Isto de viver na zona de Sintra e trabalhar diariamente em Queluz acaba por me afastar, muitas vezes, da cidade grande. Sempre que vou ao Chiado, por exemplo, dou por mim a pensar que tenho de regressar mais amiúde para almoçar, beber um café na Brasileira, entrar na “Bertrand”, para me pôr a par das novidades literárias, ou num alfarrabista, para procurar um ou outro livro já descontinuado…
Arranjei agora o melhor dos pretextos para regularmente regressar ao Chiado, que isto de ter barba exige cuidados que devemos confiar a quem sabe do assunto. Posso sempre cortar um ou outro pêlo mais irrequieto, escanhoar o pescoço … mas nada como me sentar numa cadeira de um barbeiro experiente que sabe aparar, desenhar, acertar, desbastar… e já agora vai barba e cabelo ou seja serviço completo. Ainda por cima sabendo que naquelas mesmas cadeiras se sentaram os mais inspirados nomes das artes e das letras da Lisboa de novecentos, como Almada Negreiros, Vitorino Nemésio, Ramalho Ortigão, Ramada Curto, Eça de Queirós, Aquilino Ribeiro, bem como outros reais, exilados pelos grandes conflitos na Europa, como Humberto II de Itália, Carol II da Roménia… É que a Barbearia Campos tem mais de cem anos, imaginem as histórias que pode contar através dos objectos que se expõem e de quanto de original ainda se mantém. “É a mais antiga das barbearias portuguesas?” – perguntei ao Filipe, baeta de serviço, da nova geração, apaixonado pelo ofício. Logo os pergaminhos da casa saíram reforçados que, segundo ele, datada que é a sua abertura de 1886, é bem capaz de ser, como dizem, a mais antiga da Europa. Mantém-se aberta, resistindo à especulação imobiliária que se faz sentir no coração da cidade e que tem levado, infelizmente, ao encerramento de tantas lojas de tradição, por vontade dos herdeiros do fundador e da autarquia, neste caso representada, e bem, por Catarina Vaz Pinto.
Não faltam clientes e muitos são turistas encantados pela autenticidade da casa e da decoração, que está tal qual como à data da sua inauguração, que o eles querem é o mesmo que eu procuro enquanto viajante, é tudo o aquilo que faz a diferença e que marca a personalidade de um centro histórico.
Bom dia
Caro Manuel Luís Goucha
Sabe, tenho por si uma admiração incondicional. Você, permita-me tratá-lo assim, é um exemplo para todos nós.
Inteligência, frontalidade, autêntico
Pessoa de bem,ame, ame e seja muito feliz.
Quando alguém o criticar, seja com o que for, não ligue…. é um borrifo, na imensidão do carinho e respeito que todos têm por si.
Um abraço com muito carinho e amor
Otilia
Estava a ler este post e só me lembrava como gosto de o ler. Dá valor ás tradições e ás coisas. Realça a beleza das coisas do quotidiano. Fantástico. Um beijinho
sofia
Olá Manuel Luís!
Desde que voltou das férias ando para lhe perguntar que produto coloca na barba para que fique mais macia.
O meu marido quer deixar crescer a barba mas como arranha e pica acaba por ter de a cortar
Se puder responder agradeço.
Um abraço e bom fim de semana!
Olá Manuel Luis
É bom ver que ainda haja pessoas que conservam casas e coisas do antigamente, que contam a história de um povo e das artes desse mesmo povo.
Fico muito triste quando vejo deitarem abaixo casas antigas para construirem caixotes para aglomerarem pessoas a magotes. A minha falecida mãe dizia que esses prédios não passavam de “ilhas” ao alto, com a diferença que as antigas tinham um pátio fechado onde as crianças brincavam sem perigos e por isso as familias conviviam e se entreajudavam. Hoje entram no elevador, nem bom dia dizem e nem se conhecem.
Essa barbearia é linda e espero que continue por muitos e longos anos a manter-se aberta
Manuel
Deixou-me com as lágrimas nos olhos, o meu pai era barbeiro em jovem tinha uma cadeira igual a essa mas em verde. Eu sem nunca ter aprendido cortava o cabelo à minha avó, pai, irmão… dizem que quem sai aos seus não degenera. Acho que aprendi só de observar .
Adorei a reportagem, uma das coisas que gosto de ver num homem é um bom corte de cabelo, e agora que a barba está na moda, também a aprecio. Há barbas que dão um charme , toque muito especial.
Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.
Tolstoi
Abraço
Carla
olá
Adorei ler e ver estes tesouros.
Tive um tio que tb tinha uma barbearia assim no Torrão do Alentejo.
O seu documentário reportou me a essa época onde a cadeira exercia uma atração sobre mim…assim como os cheiros dos produtos .
E as conversas ….era miúda e ficsva ali….
Ah…e já agora sou capricórnio e da sua idade.
É um senhor que aprecio bastante assim como cultura e saber.
O que eu aprendo consigo ou recordo.
Grata e um abraço amigo.
Santos Custódia
E pensar que foi tão difícil voltar a erguer esta casa,fugindo ao conceito de museu que nos quiseram “colar”…Trabalhamos com paixão e sempre tentando que a nossa sensibilidade vá de encontro ao pretendido por quem confia a imagem nas nossas mãos.Esta genuinidade é o mote para que cada dia de trabalho prepetue os já 131 anos da arte da barbearia na Campos.Obrigado,dede já pela preferência e confiança
Boa Escolha, Mr Goucha!!! Mto satisfeita por ter sido atendido pelo Filipe! E a barbearia é uma maravilha! 🙂
Bom Dia Manuel Luis
Como sempre umas otimas fotos
E pena e o Chiado e a Baixa ja nao terem as grandes lojas de antigamente!
Como lisboeta tenho muitas saudades desses tempos.
Casa Africana Armazens do Chiado Lanalgo
Os meus ultimos dez anos de vida profissional foram no Lg do Calhariz
Bom fim de ssemana
semana
B