Onde Salazar caiu!

(Foto de Eduardo Gageiro)

Desde o fecho do Instituto de Odivelas, em 2015, que o Forte de Santo António da Barra estava a degradar-se e a ser vandalizado. Que tem uma coisa a ver com a outra? – perguntar-me-á. Tem, já que o Forte era utilizado como colónia de férias das alunas do Instituto, o que obrigaria a um maior cuidado e vigilância.

Em boa hora foi assinado um protocolo entre o Ministério da Defesa e a Câmara Municipal de Cascais para que esta o recuperasse e o dinamizasse como mais um pólo histórico-cultural do concelho. Quero acreditar que a concessão à autarquia se estenda por bons anos e não se fique parcamente por este primeiro, dado o investimento de milhões efectuado nesta operação de maquilhagem que irrepreensivelmente esconde as malfeitorias a que a fortaleza esteve sujeita, e a mais valia que esta representa para quantos a queiram visitar.

Hoje o Forte foi só meu e da equipa de reportagem do “Você na TV”, mas aos fins-de-semana abre à comunidade com toda a sua história de mais de quatrocentos anos. O Forte foi mandado construir por Filipe I, para defesa da barra de eventuais ataques de navios ingleses. Mais tarde, por alturas da Guerra da Restauração (1640), a sua configuração terá sido alterada e já no século XX terá sofrido nova intervenção, então para o adaptar a residência de Verão do Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, passando por isso também a ser conhecido como Forte Salazar. Salazar usava-o no mês de Agosto, quando as meninas de Odivelas iam para as suas respectivas casas, fazendo questão de pagar o aluguer do seu próprio bolso. Era o próprio quem o dizia, justificando o pagamento: “O Presidente do Conselho tem direito a viver num edifício do Estado, não em dois!”. Foi neste Forte que, precisamente há cinquenta anos (3 de Agosto de 1968), se deu aquele que ficou conhecido como o acidente da cadeira. Salazar, era num dos pátios do Forte, e preparava-se para ler o Diário de Notícias, que o seu barbeiro (há quem diga que terá sido o calista) lhe teria levado. O governante acabaria por cair desgovernado no chão, batendo fortemente com a cabeça na laje rugosa ou porque confiou e a cadeira não estava no local habitual ou porque a cadeira de lona cedeu ao seu peso. Ainda há quem diga que a queda se deu no escritório ou na casa de banho. Vingou a história da cadeira, a mesma que acabaria nas profundezas do mar, atirada que foi num ímpeto de raiva pela Dona Maria, a zelosa governanta. Era o início do fim do salazarismo e o regime de décadas ficava com os anos contados.

9 comentários a “Onde Salazar caiu!

  1. Maria Sousa

    Boa Tarde Manuel

    Pois é pena que por vezes se deixe ao abandono parte da nossa história, mas ainda bem que foi recuperado.
    Tem uma vista maravilhosa.
    Também é pena que não se deixe lá passar as férias as crianças mais desfavorecidas deste país, sempre se dava vida ao local.
    Gasta-se tanto dinheiro em tantas outras coisas mal gasto!!!
    O Salazar foi um ditador em Portugal, mas teve algumas posições de louvar, o poupar os gastos em Portugal e a sua forma de poupança pessoal. Não era corrupto nem utilizava a seu belo prazer os dinheiros do estado. Talvez se fôssemos assim não tínhamos chegado às dívidas que chegámos.
    Beijinho grande

    Maria Sousa

    Responder
  2. Helena Loureiro

    Olá.
    Como se costuma dizer: -Quem o viu e quem o vê.
    Não há muito tempo, vi uma reportagem sobre o forte, que revoltava qualquer um, que ame o nosso património.
    Folgo em saber que lhe deitaram a mão ainda a tempo, embora pelo que na altura vi, muita coisa já não tivesse recuperação.
    Espero que aconteça o mesmo a tantos outros que infelizmente proliferam pelo nosso país.
    Obrigada pela boa noticia
    Helena

    Responder
  3. Paula Colaço

    Excelente texto. Além de muitíssimo bem escrito (português irrepreensíve)l, revelador de profundo trabalho de pesquisa.
    Muitos jornalistas o deveriam ler!!
    Obrigada pela viagem virtual até ao Forte de Santo António. Obrigada pelo excelente trabalho!

    Responder
  4. Paula Colaço

    Excelente texto. Além de muitíssimo bem escrito (português irrepreensível), é revelador de profundo trabalho de pesquisa!
    Muitos jornalistas o deveriam ler !!!
    Muito obrigada pela viagem virtual que nos proporciona.

    Responder
  5. Madalena Ferreira

    Olá!

    Uma boa lição de história, tem uma vista maravilhosa, quer se goste ou não – da história ou da vista!
    A recuperação do forte parece-me bem. Existem outros a precisar do mesmo tratamento, oxalá estejam na lista para futuras recuperações.

    Cumprimentos,

    Responder
  6. Inês Lourenço

    Bom dia Sr. Manuel Luís , tem umas fotografias lindas e esse sitio é esplendoroso mas creio que o nome do forte não será Santo António da Barra mas sim São Julião da Barra .. continuação de excelente dia

    Responder
  7. Marina Borges

    Fui muito feliz nas colónias de férias do instituto na minha juventude.Era um espaço único para meninas tão jovens passarem o verão.O dramático fecho do instituto de Odivelas precipitou também o encerraram de memórias que tantas mulheres deste país guardam.Tambem o convento em Odivelas esta ao abandono, foi para isto que encerraram uma escola tão brilhante?

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *