A Sá da Costa tem mais de cem anos. Começou por ser no Largo António de Sousa Macedo, ao Poço dos Negros, e no Chiado, onde se mantém, está desde 1943. Em 2013, soçobrada ao peso das dívidas, esteve encerrada para liquidação, e não fosse o alfarrabista Pedro Castro Silva, teria tido a mesma sorte da Livraria Portugal, por exemplo, e hoje ali estaria outro negócio qualquer que nada tivesse a ver com todo um passado glorioso de livros, escritores, poetas e tertúlias. A Sá da Costa quase de frente para outra vetusta livraria, a Bertrand (sendo esta a mais antiga do Mundo, em actividade), faz parte das melhores memórias do coração palpitante da cidade. Castro Silva comprou o acervo da Sá Costa e trouxe os muitos milhares de alfarrábios que tinha em armazém. Dá gosto ver todas aquelas salas completamente vestidas de livros, eles encavalitam-se em prateleiras, mesas e bancadas, só aparentemente sem organização, que basta perguntar por um título, por um autor ou por um tema do nosso interesse e há sempre alguém que nos guia ao sítio onde encontraremos o que queremos. Quando ali vou não tenho hora de saída, talvez sejam antes os euros que se vão somando à conta que ditam um “chega” por ora. Sim, na internet encontramos tudo ou quase, assim saibamos pesquisar, mas não é busca que me empolgue como aquela. Ataranto-me com a oferta e ganho vontade de comprar tudo e mais alguma coisa, tantos os assuntos e personalidades que me interessam, por curiosidade própria ou por julgar virem a ser úteis à minha função de perguntador. Mais do que “googlar” quero é surpreender-me nas lombadas, nas letras impressas a ouro, nas gravuras, fotos ou ilustrações e no que os livros me acrescentam. E gosto do seu viciante cheiro a velho e usado. Desta vez comprei um livro praticamente com tantos anos quanto os meus, é de cinquenta e cinco, é de Francisco Câncio, sobre o Paço da Ajuda, com capa de pele, outro sobre a história do edifício da Assembleia da República desde que foi Palácio das Cortes até à sua função actual, enquanto Casa da Democracia. Ando apaixonado pelo Palácio Nacional de Queluz e independentemente do que de variado se vai publicando sobre os monumentos de Sintra e seus protagonistas não resisti a mais uma obra sobre tão imponente casa de reis e infantes. E fiquei-me por um opúsculo, já a denunciar muito manuseio, amortalhado que estava em papel vegetal, sobre António Ribeiro, contemporâneo de Camões, que lhe gaba a engenhosidade no seu “Auto de El-Rei Seleuco”. Quero saber mais deste que é conhecido como poeta Chiado, por ali ter vivido muitos anos, diz que na rua Garret, a mesma da Sá e Costa. A sua estátua, a dois passos, no largo que leva o seu nome ou de um outro “Chiado”, este taberneiro mas também de quinhentos, havendo autores que dizem que o topónimo é bem mais antigo, parece querer meter conversa talvez sobre as compras que acabei de fazer ou, mais interessante, sobre a celeuma que o local da sua imortalidade em bronze provocou em Aquilino e Raul Brandão. Que sim, era boémio, jocoso e tinha muito talento, mas não tanto que merecesse a vizinhança de Eça e de Camões.
Livraria Sá da Costa
Rua Garret, 100
Lisboa
Bom dia MLGoucha ,concordo com o comentario,da Leonor Moreira.
Cumprimento.
Boa noite
Como se chama aquela loja de artigos de Natal que tanto fala na TV? Gostaria de a visitar.
Obrigada
Boa tarde, Manuel Luis Goucha
Gosto muito de si ,pelo trabalho que faz e pela pessoa que é.
Também gosto muito do Rui.
Gostava imenso de vos ver a apresentar o Vôce na TV JUNTOS
Beijinhos
Leonor Moreira