Lembro-me como se tivesse sido ontem e já lá vão cinquenta anos. A 6 de Agosto de 1966, curiosamente também num sábado quente como este, era inaugurada com toda a pompa e circunstância a tão desejada Ponte sobre o Tejo, na altura baptizada com o nome de Salazar, diz-se que contra a sua própria vontade, já que o então Presidente do Conselho de Ministros entendia que o nome de um político só deveria ser dado a uma obra pública ou monumento duzentos anos após a sua morte, a não ser que fosse um Chefe de Estado, melhor ainda se um rei, por os entender como símbolos maiores de uma Nação. Terá sido Américo Thomaz a convencê-lo, até porque o baptismo da ponte era assunto da sua inteira responsabilidade, enquanto Presidente da República, não sem que Salazar tivesse profetizado: “o meu nome ainda há-de ser retirado da ponte e por causa do que agora se faz os senhores ainda vão ter problemas”. E assim foi com o advento da Democracia, se bem que muitos continuem a não concordar que a ponte seja chamada de “25 de Abril”. Ainda que ela se revele como a obra publica maior do Estado Novo, colmatando a frustração que Salazar partilhava com Franco Nogueira quando dizia: “não deixamos nada para marcar a nossa época, a nossa geração…” preocupado que esteve em construir uma mentalidade, que ainda subsiste em muitas cabeças, a verdade é que a ideia da construção de uma ponte que ligasse as duas margens é bem mais antiga. Os primeiros estudos sérios, para tal, surgiram pela mão do engenheiro Miguel Pais no ano de 1876. Isso mesmo foi referido na cerimónia de inauguração da ponte, no discurso proferido por Arantes e Oliveira, o então ministro das obras publicas de Salazar.
Tudo acompanhei naquele sábado de há cinquenta anos, através da transmissão em directo da RTP: dos cânticos ao desfile das figuras gradas da política e da sociedade, passando pelos discursos, enjoativos de tanta bajulação para com Salazar, como o de França Borges, presidente da autarquia, ou sonolentos como, aliás, eram todos o do Presidente Thomaz, até às benzeduras do Cardeal Cerejeira.
Não pedi pitada do que a televisão nos mostrou, que sempre gostei de pomposidades e discurssetas. A festa, contudo, não ficou por ali, o povo teve direito a fogo estrelado e aos arraiais, já os figurões do regime e seus convidados teriam as recepções de gala, como a que decorreu nos jardins do Palácio de Queluz, sem que faltassem a música africana do Duo Ouro Negro e os fados de Amália.
Por me lembrar de tudo isso quis ser eu fazer a reportagem para o “Você na TV” (que pode ser vista aqui), celebrando a efeméride, não perdendo assim a rara oportunidade de conhecer a ponte por dentro, da base de um dos seus pilares ao topo, a mais de duzentos metros do nível da água, passando pelo tabuleiro ferroviário. Confesso que parti para a empreita com algum desconforto, é que não sou muito dado às alturas, a não ser no
aconchego de um avião, mas em me decidindo não há volta a dar, é seguir em frente e logo eu que não tenho santinhos a quem me encomendar. Pé firme e força nos braços, que houve que subir muitas escadas e passar por portas acanhadas e escotilhas, valendo o esforço por todos os anos que faltei ao ginásio e pela emoção de me sentir dentro uma imensa estrutura de aço, obra notável de engenharia. Não vou esquecer a experiência. Já lá vão cinquenta anos, a Ponte sobre o Tejo continua segura (por toda a manutenção permanente, a exigir um investimento anual de mais de quatro milhões de euros) imponente, desafiadora, moderna e por certo a merecer a confirmação da distinção com que foi honrada em 2014, ao ser considerada a mais bela ponte da Europa. Venham mais cinquenta! Com jeito, ainda faço a reportagem, o problema vai ser o andarilho!
Leitura sugerida:
“A Ponte Inevitável”, de Luis F. Rodrigues, editado pela “Guerra E Paz”, onde pode ficar a conhecer toda história da Ponte sobre o Tejo, contada pelo autor de forma apaixonante, como se fora um romance.
Parabens Manuel Gocha uma repotagen fabulosa ,alias como tudo que voçe fas .Esplendida mesmo . Obrigado por partillar
Un abrazo apretado
A minha mae adorou as fotos . Um abraço
… obrigada pelas “janelas” que abres e partilhas.
Ajudas a perceber que o meu olhar pode ir mais longe do que a rua onde moro!
cristina
Olá Manel!
Será que pode ir partilhando as suas leituras? Sugestões nessa área são sempre bem vindas!
Manuel
Já vi que não tem medo das alturas.
Preciosas fotos, reportagem, parabéns a toda a equipa.
NB- Ontem ouvi-o dizer que retirou uma foto sua do face na piscina, na minha opinião não o devia ter feito, quem opinou o maldizer tem o elixir da juventude. Vai ficar sempre novo, com muito cabelo, sem rugas, pobres dos que pensam assim. Pensei que já tivesse imune a essas criticas, sabe quando eles vão à água não se despenteiam, não mostram os pneus, tem corpos dos deuses Gregos.
