con tigo…. só me apetece bater – então nos comentários que se vê no facebook…. SOCORRRROOOOOOOO!!!!!
enviei o seguinte mail mas veio devolvido – daí a ousadia de enviar para aqui!
Boa noite Cristina e Manuel – sou fã do vosso trabalho – há anos que acompanho desde o tempo em que o Manuel ainda tinha bigode e desde que a Cristina apareceu – 🙂 .
Para não vos roubar muito tempo, peço ajuda para o meu sobrinho Rodrigo Pena que tem um trabalho a fazer sobre a alimentação das estrelas portuguesas – é só responderem cada um a uma pergunta e peço realmente ajuda para ele:
– Quais os pratos de comida típica Portuguesa que a Cristina / Manuel prefere e sendo que um deles tem de ser saudável???
Agradeço do fundo do coração se poder dar esta alegria ao miúdo.
Com todo o carinho e desejo de vos continuar a ver muitos anos a fazer o que fazem como ninguém, a minha companhia de todas as manhãs.
Um beijinho (peço desculpa pela ousadia)
(cristina – adoro o “meu” perfume 😉 )
A mim também me preocupa os erros que vejo, principalmente no Facebook e não só por aqueles que ostentam ter andado na “Escola da Rua” ou na “Universidade da Vida”. Exite um défice de leitura que faz com que haja dúvidas se “comeste?” ou se “comes-te?” ou se “dizemos” ou “dize-mos” e se “há dias” ou “á dias” ou “á dias” (confesso que esta última variação dá comigo em doida!!). E depois é claro que não consigo ficar calada quando vejo crimes deste tipo.
Sabe Carla conheço e já conversei com algumas dessas pessoas com poucos estudos e quase sempre me surpreendem pelo seu português correcto e com expressões muito próprias ligadas ao meio onde vivem e trabalham, por vezes de uma beleza e sensibilidade raras. Em breve escreverei uma nota sobre essas pessoas, que fazem ver a estas outras cheias de si e com tão pouco. Um beijo e feliz ano
São essas as pérolas com que somos brindados quase diariamente. Sei e sinto que o meu português está a anos luz do seu pois ás vezes leio palavras que escreve e sinto-me um bebé quando ouve uma nova palavra.Agora pergunto-me:quantos têm o seu vocabulário???poucos? ou será mesmo caso único das nossas televisões?beijo
Se em Portugal se ensinasse os jovens a escrever em vez de mudar programas da disciplina quando lhes apetece ou dá jeito… Mas é só gramática e gramática para ver se os catraios não gostam mesmo da disciplina? para propositadamente estupidificar um povo? e os nossos grandes poetas e escritores onde estão nos programas de Língua Portuguesa?
Depois toda a gente se ri muito quando os universitários nem sonham quem foi Camões, Sophia, Florbela, Antero, etc…
Ora se nem a ler os ensinaram!
ras pessoas que aqui se foram manifestando,também me custa horrores ler e ouvir tantos atentados ortográficos à nossa língua. Para mim, pior do que ter pouca cultura historico-social é mesmo não saber usar devidamente a
Temos a mesma fé. Eu aprendi a escrever português praticamente sozinha pois vivi mais de 40 anos fora de Portugal e continuo a ler muito e querer saber cada vez mais sobre a nossa língua pois tenho dois filhos a estudar cá e tenho o dever de lhes mostrar o caminho.
Reparei há dias que também no Você na TV o vosso repórter de exteriores, Bruno Caetano, disse exactamente o mesmo: “o jovem conduzia debaixo de álcool”. Atenção, atenção! O directo pode trazer algum nervosismo mas há que trabalhar e melhorar…
Nunca como agora vi tantos maus-tratos à Língua Portuguesa. O Facebook parece que disseminou a pouca vergonha em pontapear a gramática. Há pessoas “anciosas”, que perguntam se “já comes-te” naquele restaurante… Vergonhoso! E há que dar o exemplo na televisão, já que os jornais ninguém lê…. Obrigada MLG pelo cuidado que tem em tratar a nossa língua. Tente incentivar os seus colegas a fazer o mesmo…
Manuel Luís, tem toda a razão. Apesar de usar abreviaturas na net, eu passo a vida a corrigir o pessoal e depois as pessoas ficam chateadas que sou uma chata, isto e aquilo…mas já é defeito ou qualidade minha. Licenciada em Jornalismo, só tive empregos precários…até que desisti…a profissão já não é o que era…não há lugar para os que amam o português e a profissão, mas apenas para o sensacionalismo e o chamado “copy-paste”.
Baixei os braços? para o jornalismo sim. Leio e ouço erros e fico ai ai ai…mas segui a via das terapias assistidas por animais e ao menos eles não desiludem…apesar de ser complicado, já que não há verbas e as instituições públicas não têm dinheiro, as privadas fogem com a desculpa da crise…e eu sozinha não posso trabalhar gratuitamente, coisa que já fiz durante um ano de voluntariado…enfim…português, língua e povo em crise total de valores e afins…
Cumprimentos e Bom Ano
Helena Teixeira
Tenho pena que tenha baixado os braços para o jornalismo. E mais ainda se por ventura as terapias assistidas por animais foram penalizadas pela falta de verbas e de apoios. Este é um bom tema para falarmos no programa. O que acha? Um beijo