Tragicomédia em três actos

I ACTO

“Uma merda!” – disse eu da sobremesa da Margarida e, antes que caia o “Carmo e a Trindade”, recorde-se o contexto distendido e galhofeiro em que o fiz e por isso mesmo ninguém se amofinou, antes estalou a risota e coroou-se a afoiteza com um significativo aplauso. O caso não era para menos, a sobremesa estava intragável, acho mesmo que nem a própria concorrente terá percebido a causa do desaire. Certo é que a Margarida, senhora de quem muito gosto, gargalhou a bom gargalhar, coisa que nunca lhe havíamos visto, perante a opinião dos jurados e da convidada especial.

fotografia1Guardada estava esta numa grande caixa e por isso antes de se dar a ver, muito se especulou sobre quem seria. Cristina Ferreira, pensaram todos e mais alguns, e até que faria todo o sentido, se bem que o Luís Portugal achasse que melhor mesmo só um porco bísaro (só ele!), mas não…

fotografia2… seria Leonor Poeiras, apresentadora igualmente muito estimada, ainda por cima apreciadora e praticante da boa cozinha. Foi ela a apresentar o desafio da prova de invenção, aquela em que os concorrentes podem arriscar, sem penalização de monta. Uma sobremesa teria de ser feita, a partir dos ingredientes de que ela gosta e que permitiam várias propostas culinárias. Como resultado, houve de tudo, mas memorável, mesmo, foi o bolo de laranja da Sónia. O “melhor bolo de laranja do mundo”, pensei ao prová-lo e este até que podia ser um slogan para um negócio futuro da sua autora, apesar de não estarmos a ser originais. Já houve quem dissesse o mesmo de um bolo de chocolate e o certo é que epíteto pegou, dentro e fora de portas. Confesso que tanto eu como os outros jurados gostaríamos de ter a receita, de tal modo nos agradou, por isso não tardou a pedinchice. Será que ela nos vai dar? É que isto de água mole em pedra dura…

O desafio foi ganho pela Leonor que nos deliciou com uns “éclairs” recheados de creme de pasteleiro e cobertos com molho de chocolate branco e raspa de laranja. Foi a sua primeira vitória e bem merecida.

II ACTO

SONY DSCA acção decorre na cidade do Porto, que tão boas lembranças me traz. Ali vivi, quando apresentava, na RTP, o “Praça da Alegria” e por isso, durante oito anos, andei numa fona entre a Invicta e a capital. Jubilei ao saber que a prova de equipas seria no cais da Ribeira, cenário único, magnífico, património da Humanidade. A ideia era servir setenta Francesinhas a outros tantos convidados ao cair da noite, que é quando a Ribeira se veste de luz.

fotografia4Mas o tempo trocou-nos as voltas e, por via do ameaçador céu de chumbo, lá se optou por um espaço coberto, se bem que imponente e granítico, o da antiga Alfândega, construído na segunda metade do século XIX, hoje Centro de Congressos e sede do Museu dos Transportes e Comunicações.

www.ccalfandegaporto.com

As duas equipas, entretanto constituídas, procuraram recriar a receita da Francesinha. Sobre esta diga-se ser, na origem, uma adaptação do “croque-monsieur” (uma sanduíche quente, de pão de milho com recheio de presunto e queijo gruyére, dourada na grelha ou na frigideira, coberta de béchamel e queijo, e posta a gratinar). Emigrante em França, terá sido Daniel David Silva, no início dos anos sessenta, a trazer a receita para Portugal e a adaptá-la ao gosto lusitano, quando já ao serviço do restaurante “A Regaleira”. Certo é que a Francesinha rapidamente caiu no goto dos portuenses e por isso se impôs com uma das grandes marcas da cidade e uma das dez melhores sanduíches do Mundo.

Confesso que não sou um grande apreciador de Francesinhas, só mesmo quando esganado.

Acho uma alarvidade aquela montanha de pão com recheio de carnes e enchidos, boiando numa molhanga espessa sabe Deus, e o respectivo chef, feita com que sobras de bebidas,  entre outros ingredientes. Qual “inha” qual carapuça… como se já não bastasse o atentado calórico, a dita Francesa, ainda se faz cavalgar por um ovo estrelado e acompanhar por palitos fritos, de batata. Sei de quem já tenha optado por uma versão mais maneira, ou se preferirem “gourmet”, o que me parece mais elegante e atinado.

Valeu a prova por voltar ao Porto e à sua gente, sempre com o empolgamento de uma primeira vez, por conhecer um jovem chef, cheio de garra e talento (Arnaldo Azevedo, o mesmo que oficia no inspirado restaurante do Hotel Teatro), que nos ajudou na avaliação das Francesinhas propostas e pelas fotos que, eu próprio, fui tirando dos concorrentes em prova… com Gaia ao fundo.

fotografia5fotografia6fotografia7fotografia8afotografia8bfotografia9fotografia10fotografia11fotografia12Então e as Francesinhas? – perguntar-me-á.

