A senhora dos panos brancos

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Andou meio mundo a falar da mariposa que se “colou” ao rosto de Cristiano Ronaldo, como que a beber-lhe as lágrimas, no momento em que o campeão percebeu que fazer parte daquela final era para ele um imenso sonho perdido.

Foi o momento que mais me tocou naquela gloriosa noite e logo me lembrei de um outro idêntico que há uns anos cumpliciei, igualmente como espectador. Na televisão começava, então, a oficiar Luísa Castelo Branco, num programa com nome próprio, prova de que não há uma idade para começar. Percebi que a convidada era pessoa da sua confiança e com uma história de vida incrível. Marinela, não mais esqueci o seu nome e só espero agora ser fidedigno ao reproduzir o que lhe ouvi, nasceu em Angola e a sua casa era uma cubata com um único cómodo onde se tudo fazia. À noite estendiam-se, sobre terra batida, as esteiras para sossego dos corpos moídos de trabalho, as mesmas que se enrolavam ao raiar de cada manhã, para dar lugar à lida que enche uma casa inteira. Um dia, ao acompanhar a mãe, Marinela ficou deslumbrada com o que viu lavar no rio. “São os panos brancos do senhor” – ouviu-lhe dizer como resposta ao espanto. “É neles que os brancos se deitam” – , continuou a mãe, já com Marinela procurando-lhes o toque, ela que só conhecia a aspereza da palha. A partir de então, Marinela passou a sonhar com lençóis imaculados e jurou que um dia haveria de os ter. Veio para Portugal com os senhores brancos, nos idos da independência, deixando para trás mãe, adolescência e um país em guerra fratricida. E foi aqui, recém chegada, que teve, pela primeira vez, uma cama só para si, com lençóis. A pequena Marinela ajoelhou no chão, pousou a sua cabeleira negra na cama e assim adormeceu, para não amachucar os panos brancos do senhor.

Muito mais contou: sobre como abraçou esta terra que lhe era estranha, e como aproveitou todas as oportunidades para se fazer mulher e profissional gabada. As famílias, mais exclusivas, confiavam-lhe os corpos para que as suas mãos de seda lhes massajassem as carnes. Marinela instruiu-se, sofisticou-se, passou a frequentar a Gulbenkian, estâncias de neve, como Aspen, mas ter uma colecção de panos brancos era o seu mais desejado sonho. Vinte, queria ter vinte lençóis. A dado momento é a própria Luísa quem lembra a empatia que rapidamente se cria quando se está junto a Marinela. E é quando fala de como até as crianças e os animais gostam dela, que uma borboleta, saída não se sabe de onde, dá duas voltas em Marinela e desaparece.

Guardei esta história no fundo da memória, agora avivada pelo caso recente. E pus-me a pensar, eu que não tenho Fé que me dê certezas, que as mariposas são atraídas pela luz. E nisso acredito: em pessoas luminosas que enchem de amor o olhar.

34 comentários a “A senhora dos panos brancos

  1. Paula Martins

    Manuel (como gosta de ser chamado ) e para quando um livro
    Escreve tão bem ,aquele momento do Ronaldo foi único como ele o é ele é uma pessoa muito especial
    Mas o goucha é alguém extraordinário sou sua seguidora desde a praça da alegria
    Se há pessoas com luz o Sr é sem dúvida uma
    Obrigado por existir , P.M

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  2. Maria José Sousa

    Luminosos são os seus dias e com eles transmite a luz que muita gente precisa ouvir e ver. A força que dá enche a alma de quem necessita…obrigada

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  3. Leonor Trindade

    Que linda história, a dessa senhora Marinela!!!! E que bom é ter o Manel a descreve-la…..Como sempre, é imensamente cativante ler tudo o que escreve. Bem haja! Um beijinho.

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    1. Deolinda Ribeiro

      Olá boa noite, gosto da sua forma de escrita, faz me lembrar outros escritores ! Um deles Eça de Queiroz,
      estou certa? 🙂
      Já pensou em publicar um livro, de suas histórias?
      Acho que deveria de ser engraçado, com o ênfase que dá seria …. quiçá de pensar 🙂 .
      Mas teria que contar sem falta o cruzeiro que fez com as suas amigas lá pelas bandas da Grécia do táxi maluco

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  4. fatima veloso

    Há coisas que não são do acaso! Tantos olhos com lágrimas e a borboleta foi logo escolher os do Cristiano!? Pensem o que quiserem… mas que é estranho é. parabéns Manuel Luis por ser quem é…admiro-o muito

