Desengane-se se pensa que chega à Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent, em Paris, compra um bilhete e assim ganha o direito de entrar no estúdio do criador de moda. Não, o ingresso terá de ser adquirido atempadamente através deste sítio na internet (www.cultival.fr) e olhe que a admissão faz-se em pequenos grupos de cada vez. Mas vale a pena, digo-lhe eu que assim o fiz há duas semanas, pelo que pude entrar num espaço de emoções e paixões secretas, que muito nos conta do homem que soube, como ninguém, romper com os códigos da moda então vigentes. Durante uma hora somos arrebatados pela personalidade que ali, entre quatro paredes eloquentemente alvas, viveu o mistério da criação. A bata branca é pousada sobre a sua cadeira, como se dali a pouco a fosse vestir, feito artesão, para um ritual de glorificação das mulheres, seus ídolos maiores. Impenitente homossexual, Yves Saint Laurent amava as mulheres e queria-as confiantes e fortes.
Sinto o espaço, a um tempo, refúgio e prisão, onde muito poucos tinham o privilégio de entrar, e para onde convergem todas as energias criadoras do costureiro. É ali que bate o coração da obra de Yves Saint Laurent. Há objectos pessoais sobre a mesa de trabalho, como os seus inconfundíveis óculos de massa, alguns troféus, como o dedal de ouro, e vários lápis de carvão os mesmos que maculavam o branco do esquisso para que a criação se decidisse: “quando pego num lápis não sei o que vou desenhar (…). Começo pelo rosto de uma mulher e é então que o resto surge. É o imprevisível milagre do instante. É a criação em estado puro, sem preparativos. Quando o esboço está completo, então sim, sinto-me feliz!”
Dizem-nos que a história se repetia duas vezes ao ano, no princípio de Junho e o mesmo em Dezembro. Yves Saint Laurent fechava-se na sua casa em Marrakech, durante quinze dias, para ali trabalhar vertiginosamente na nova colecção.
Regressava sempre com imensos esboços, dentro de uma maleta de couro vermelho, todos belos e cheios de movimento, que eram depois espalhados pelo chão do estúdio, frente ao grande espelho que domina toda uma parede, para uma primeira escolha. Surpersticioso, Yves Saint Laurent acreditava no “toque de Midas” de Moujik, o seu amado bulldog francês, fosse ele o primeiro, o segundo ou o terceiro, que em lhe morrendo um cão outro lhe sucedia com o mesmo nome.
Desenho tocado pela pata de Moujik teria necessariamente sucesso. Os esboços escolhidos eram materializados em tela, nos ateliers onde trabalhavam mais de 100 pessoas, para depois serem vestidos e passados no estúdio, sempre frente ao espelho, e definitivamente avaliados: ”O vestido em tela tem de ter a magia do desenho. É necessária toda a atenção, para que depois o modelo final, já no tecido escolhido, possa reencontrar essa mesma magia”.
Tudo isto e muito mais ficará a saber se entrar neste antro mágico onde o costureiro se cumpria numa solidão interior e onde “falava” com os seus fantasmas, todos “compagnons de route”: Picasso, Diaghilev, Christian Bérard, Visconti, Matisse, Mondrian, Jean Cocteau (“… sou negro por dentro, rosa por fora”)…
Ele, o poeta da Moda vagueia por entre esboços (mais de trinta mil em acervo) vestidos (mais de quatro mil), acessórios (mais de quinze mil)… numa procura obstinada da perfeição.
Sou franca,era sitio onde nunca imaginaria ir.Mesmo que fosse um dia a frança.Talvez por ter filhos,talvez por nem sequer me passar tal ideia pela cabeça.Consigo fico mais culta e apesar das escassas fotos,já fiquei a conhecer um pouco do que nem sequer sabia que existia.Morreu o artista mas ficou o seu trabalho e o seu atelier.Obrigada