Pois a coisa não correu pelo melhor: molho aguado, sem tempo para apurar, e “sanduíches” desenxabidas é o rescaldo de que me recordo. Também a desorientação, pelo menos numa das equipas, terá marcado o serviço na sala onde se amesendavam perto de setenta convidados. A ponto do Luís correr todo o espaço de panela na mão e pregão na boca “quem me quer do molho”, numa pura manobra de diversão que, aliás, por me parecer excessiva e deselegante, mereceu sarabanda de “três em pipa”.

III ACTO

Tenho o Luís Portugal como um concorrente de excepção, pela paixão com que defende a sua terra transmontana e os seus produtos, e pelo companheirismo que demonstra pelos seus colegas/adversários de competição. Há um mês que todos estão a viver na mesma casa, longe dos seus. As saudades, os constantes desafios, a pressão colocada em cada prova… tudo interfere no momento de agir. Por isso, fiz questão de realçar algumas das suas qualidades no inicio da prova de eliminação. Como que para lhe dar alento e, em parte, me redimir de palavras mais agrestes que lhe possa ter dito no final da prova anterior.

Nesta prova que, tal como o nome indica, serve para “eliminar” o, ou a, concorrente que pior desempenho tenha face ao desafio, e independentemente de tudo o que tenha mostrado até ali, foi-lhes pedido que pensassem que estavam a chegar do trabalho e que teriam de preparar uma refeição com o que tivessem em casa.

Por isso os frigoríficos ao lado das bancadas, com os ingredientes que, habitualmente, qualquer família tem dentro deles.

E que frigoríficos!

fotografia13a

fotografia13b fotografia13c fotografia13dFicaram os nossos olhos na garridez das suas cores e no revivalismo das suas linhas. Cada um dos jurados com a sua preferência: eu, entre o verde alface e o laranja, cor da própria. É que são irresistíveis estes frigoríficos Smeg, por nos fazerem recuar a finais dos anos cinquenta, inícios de sessenta, e por se apresentarem, hoje, tecnologicamente perfeitos e cheios de estilo. Tecnologia com estilo é, aliás, slogan desta marca de topo que em boa hora decidiu patrocinar o MasterChef.

www.smeg.pt

No final e provados todos os pratos, entre o Filipe e a Rosa tínhamos que nos decidir. Um e outro não satisfizeram e por uma “unha negra”  acaba por escapar o jovem de Almada.

fotografia14Sai de cena a Rosa. A nossa querida Rosa. Cativante pela sua sensibilidade, exuberância e histrionismo. O gosto pela cozinha vem de criança. Concorreu ao programa porque não teme um bom desafio. Veja-se o facto de se ter licenciado aos quarenta e sete anos. Mãe de três filhos, é para eles e para o seu companheiro que cozinha todos os dias, com enlevo e dedicação. Será que vamos ter saudades do seu jeito travesso e do seu olhar dado ao espanto ou ainda a vamos voltar a ver?

fotografia15Para a semana:

Muitos outros desafios e um deles a fazer subir a temperatura de algumas pessoas. Quem lhes apaga o “fogo”?! A não perder!

19 comentários a “Tragicomédia em três actos

  1. teresa costa

    quero responder a menina Maria Elisa que não foi a rosa que fez o bolo de laranja foi a Sonia também não gostei da resposta dela mas o seu aseu dono beijinhos

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  2. Cristina Jesus

    Tive tanta pena que a Rosa tivesse. Era uma pessoa completa (pelo menos parecia), boa pessoa, humilde, educada e por causa de uma prova foi à vida. Fiquei com a sensação de que tinha ainda muito para dar ao programa. Mas enfim, a vida continua. Desejo-lhe muita sorte e, mesmo não a conhecendo, apetece-me dar-lhe muitos beijinhos e desejar-lhe muitas felicidades. Quanto a si Senhor Manuel Luís é , realmente, um excelente profissional. Muitos Parabéns pelo seu programa, não perco nenhum. Continue assim, está num bom caminho. 😉

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  3. Beatriz Carvalho

    Bom dia
    se algum dia quezerem comer uma boa francesinha é só convidr-me, que terei todo o gosto de confecionar para o juri e companhia.

    Até breve
    Beatriz Carvalho

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  4. Natalia

    Adoro o Masterchef , vejo o desde a suiça ( pais onde habito actualmente) , sou grande admiradora sua e confesso que vejo o programab porque voçe la esta. Eu tambem fiquei muito triste com a saida da Rosinha ( nao fosse eu tambem uma minhota) , o Filipe admiro imenso, sua humildade é coisa rara nos jovens da idade dele hoje em dia mas como qualidade culinaria sem duvida que a Rosa o ultrapassa.
    Enfim é bom mesmo longe de nosso pais nos podermos sentir “em casa” com programas como o Masterchef.
    Um bem haja a si Manuel e beijinho para si chegado diretamente da suiça ☺️☺️☺️

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  5. Patrícia Viegas

    Sendo uma apreciadora de programas de culinária e ainda mais do Masterchef seja ele Austrália ou Portugal. Não poderei deixar de salientar, ontem viu-se nitidamente que a qualidade dos concorrentes não é das melhores. Como estão num sexto programa e ninguém consegue fazer uma sobremesa com tantos ingredientes, para não falar da prova de eliminação. Os próprios jurados transmitem que os concorrentes não apresentaram pratos com qualidade. Caso façam mais algum programa, tenham cuidado com a seleção dos concorrentes.

