Parabéns Chefe!

Chefe Victor Sobral
50 anos de idade
30 anos de carreira

Dizê-lo “homem do petisco”, como ouvi ontem numa reportagem televisiva com que se procurava celebrar os seus já trinta anos de carreira, é pouco, muito pouco, para quem foi um dos pioneiros da moderna cozinha portuguesa. Para melhor entendermos o conceito teremos de recordar aqui o movimento culinário nascido em França, na passada década de setenta. Até então os grandes chefes não teriam outro jeito de exprimir o seu talento a não ser repetindo as receitas criadas durante a idade de ouro da cozinha francesa. Estabelecendo uma analogia com a música (não serão os alimentos, também eles, notas de uma partitura?) seria o mesmo que obrigar um jovem músico a desenvolver a sua arte, interpretando com o máximo do seu talento, obras de Bach ou de Beethoven, mas recusando-lhe qualquer margem de criação. Qualquer inovação neste contexto seria como que uma degradação da perfeição anteriormente codificada. A, então, “nouvelle cuisine francaise” surge como um acto de libertação culinária contra o imobilismo da cozinha clássica. Do frenesim criativo de setenta nasce, assim, uma outra cozinha, imaginosa, equilibrada e, por isso, mais adequada às necessidades da vida moderna. É na sequência deste movimento, abjurados os excessos cometidos (que não há revolução que os não tenha!) que surgem em Portugal, alguns anos depois, os primeiros obreiros de uma nova cozinha portuguesa privilegiando o produto do dia, um acomodamento mais saudável, caso da milenar cozedura a vapor, e uma maior estetização do empratamento. Uma cozinha sedutora, apelativa, convocando todos os sentidos, e não menos portuguesa. À
pergunta que muitas vezes lhe foi feita sobre afinal o que seria a nova cozinha portuguesa, Victor Sobral sempre respondeu: “simples, é uma tendência e interpretação culinária dos dias de hoje, sem renegar os perfumes e a essência dos pratos dos nossos avós!”.

Victor Sobral terá sido então o “pintor” (louco e genial, como todo o criador), tratando cada prato como se tela fosse. Jogando com formas, texturas, sabores e cores, conseguiu experiências gustativas únicas. Com profissionais como Victor Sobral, o oficio de cozinheiro ganhou, no nosso país, o estatuto que há muito tinha em países onde a cozinha é entendida como uma Arte. Vi como era olhado de soslaio quando no seu afamado restaurante “Gare-Marítima”, isto em finais dos anos oitenta, se atrevia a vir à sala perguntar a opinião dos clientes, já que até então, nesta parvónia, cozinheiro era para estar no “buraco” e nunca subir ao proscénio, lugar que lhe cabe por talento e formação. Muita coisa mudou desde então, até na cozinha, outros movimentos surgiram, ainda que mantendo muitos dos preceitos culinários já referidos, como o maior respeito pelo produto, mas Victor Sobral soma e segue. Inspiração para muitos dos chefes que hoje estão dando cartas na restauração (ainda ontem ouvi o estrelado José Avillez a chamá-lo de Mestre) Victor Sobral mantém-se actual e desafiador ao serviço da cozinha portuguesa e de autor. Parabéns Chefe, pelos cinquenta mas acima de tudo pelos trinta.

vitor sobral

4 comentários a “Parabéns Chefe!

  1. Vítor Silva

    Boa Tarde
    Penso que não terá oportunidade de me responder, digo isto, porque sei que é uma pessoa muito ocupada, mas tentar não custa e posso ter um milagre.
    Tenho 60 anos e um filho de 19 meses e se já era um sonho ser um praticante do chocolate, mais propriamente bombons.
    Tirei um curso de bombons e fiquei fascinado, mas por norma cursos subsidiados trazem muita gente e a explicação é complicada. Tive um professor que me pareceu “Bom”. Mas sem ovos não há omeletes.
    Sei fazer a tempera, sei fazer a capa e tapar os mesmos, mas sei que é necessário os recheios.
    É para isso que peço por favor que me ajudem, gostaria de fazer uns bombons para o meu filho e os meus amigos inicialmente e quem sabe se os souber fazer profissionalmente futuramente, poderei pensar noutros horizontes.
    Obrigado o meu e-mail é vitorsilva1956@hotmail.com

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  2. Reila Criscia

    Além mar Vitor Sobral também tem sido um empreendedor da valorização das raízes da cozinha no Brasil. Que com notoriedade apresenta toda matriz portuguesa e tem a delicadeza de respeitar produtos nativos e genuinos hábitos alimentares de nosso país. Quebra paradigmas, apresenta a cozinha portuguesa muito além do bacalhau e brinca em sua tela de sabores miscigenando sabores, cores e texturas de nosso Brasil tão Portugal.
    Também como gigante ensina a sofisticada simplicidade do informal: dá grandeza a produtos coadjuvantes como a mandioquinha, o maracujá, a jaboticaba e outros nativos. Valoriza o artesanal em louças e copos. Coloca os vinhos à mesa com o conhecimento da alegria ao harmonizar sabores. Mostra leveza na restauração ao conquistar que o cliente sinta-se em casa.
    Nos dá a prova a Arte da cozinha portuguesa e por meio da gastronomia valoriza a amizade de Portugal pelo Brasil.

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  3. Madalena Ferreira

    Olá MLG,

    Faço minhas, as palavras do comentário da Carla – nem mais nem menos!

    Espero que a Carla (não conheço), não me leve a mal, apenas quis simplificar.

    Obrigada pela partilha,

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  4. Carla

    Manuel
    Que bem cozinhou o texto, repleto de ingredientes que alimentam a alma de quem os lê , e do Chefe Victor Sobral caso o leia.
    Parabéns Chefe Victor Sobral, que continue que levar além mar o nome de Portugal.

    NB- Boa foto o protagonista maior que o monumento.

    Abraço
    Carla

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