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  5. Antonia Ramalho

    Bonita historia de vida que começa mal mas um dia da a volta e se torna a realização de um sonho e que bem que o Manel a transcreve, outra coisa não seria de esperar. Acredito que as borboletas são mensageiras da felicidade e se nas cidades elas raramente se encontram, agora aqui no seu Monte e junto de belas flores, ve-las-a esvoaçar muitas vezes, e que lindas cores elas teem. beijinho Manel

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  6. Maria

    Que palavras deliciosasamente escritas! Que texto tão bom. Quase que me senti a ler um conto. Para quando um livro de “estórias”?

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  7. Cristina cabral

    Boa tarde Manuel Luís! Gostaria só e simplesmente dizer-lhe que o admiro , não só pelo profissional que é, mas pela sensibilidade que demonstra nas coisas mais pequeninas às maiores.
    Grata pela estória!

    Cristina Cabral

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  8. Maria Lia

    Olá Manel , antes de mais adoroo é 5 estrelas e costava de um dia conhecelo pessoalmente. Como sou forreta pra gastar € em um telmovel Xpto!! É com muita dificuldade que leio os seus artigos, a culpa não é só dele tenho que começar a usar oculos! =) um beijinho um bem haja

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  9. Isaltina Ferreira Maia

    Pura e simplismente encantador. É como pensar que estamos a dormir mas, estamos acordados a vêr a presença de um nosso ente querido sentado aos pés da nossa cama a fazêr-nos companhia e, quando lhe queres tocar desaparece…….

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  10. ISABEL FLORIDO

    Engraçado Manuel eu que não sou pessoa de fé como o Manuel tão bem achei que aquela mariposa não estava ali por acaso. o momento foi bonito de se ver eu que nem gosto de futebol estava a ver o jogo e vi a cena e tocou me não sei bem o que senti achei que não era apenas uma mariposa. mas afirmo não tenho fé mas há coisas que não se explicam. ja agora gosto muito do seu programa o Manuel e a Cristina são o máximo.

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  11. Ana Maria zica

    Eu sou subtisiosa com essas borboletas ” na minha terra ,Alentejo ,chamam- se : poisa loisa ! Diziam os velhos ,que são mau presságio ! Eu chamo- lhes bruxas ! Quando me entra uma em casa, não a posso matar. ..acontece algo de mal! Quando vi a dita, no rosto, do Cristiano ,disse logo pra mim : não vais jogar mais hoje ….e assim foi!

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  12. amelia mendes

    Adorei a historia da Marinela comparada com a borboleta que pousa na cara de ronaldo. O Goucha é uma pessoa maravilhosa, mas la no fundo também tem a sua fé.Obrigado

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  13. Gertrudes da Lus Ferra

    Bom dia Manuel Luís. Que texto emocionante. Que o Universo também lhe mande uma borboleta ,porque o Senhor Manuel Luís tal como muitos também é um ser iluminado. Tenha um bom fim de semana . Um grande abraço. Gertrudes

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  14. Graca Barreto

    Que bonito, adorei! Manel gosto muito de visitar o seu blogue, aprendo sempre algo! O Manel Luís é uma pessoa maravilhosa, muito obrigada pela pessoa que é! Beijinho para si.

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  15. Maria da Rocha

    Manel sei que não tem fé já o ouvi dizer varias vezes mas olhe que as vezes temos luzes , jestos ,sinais,que vêm do nada ao nosso encontro que dá para pensar ,gostei muito doque escreveu parabéns bjs

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  16. Adelina Dos Santos Bolivar

    Adorei a historia muito obrigado de nos fazer conhecer de historia destamuito obrigado Manuel Luis Gocha e continue porque voce tem muitos conhecimentos bjs.

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  17. Isabel Almeida

    Sem duvida, quando se é especial há sempre algo inesplicavel à nossa volta
    Você também é, Manuel Luis Goucha, sempre oportuno nos comentários e nas atitudes .

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  18. Maria Jose

    Adorei ler o depoimento fo Manuel Luis
    Deus está nas pequenas coisas…
    Que o Senhor lhe traga muitas bênçãos pois é “homem bom ”
    Abraço

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  19. Sónia Lopes

    “… as mariposas são atraídas pela luz. E nisso acredito: em pessoas luminosas que enchem de amor o olhar.2 bonito e bela analogia, na minha opinião…

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