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    1. MLG

      Mas vão conseguir. A partir do programa oito, inclusive, tudo muda. Logo na primeira prova vão fazer óptimas receitas. Obrigado pelo seu comentário.

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  6. Earia Elisa

    Fiquei muito desencantada com a prova dos doces…uma falta de criatividade …enfim uma desilusão.
    As francesinhas…simplesmente recuso,posso mesmo concluir que hoje para mim não foi um dia feliz…
    A saída da Rosa poderá ser considerada precoce…não gostei da atitude dela no secretismo em relação ao bolo de laranja…
    A minha mãe,com 80 anos, excelente cozinheira, sempre gostou de partilhar as suas fabulosas receitas…ainda hoje as partilha e nunca recusa uma dica ,um ensinamento.
    Gosto do Goucha em todas as suas vertentes,e mais uma vez me encanta no Masterchefe.
    Com carinho Maria Elisa

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  7. Amalia Ondina

    Manuel Luis, tenho por si uma admiração imensa, vejo o programa porque o Manuel esta lá. Nao gosto da forma como os chefs criticam os concorrentes, alias , nao sou unica e o Manuel, que de parvo nao tem nada, sabe isso muito bem. Ja disse e repito, eles em termos de postura, teem muito que aprender consigo, e com os jurados do Masterchef Australia. Adoro este tipo de programas, mas nao deste tipo de atitude, que desmotiva os concorrentes. Agressividade, desnecessaria, arrogancia Q.B, ate podiam ter 50 estrelas Michelin, nao gosto da grosseria deles. Atençao que a minha opiniao, é baseada pelo que vejo no programa, nada tem a ver com o profissionalismos, ou como sao fora do programa. Beijinho para si Manuel

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    1. MLG

      Todos os concorrentes ficaram a gostar muito dos chefs. Têm-no dito nas entrevistas. E quase tenho a certeza que ainda vai mudar a opinião sobre eles até ao final do programa. Eu próprio hei-de escrever sobre eles, em momento oportuno. Um beijo.

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  8. Ana

    Não concordei de todo com a saída da Rosa, uma grande mulher e óptima concorrente.
    Independentemente de ter feito o pior prato, merecia mais uma oportunidade e mostrar aquilo que realmente sabe.
    O Filipe para mim é o concorrente mais fraco que temos ali. Durante o seu percurso não demonstrou ter conhecimentos sobre cozinha.
    Preferia mil vezes que fosse o Filipe a sair. A Rosa merecia mais estar no programa.
    Desculpem a minha opinião.

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  9. Pedro R.

    Devo dizer que fiquei muito revoltado com a saída da Rosa. Independentemente dela ter tido o pior prato, todo o percurso dela foi esquecido e ignorado perante um outro concorrente bem mais fraco do que ela. Espero que sintam as orelhas bem quentinhas nos próximos dias, pelo praguejamento que aqui reinou, por casa.

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    1. MLG

      A prova de eliminação, tal como o nome indica, é que conta na apreciação final, independentemente do que tenham feito já no concurso. Esse é o critério seguido no Masterchef. E depois, isto é apenas um programa de televisão. Um beijo para si. Tenho a certeza que ainda vou ficar com as orelhas a arder várias vezes.

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    2. MLG

      O percurso do concorrente não conta na hora de avaliar na prova de eliminação. É o critério seguido noutros países, segundo regras do programa. MLG

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  10. Silvia

    Tive tanta pena de ter saído a Rosinha. É tao querida. É pena que uma prova defina o percurso de um concorrente sem ter em conta o que foi feito até então, mas são assim as regras do jogo. Felicidades para a Rosa e quero continuar a ter noticias dela porque tranmite muito boa energia e de certeza que é uma pessoa muito simpática e feliz. E claro muitos beijinhos para si Manel 😉

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  11. David costa

    Nao concordo com a saída da Rosa, mas isto também é por causa de nao concordar com o facto da expulsão ser só daquela prova esquecendo todo um labor e persistência de 6 semanas. Mas que fique o Filipe, rapaz com grande futuro, e acima de tudo grande humildade e espírito de aprendizagem. Mas que nao concordo com a decisão lá isso não.

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    1. Sofia Macedo

      Tenho que concordar. Não tem lógica um episódio consistir de 3 provas (além de ser um concurso em continuidade) e a expulsão basear-se apenas e só no desaire de uma única receita resultar “não tão bem”. Penso que a Rosa é uma das poucas concorrentes (conto aqui 4) que têm tido um percurso consistente. É de louvar que também dêem espaço ao desenvolvimento, como penso ser o caso da Ana Rita ou da Cristina. Agora de que adianta ter mais do que uma vez o melhor prato se isso não conta na hora da expulsão? Vão expulsar todas as pessoas mais velhas, com a premissa de que o prémio final não será tão bem utilizado por elas? É pena.

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