Uma espécie de Amor

foto1Há dias chamaram-me a atenção para um texto que o Hélder Reis escreveu sobre mim, num espaço que, pelos vistos, cultiva num sítio de noticias (www.movenoticias.com). Conheço-o desta vida, já que não acredito noutras… mas se assim não fosse até acharia que havia habitado os meus passados, tanto o que nos liga. Li-o com espanto por descobrir uma importância que não me dou, a de tocar alguém de forma intensa e duradoura. Por isso partilho as suas palavras, por me fazerem perceber que esse deve ser o norte de uma existência que não desejo estéril (afinal ao alcance de qualquer um, assim não se perca em minudências) e junto outras minhas, usadas há algum tempo para prefaciar um livro de poemas seus (como se a amizade se prefaciasse!), com a certeza, porém, da sua raquitez… É que se “não temos palavras que agradeçam a quem nos dá horizonte”,  também não as temos para agradecer a quem nos dá chão.

Como ele me vê:

Conhecemo-nos há 16 anos, pela mão da RTP, no decorrer de uma entrevista que o Manuel me fez, ao sabor da palavra, no programa Praça da Alegria. Falamos de silêncio, de objetivos, de vocação e da igreja no mundo. Na altura era eu seminarista, a poucos dias de ser padre; eu sabia que não iria ser, mas era segredo. Na Igreja, segredos com segredos se guardam. Há 14 anos, pela mão do Manuel Luís, entrei para a RTP. Tornei-me no assistente da Praça da Alegria. O rapaz dos cafés, com avental branco, que ia servindo café e água numa praça com os olhos do mundo a ver-nos. Nunca havia sido empregado de café, e estreei-me nas lides do servir à mesa, na RTP. E tanta gente ainda hoje me reconhece como o rapaz de avental branco! Só servia cafés e queria ser o melhor do mundo nessa nobre arte de servir à mesa. Em bom da verdade eu era assistente do programa. Há 16 anos que somos amigos. Daqueles amigos que se sabem um do outro. Andamos a par das nossas vidas. Conheço o Manuel fora da televisão, sei-lhe o pensamento. Ele sabe de mim. O Manuel deu-me a vocação da comunicação. Abriu-me uma porta. Não temos palavras que agradeçam a quem nos dá horizonte. Na amizade o Manuel é tão exigente como no trabalho, e só ao exigir é que nos engrandece.

Sair do seminário é tão difícil como decidir ser padre. Ser padre ou ser homem do mundo são duas vidas para as quais é preciso vocação. Eu não tinha, não tenho, a Fé suficiente para o sacerdócio da igreja, optei pelo sacerdócio das artes. Sair do seminário foi o momento mais doloroso e libertador de toda a minha vida. O Manuel acompanhou cada minuto. Deu-me a mão quando eu já não tinha mais dor para doer. Hoje sou tudo o que sempre quis ser. Tenho a minha banda, os Pólen, escrevo, faço televisão. A televisão é o sítio onde o meu corpo e alma se tornam comunicantes, fazer televisão é um sacerdócio de mensagem, humildade no saber ouvir, discernimento no saber que tudo passa. Fazer televisão, para mim, é apontar atenção para o convidado, só ele importa, só o que ele diz deve importar a quem nos ouve. Por isso entendo ser um exercício de humildade. Mas fazer televisão é uma balança de egos. Temos todos egos grandes, e se não dominarmos o nosso ego, ele pode querer a nossa alma!

O Manuel ensinou-me tudo isto. Fui assistente de programa dois anos, estive a ver e ouvir o Sr. Manuel durante 2 anos. Bebi o seu jeito de perguntar, de estudar, de olhar a câmara olhos na lente, porque em televisão a câmara é humanizada com o corpo de milhões que nos vêm. Tornei-me repórter. Apresentei o programa. Nunca parei de fazer televisão. Licenciei-me em jornalismo, porque a Teologia não me chegava para o ofício. Ainda hoje os meus queridos colegas de produção me dizem: às vezes, quando falas, tens tanto do Manuel! Que honra a minha. Pudesse eu escolher um pai, como nas histórias dos meninos que procuram o colo do pai, escolheria o Manuel. Fiz-me homem livre, fiz-me profissional da comunicação, fiz-me pessoa, graças a ele. É claro que há uma mão cheia de gente na RTP à qual DEVO o que sou, alguns já nem estão entre nós, mas ele foi o meu princípio. Apresentou-me ao mundo e deu-me as ferramentas para ir à luta. Fazer televisão leva-nos as entranhas da alma. Ou é, ou não é. Na televisão não se mente muito tempo. Ainda hoje olho para o Manuel para aprender. Quando for grande, quero ser como o Manuel Luís Goucha.

