Foi a Universidade de Coimbra elevada à condição de Património Mundial da Humanidade, por decisão da Unesco, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Sou dos que jubila com tais distinções, por celebrarem o que de melhor temos para oferecer a quem nos vista: o património de um país com mais de oitocentos anos. Distinguir deste jeito esta verdadeira sede do conhecimento com vários séculos de existência (deve-se a D. João III a transferência definitiva da Universidade para Coimbra em 1537, se bem que ela tenha sido fundada por D. Dinis em 1290) é, contudo, um conferir de responsabilidades acrescidas na sua defesa, dignificação, divulgação e preservação. A classificação da Unesco é assunto sério, obrigando a um atento e permanente cuidado. Não basta ser considerada “coisa de todos”, há que saber cumprir e honrar tão suprema distinção.
Tem o arrazoado razão de ser, que me confesso indignado com o desprezo a que o nosso património é muitas vezes votado. Veja-se o caso do Mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde, antiga morada das irmãs Clarissas, e um dos mais belos e grandiosos do nosso país. Há muito que é visível o seu estado de degradação e ruína, chegando já a pôr em risco a própria população e em particular os moradores em redor. A falada transformação do mosteiro em pousada ou hotel pode ser uma via, entre ouras possíveis, para salvar o que se apresenta como quase irremediavelmente perdido. São vários os exemplos, de norte a sul, de felizes recuperações do género, que assim permitem preservar monumentos, tidos, por decreto, como nacionais, mas entretanto, por absoluta incúria das entidades oficiais, vandalizados e esquecidos.
Se quem de direito continua a “não tugir nem mugir”, não será Santa Clara a valer-lhe! Uma vergonha… mais uma a juntar a tantas vergonhas nacionais.