Era para ter sido o edifício icónico da cidade do Porto, enquanto capital europeia da cultura em 2001, mas só foi inaugurada quatro anos depois, em 2005, e sessenta milhões de euros a mais dos quarenta previstos para a sua construção. Incumprimentos e derrapagens não são coisas que por cá se estranhem, infelizmente. Nada que deslustre a Casa da Música, a viver o seu primeiro decénio de vida, como um dos mais emblemáticos edifícios da cidade, a que ninguém fica indiferente. Sou dos que gosta e muito, e nela vê como que uma caixa de surpresas. Talvez já tenha discutido a sua localização, mas ao perceber o intuito de quem a arquitectou ao querê-la ali como que um meteorito que tivesse caído provocando ondas de choque (cultural) deixei que a ideia se entranhasse e conquistasse a minha “aceitação”. Vamos lá então tentar conhecer algumas das tais surpresas que a Casa esconde.
Materiais limpos e industriais, entre o betão e o metal, tornam o espaço depurado e é por ele que vamos em direcção ao “coração” da casa, a sala de todas as músicas.
A Sala Suggia, evocativa da mais famosa violoncelista portuguesa do século XX (Guilhermina Suggia), oferece a mais exigente das acústicas, dado os materiais usados no seu revestimento, como o pinho nórdico e mesmo o vidro ondulado. De grandes dimensões, aqui se realiza todo o tipo de eventos musicais, do jazz ao fado, passando pela música sinfónica. A luz da cidade entra-lhe a rodos, por rasgadas janelas a norte e a sul. Há quem diga que dificilmente se encontra outra sala assim, em toda a Europa, onde seja possível assistir a um concerto em pleno dia com luz natural.
Nesta sala, em parte, revestida a espuma, também é possível o encontro com a música, tendo sempre no olhar trechos da cidade à volta.
Era para ser um café, ficou como sala Renascença, revistada a azulejos com motivos geométricos.
Já esta outra é a Sala VIP, guardada para ocasiões mais especiais, como certos eventos protocolares, por exemplo. Quis o arquitecto da Casa, Rem Koohlaas, que aqui se celebrasse a pujante azulejaria portuguesa e holandesa, bem como a relação que, entre os séculos XVI e XVII, se desenvolveu entre ceramistas, pintores e oleiros dos dois países. Por isso aqui se reproduzem em réplicas, pintadas à mão, os motivos sacros, históricos e etnográficos presentes na azulejaria portuguesa, nomeadamente em painéis que cobrem a estação de São Bento, e cenas da corte holandesa.
Que a última imagem seja a da cidade que do terraço se abarca.
O Porto tem na Casa da Música um dos mais desafiantes exemplos da arquitectura contemporânea, que merece a sua visita. Pode ser em qualquer dia da semana e há vários horários à sua escolha. Melhor ainda se assistir a um concerto, consoante as suas preferências musicais, já que é tão vasta e eclética a sua programação.
Uma visita à Casa da Música
para ver no Você na TV, aqui.
Obrigada Manuel Luís. o seu Blog é de facto um exemplo para tantos outros que por ai andam, que são só futilidades, exibicionismos para alimentar egos e nada se aprende!!!
Cada tema seu, com o seu cunho pessoal sempre, nos desperta todo o interesse em cada parágrafo!
Outra coisa não seria de esperar de um grande Ser Humano, e com uma cultura geral inegável!
Um grande abraço, e continue sempre a pessoa maravilhosa que é, que eu sempre admirei.
Teresa