Como eu o vejo:

fotografiaHá amigos que valem uma Vida, por tudo o que nos dão.
Amigo é aquele que se esquece de si próprio para se dar ao outro, não exigindo o que quer que seja e sempre em alegria. Não há pensamentos que incomodem, interesses menos claros, dúvidas ou desilusões. Há um mesmo e único plano em que os dois são soberanos.

O Hélder é um amigo  e sem ele a minha vida teria menos luz. A luz das palavras que dizem mais do que parecem dizer. Palavras que desafiam, que convocam, que quietam ou antes pelo contrário. Palavras ditas e reditas mas que acabam sempre por recuperar a virgindade do ver e do sentir. Não há padrões, nem prisões, que amizade assim é livre e serena, é coisa de ser. Para a vida. Pela Vida. Acanham-se-me as palavras para celebrar este amigo, pelo que é: atento, cuidadoso, generoso. Disponível para o abraço imenso da reconciliação e para a limpidez do olhar.

Arreda-se-me o engenho para festejar o que ele faz de melhor: o cerzir das palavras que se descobrem em horizontes íntimos, como esse de olhar uma pedra ou uma vaga do mar.
Sei o que sinto sempre que o leio… mas não quero dar-lhe nome ou definir. Isso seria possuir… isso seria matar. Gosto é das ideias e das descobertas que as suas palavras semeiam em mim. Gosto deste mundo de coisas que contam, este universo de fins e valores que não se esgota. Como o da amizade. O Hélder é um amigo. O Amigo!

21 comentários a “Uma espécie de Amor

  1. Margarida Franqueira

    Lindo Helder
    Fiquei surpreendida com o conteúdo,pois conhecia (não conhecia)que as coisas entre o Manuel Luis Goucha e o resto da equipa não eram as melhores .Fiquei feliz ao ler estas palavras sinceras. A gratidão é AMOR

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  2. Raquel Guerreiro

    Parabens aos dois por terem a coragem de divulgar essa amizade a qual eu tambem chamo de amor fossem todos assim e o mundo seria bem melhor,nao quero falar aqui de vedetismos ou figuras publicas mas sim de gente,GENTE muito grande que felizmente ainda existe ,depois disto fico a pensar o que mais posso dizer? e sao tao grandes os meus pensamentos que nao os consigo expressar SEJAM FELIZES

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  3. Maria Emilia Cunha Lopes

    Estou mt triste MANEL nunca me manda um bjo ou abraço,não gosta de mim?sou um pouco aborrecida não é? Posso sber se dia 15 de JULHO estão os 2 no programa? já deixei perguntas por td lado queria ir ao programa é um dia especial BJO

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  4. ilda cardoso

    dois belissimos profissionais conhecios no Porto quando estive na praça da alegria a convite da mesma e sao maravilhosos verdade que o Helder ainda estava a dar os primeiros passos e veio a revelar-se um excelente profissional claro que as qualidades estavam la mas tb os optimos profissionais com quem ele trabalhou muito lhe ensinaram PARABENS adoro os dois ilda

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  5. sofia

    Obrigada por esta maravilhosa reflexão sobre a amizade. nem sempre tenho facilidade em comunicar os meus sentimentos e li aqui as palavras que me ajudam a entender a mim mesmo …..a começar pelo titulo: “uma espécie de amor”.
    Felicidades para os dois.

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  6. Cristina Miguel

    Agora tudo se explica….. Ao sábado à tarde, se estiver de costas para a TV, penso que o MLG está na RTP1. um beijo para os 2 que admiro Cristina Miguel

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  7. Cristina Rocha

    Adoro de alma e coração quando de uma forma ou de outra “participo” numa amizade franca, sem interesses ou dissimulações, parece-me que é o caso. Parabéns aos dois, sou admiradora dos dois ao Manuel já tive o prazer de conhecer pessoalmente, e afianço-vos é ainda melhor do que qualquer coisa que se possa dizer ou escrever ADORO-O, o Hélder (um borracho, é mais a minha faixa etária) parece-me um excelente comunicador, mas muito pouco tinha ouvido falar do seu passado recente, agradavelmente pelo o que li acima, trata-se de mais um ser humano a que eu costumo chamar “pêro são”, muita paz, saúde e alegrias para ambos. Se um dia a vida vos der a ambos a recompensa pelo que hoje são, será com certeza, já velhinhos continuarem a partilhar textos como o que li, BEM HAJAM.

