Aquilo é que foi um alarido, só faltou estalar foguetes, quando a ANA inaugurou uma nova área comercial, em jeito de rotunda, no aeroporto da Portela, com lojas de grandes marcas, até um pólo da FNAC, que talvez seja aquele que mais me agrada na hora de embarcar, já que há sempre um livro novo para comprar, e até um espaço Hediard, que é sobre ele que quero escrevinhar, que se pretendia elegante e discreto, resguardado dos olhares alheios.
Há lá coisa mais deselegante do que ver os outros a comer. Ali me fui sentando, nos últimos meses, sempre que era necessário fazer tempo para apanhar um voo, e, por isso, infelizmente, fui acompanhando a desvirtualização do conceito. O que começou por ser um espaço de bom gosto, com um atendimento simpático e diligente, e até uma ementa agradável entre sanduíches Club, de frango ou de salmão, tábua de queijos e saladas diversas, onde pontificava a clássica César, acabou por se transformar numa corriqueira cantina com preços de luxo. As elegantes divisórias a meia altura que garantiam um certo recato desapareceram, pelo que agora é comer de frente para quem quer que esteja sentado na arena, sem qualquer resguardo de privacidade, o serviço à mesa também foi “um ar que lhe deu”, que agora é o cliente que tem de encomendar e ir pegar ao balcão, e quanto à qualidade da cozinha também ela deixa muito a desejar. As saladas são um logro de muito verde do mesmo e pouca sustança, seja a César ou a de lavagante. Mantêm-se os preços, o que tenho por descaro, para tão pouca qualidade. Assim, mais vale ir comer uma bifana numa roulotte qualquer, que ao menos esses não querem ir além da chinela.
Infelizmente isto é um conceito que vai abundadando por cá, primeiro é tudo muito bom, depois ganham a fama, e cabummm, tudo descamba para o mediano!