Há sempre uma história ou estória (quando não provada, o que parece ser o caso)para justificar um nome, um dito, uma designação, o que seja! Então eu que gosto sempre de saber o porquê das coisas! Quando se fala de Arronches diz-se muitas vezes ser “a terra dos porcos”, já o tinha escutado ao próprio do Gonçalo (dos Câmara Pereira) que ali vive a maior parte do tempo e até penso que foi ele quem me explicou que em tempos idos os arronchenses tinham por hábito, logo pela manhã, abrir a porta das pocilgas para que os animais fossem para o campo e certo era que pela tardinha todos eles voltavam, cada um ao seu chiqueiro. Não havendo família que não tivesse pelo menos o seu reco, para sustento da casa, já que dele tudo se aproveita, está bom de perceber porque é que a vila é, ainda hoje, assim conhecida!
Mal parecia era que eu não a conhecesse a trinta quilómetros que sou dela, quando por este chão me quedo! Foi desta e comecei pelo almoço na “Estalagem”, casa de bons e autênticos comeres onde antes do justo Abril era sítio de pernoita para viajantes e seus animais (cá está, daí o nome!). Há objectos da lavoura e chocalhos decorando as paredes e evocando tempos de míngua e outros tormentos.
Provei do generoso e refrescante gaspacho, tal qual se levava para o campo, com tomate, cebola, pepino e pimento, tudo migadinho, fio de azeite, golpe de vinagre e o mais de água, para a seguir ficar-me pelo lacão, que é parte do pernil, assado no forno, tudo acompanhado por um “Vinha das Romãs” do “Monte da Ravasqueira, um tinto de grande qualidade, dos pesados dizem os que não apreciam tanto, quanto eu, estes alentejanos de se mastigar!
Dali, bem atestado, fui alimentar o espírito, sempre mais faminto que o estômago, na Matriz da vila, consagrada à Senhora da Assunção, imagem que o retábulo-mor em talha dourada exibe ao centro. Notei no portal junto à torre sineira uma curiosa expressão gravada na pedra: “paraíso para sempre, inferno para sempre”, a carecer explicação (fica para uma próxima, quem sabe em conversa com o senhor padre). No coro alto podem-se contemplar dezenas de peças sacras, a maior parte do século XVIII, entre imagens de roca, missais e bandeiras processionais. Não falta sequer um modelador de hóstias, menos santificado por certo mas não menos curioso. Parece que o espólio durante anos esteve para ali disperso e ao abandono, pelo que urgiu o seu restauro, avaliação e estudo , dizem-me que muito por vontade da autarquia (abençoada!) que isto, quando toca a entrar em despesas, não vai lá com ladainhas!
Na hora de voltar ao monte, senti, como sempre, a simpatia dos da terra entre sorrisos e acenos. Como a das senhoras “guardiãs” da Igreja, enternecedoramente vaidosas pelo que zelam e partilham. Fazem duas horas de manhã e outro tanto à tarde, e mais senhoras há que igualmente se voluntariam para diferentes dias da semana, que a Igreja é para ser mostrada a quantos vêm à vila. “E olhe que há muitos turistas, sobretudo espanhóis!”.
Em Arronches só o nome é que arranha, a vila é bonita, de ruas alvas, limpas e floridas, de gente simpática e prestável, e com vários motivos de interesse, não falta até um inesperado “Museu de (a) Brincar” que tenho em breve de visitar.
De regresso a Monforte atravessei a linha do Leste, a mais antiga ferrovia portuguesa, não há muito tempo recuperada para o transporte de passageiros em todo o seu traçado, no preciso momento em que junto ao apeadeiro de Arronches, uma automotora retomava a sua marcha a caminho de Portalegre. Lembrei-me então de como me deslumbravam estas máquinas quando vinham da Lousã vomitando fumo, rasgando o Largo da Portagem na Coimbra da minha infância (pior sorte teve tal via com a vã promessa de um Metro do Mondego. Mas isso, são “outros quinhentos!”)
Só ouco falar do Alentejo porque maior parte fala do Alentejo sem ser os habitantes ou os w lá nasceram com pedantismo,acham que é chique ter casa no Alentejo porque dantes as grandes fortunas tinham lá casa.Eu prefiro o Ribatejo com a sua beleza o seu encanto e o seu tipicismo.Os pegadores,os touros,os campinos a garra desta gente França e brava Viva o Ribatejo .
Olá Manuel
Adorei, as imagens são lindas, adorei especialmente o portico onde estão as Senhoras à porta e o Menino Jesus.
Nós temos um vasto património em Portugal com imagens maravilhosas.
Desejo-lhe continuação de um bom descanso e boas visitas a novos locais.
Beijinhos
Maria Sousa
Com este excelente relato, fez-me viajar pela minha terra, que há muito visito.
Gosto mais que lhe chamem a terra da ciência, como dizia o meu avô, um Arronchensse que amava a sua terra e que me transmitiu esse amor. Terra fabulosa que até Camões se referiu nos Lusíadas.
Sou descendente de naturais de Arronches é um destino de férias com crianças ou não, de eleição para disfrutar da natureza as piscinas municipais, o museu do brinquedo, museu de arte sacra, as pinturas rupestres, a verdadeira gastronomia alentejana, os bons vinhos, as caminhadas na natureza ou de bicicleta perto de Badajoz para dar um saltinho às compras. Os concelhos à volta tb têm sítios interessantes. Venham que vale a pena.
Sr. Manuel Luis, venha tambem visitar as freguesias de Arronches : Mosteiros e Esperança, valem a pena … Faça uma paragem na capela do Rei Santo onde se tem uma vista deslumbrante sobre a planice alentejana , poderá talvez ver tambem a sua propriedade.
Cumprimentos
Alberto
Caro Manuel Luís
Aproveite para vir a Arronches nos dias 13,14 ou 15 de julho, por altura da FAE – Feira das Atividades Económicas!
E se voltar noutra altura, sugiro-lhe que além do Museu de (a) Brincar, visite também as Pinturas Rupestres de Vale de Junco, que ficam na freguesia de Esperança!
Uma autêntica Flôr Bela Espanca em prosa…
Já passei férias por esses lados e até sonhei ter uma casinha nesse Alentejo que tanto amo e que tanto passeei
O Manuel Luís fez me recordar esses tempos tão bons, desde os cheiros, paisagens, comida e gentes
Boas férias e um abraço com carinho
Adorei o passeio sem sair de casa,continuaçao de boas ferias
Obrigada Manel por nos mostrar um bocadinho sempre maravilhoso do nosso pais ficamos sempre mais ricos de conhecimentos boas férias beijinhos para os dois
Muito bem…
Seria de guardar estas passagens da vida, para mais tarde um livro editar
Já visitei esta igreja.
Quando entrei, estava a missa a decorrer. Assisti até ao fim, para depois fazer a visita. Também lá estava o Gonçalo da Câmara Pereira e, fui presenteada pelo Sr. Padre com algumas explicações e, com a oferta de um livro sobre a igreja.
Fiquei maravilhada.
Obrigada Manuel Luís Goucha, por me fazer reviver este momento tão bonito.
Beijinho grande e continuação de boas férias.
Angelina de Fátima.