Todos temos fragilidades, saber aceitar-nos como somos é um treino, aprendizagem.
Os cães ladram e a caravana passa.
Abraço
Carla
Adorei esta reportagem fotográfica sobre a Ponte, bem como o texto, muito bem escrito, que a acompanha. Gosto cada dia que passa mais do seu trabalho. Bem Haja Manuel Luís. Beijinhos
Manuel Luís, muitos parabéns!!! As fotos estão brutais… Obrigada pela partilha….
Que outra forma de estar na ponte não estando lá?… Só assim… Homem de coragem, devo dizer… Mas tal como há 50 não se esqueceu do que viu na TV, na inauguração, também não se esquecerá desta visita…
Bem haja!…
Obrigada….
Beijinhos…
Olá Goucha!
Vi a sua reportagem no programa e na altura só pensava “aquela máquina no fim vai ter fotografias incríveis”, e aí estão elas. Parabéns, gostei imenso. Tanto da reportagem como das fotografias.
Olhe que fiquei orgulhosa de o ver subir e descer toda a ponte. Sou uma jovem de 23anos mas que gosta de acompanhar o seu trabalho e o da Cristina. Digo isto muitas vezes, e sei que o sabem, mas a vossa maneira de chegar a nossa casa é unica. Obrigado por isso, é bom.
É bom ver a física e a química que a vossa equipa tem. É bom rir com isso e aprender muita coisa.
Bom final de semana
Eu estive toda a manhã a ver na RTP e depois do almoço o meu pai meteu tudo no carro – mulher, filha e cães e lá fomos passar a ponte para lá e para cá. Foi uma enorme emoção.
E depois veio a diversão ou distracção total – em Outubro de 1966 entrei no Liceu Rainha D. Amélia e nada melhor que contar os carros que passavam na ponte durante as aulas. Isso era possível porque entre a parte fixa e a suspensa havia uma espécie de rolamentos que faziam barulho quando as rodas dos veículos passavam por cima.Nos anos 80 nova experiência. O autocarro avaria em cima do tabuleiro e mandam-nos sair para que quem passasse nos desse boleia para sairmos do tabuleiro.Decidi caminhar um pouco no passadiço protegido do lado direito e arrependi-me porque foi quando tive a percepção nítida de que a ponte balança. Já o havia sentido dentro dum carro em dia de engarrafamento, mas ao vivo com pés assentes no metal e com o vento na cara é muito diferente. Desde 1980 que vivo em Almada e como sou alfacinha de gema ( nascida em Lisboa e filha de pai e mãe também nascidos em Lisboa) podia finalmente dizer ” vou à minha terra”. Mas perdi esse entusiasmo porque a ponte é cara e com demasiados engarrafamentos. É triste mas é o que sinto. Hoje a ponte que tanta alegria e diferentes emoções me deu deixa-me desalentada e sem vontade de nela passar.
Mas viva a ponte e no centenário vou lá estar pendurada no ponto mais alto e a brilhar porque serei uma estrela no céu ( terei 110 anos).
Vi a sua reportagem e foi uma delícia.
Beijinhos
Maria Clara Azevedo
Que belas fotos sem dúvida sr. Manuel Luís Goucha.
Sem dúvida que a ponte é e sempre será uma grande obra, que proporciona fotos magníficas, e quando vi e ouvi no Você na TV, que o Manuel Luís Goucha ia subir ao ponto mais alto, não acreditei, enganei-me redondamente, parabéns pela coragem, e consequentemente pela excelente reportagem.
Eugénio Ferreira
Olá MLG!
Uma boa lição de história e fotos fantásticas.
O colete não é bem o seu género?! É muito diferente dos que usa habitualmente, mas foi por uma boa causa, obrigada pela partilha!
Bom fim de semana,
Ola Manuel Luís Goucha sou uma grande admiradora sua e da Cristina Ferreira já tentei entrar em contacto com os dois mas não consigo somos só família de sete crianças menino 17 anos, menina16 anos,menino14 anos,menino 13 anos,menino 12 anos,menino 2 anos e uma menia 2meses o meu marido arranjou recentemente Trabalho no Algarve e temos tido algumas dificuldades não tenho máquina de lavar roupa será que me podem ajudar obrigada
Pois eu tive a sorte de acompanhar a inauguração da ponte num barco no Tejo , barco esse destinado à CP e lembro-me como se fosse hoje. Foi uma cerimónia digna de algo tão importante para Portugal. Já à tardinha, atravessei-a de carro , até à outra margem. Um dia inesquecível para uma miúda, na altura com 10 anos e lembro-me de me sentir muito importante. Bom fim de semana, Manuel Luís.
é possivel subir a ponte? esta experiencia esta aberta ao publico ou foi so para a reportagem?
Parabéns pelas excelentes fotografias.
Obrigado por nos dar a conhecer e, mostrar sítios que não são acessíveis a todos.
Continuação de muito bom trabalho, para que nos possa brindar com estas belezas.
Beijinho grande para si Manuel Luís Goucha.