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  8. Karina Silva

    A amizade é um dos sentimentos mais bonitos que o ser humano tem. Devemos cultivá-la e e regá-la todos os dias, pois só assim dará frutos. Espero que ela continue presente nas vossas vidas Manuel Goucha e Hélder Reis.
    Todos os dias acompanho o Você na TV, adoro ver divirto-me imenso, pois tenho pena que o Helder não faça parte dessa equipa magnifica, mas quem sabe um dia” plim” e lá estarás, a vida dá muitas voltas.
    Eu tive o previlégio de conhecer o Hélder, foi meu catequista em Paços de Ferreira na freguesia de Seroa, um amigo que guardo no coração com muita saudade. Concerteza, já não se lembra de mim, mas se lhe falarem do “meio quilo” ele irá concerteza se lembrar. As recordações que tenho com ele e com o grupo de jovens que faziamos parte, as músicas que cantávamos aínda hoje as ensino aos meus alunos da catequese.
    A minha juventude sem dúvida foi muito bem passada com a companhia de grandes pessoas ” Hélder Réis, Lurdes e Antunes” hoje sou mulher, mãe de dois filhos lindissimos e tudo que lhes ensino é o amor, amizade e respeito por todas as pessoas, princípios que me foram ensinados por eles.
    Beijos Hélder Réis és um grande lutador.
    Karina Silva.

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  9. Lucia

    Assim é que deviam ser todos os que se dizem amigos, obrigada aos dois
    Abraço e uma boa semana.
    Lucia
    (Quando for grande, também quero ser como o Sr. Manuel Luís Goucha) …….

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  10. Helder Reis

    Tivesse eu mais palavras. As que este mundo tem e aquelas todas que tantas vezes tenho necessidade de inventar. Obrigado Manuel. Que este amor que alimenta a nossa amizade seja inspirador para quem receia fazer da amizade o grande amor da sua vida. Obrigado. Hélder Reis

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  11. Catarina Duro

    Como gostei de os ler!!!
    São duas pessoas que admiro, o Manel mais que o Hélder, porquê ? Porque sim , é o maior comunicador, tornou-se muito humano. gosto de estar na vossa companhia . Um abraço……… Catarina

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  12. Maria Emilia Cunha Lopes

    EU sou uma daquelas pessoas que chegou a ser servida pelo o HEIDER tb gosto mt dele chgueia oferecer-he um livro,não me lembro o nome mas não era romance.FUI algumasvezes á PRAÇA DA ALEGRIA,como levava chocolates era conhecida pela sra dos chocolates,bons tempos,ainda me podia mover sózinha,a D.SANDRA LOPES ainda se lembra de mim. Realmente o Goucha é um bom exemplo para qualquer pessoa ,pelo menos para quem queira seguir a carreia de apresentador,não me canso de o elogiar,é´um HOMEM de mt valor inteligente,educado amigo das pessoas idosas ,dos animais,ele é td o k tm valor no ser humano.UM BJO PARA O HELDER E PARA O NOSSO MANEL

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    1. Luisa Amores

      Uma amizade assim não vale ouro……vale uma vida, uma alma!!! Uma amizade assim vai para além dos tempos e o Hélder soube tão bem expressá-la por palavras, imagino então o que lhe vai no coração. Deus os abençõe (ups….o Manuel é agnóstico….) por terem um sentimento tão nobre a uni-los .
      Claro que estou a brincar e volto a “dizer”…..que as bençãos divinas os iluminem e protejam.
      Pelo que leio aqui e acolá, mais o que se vê na TV, mais aquilo que se vai sabendo de uma ou de outra forma, mais o brilhozinho que emanam os olhos do Manuel e mais…..e mais…..e mais o que não se sabe, mas que se adivinha que só podia ser uma alma nobre que está por detrás das câmaras e que nos brinda todos os dias com um sorriso como um sol
      Obrigada Hélder e Manuel por nos mostrarem que ainda existem pessoas “lindas” como vocês.

      L.Amores

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