Eu e Jacqueline Bisset

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Em a vendo não se acredita que já foi gorda e sem graça! O cabelo era em desalinho, porque seco à lareira, depois de encaracolado às escondidas do pai, por ser severo e nada dado a modernices. O mais trepava às árvores, feita “maria rapaz”, mas também lia e sonhava… sonhava… sonhava. Queria ser bailarina, e logo como Margot Fonteyn… Acabou por ser modelo fotográfico… mas sem grande êxito, está bom de ser, que a ser verdade o que acima se disse, sobravam-lhe bochechas e caracóis. “Era um caso irremediável!”.

Da experiência ficou algum dinheiro para poder entrar na escola de teatro e, sobretudo, um jeito único de lidar com a objectiva. Entre uma e outra há como que uma relação de encantamento: “é uma relação amigável, desde que de igual para igual. Para isso, será necessário que a câmara fotográfica esteja ao mesmo nível que eu. Quando uma pessoa me fotografa, por exemplo, deitada no chão, sinto que não está comigo! Nesse caso há uma relação de prepotência que não suporto”. Como que adivinhando o nosso pensamento logo diz que não por ter receio de denunciar a idade: “Claro que ninguém quer ficar horrível numa fotografia! Mas no meu caso é essencial sentir-me bem, sentir-me à vontade ao ser fotografada. Há todo um conjunto de vibrações, as minhas e as de quem está por detrás da objectiva! Acreditámos que assim fosse, afinal a actriz que na altura da nossa conversa já iria nos cinquenta continuava a esbrasear com a sua beleza. Usava um vestido preto de peitilho, mangas e parte da saia em musselina. Só os punhos e a gola contrastavam por serem alvos.
Lembro-me que por duas ou três vezes se perdeu na conversa, tal o tropel das palavras: “É que tenho tanta coisa para lhe contar”, disse-me em jeito de justificação. E tinha mesmo!

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Talvez Truffaut tenha sido mesmo o primeiro a dar pelo seu talento e a actriz não o esquece: “Truffaut era o verdadeiro autor dos seus filmes. Escrevia-os, produzia-os, realizava-os e distribua-os. Ao trabalhar com ele, tive de pôr de lado as minhas percepções para entrar no seu mundo. Era um homem de grande sensibilidade e modéstia”.
Opinião diferente teria de George Cukor, apesar de gratulada por com ele haver trabalhado em “Célebres e Ricas”. “Cukor era autoritário. Zangava-se quando abrandávamos. Havia sempre que andar depressa… depressa. Agora, para mim, foi muito importante fazer esse filme. Tratava-se de um papel que eu queria muito interpretar. Nele pude utilizar quanto aprendi com os anos”. Pior foi a reacção de alguns colegas e outras pessoas do meio, pelo facto de ter sido também co-produtora do filme: “quando era só actriz tudo estava bem. Oh! A Jacquie é tão querida! Ao ser co-produtora, pelo visto, passei a ser uma ameaça. Aprendi que Hollywood é uma selva!”. Conluios e tramações não são de todo com ela, afiança-nos. Depois não gosta que lhe imponham regras. Teria sido por isso que não havia casado? A resposta não se fez esperar: “Não sei, mas talvez tenha tido alguma influência. Não sou contra o casamento. Tenho tantas amigas minhas que são espertas, inteligentes, lindas, organizadas e os casamentos delas são um fracasso. Talvez por terem criado demasiadas expectativas. A minha felicidade não passa pelo casamento. Apenas quero que me deixem ser eu própria”.

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Talvez o tenha sido ao longo da nossa conversa e mais tarde, quando voltou a cavaquear com os jornalistas presentes no estúdio, distribuindo sorrisos e autógrafos. Já misteriosa terá sido a sua partida, antecipou-a um dia e curiosamente fê-lo quando soube que Faye Dunaway, que estava para chegar, queria jantar com ela em Lisboa. Perante a nossa estranheza não desarmou: “A cidade é tão bonita que merece o meu regresso com mais tempo e calma!”.

Não sei se alguma vez voltou!

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1 comentário a “Eu e Jacqueline Bisset

  1. Carla

    Manuel
    Nem parece o mesmo, gosto muito mais agora, Jacqueline uma mulher bonita, elegante, inteligente, penso como ela , o importante é sermos nós próprios, independente da opinião alheia.

    Sabedoria
    “Apenas quero que me deixem ser eu própria”.

    Carla

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