Se tenho de ter uma ou mais razões para gostar de Manuela Eanes então lá vai: gosto do abraço maternal com que nos envolve, gosto do seu sorriso doce e luminoso, gosto de a saber à frente de uma instituição que há mais de trinta anos luta pelas crianças que o não são, porque abusadas, maltratadas, negligenciadas, gosto da tranquilidade com que ama, gosto do que diz porque nas suas palavras encontro a poesia dos dias…
Manuela Eanes abriu-nos a porta de sua casa, ao Bairro da Madre de Deus, um bairro projectado no Plano Director de Urbanização da cidade de Lisboa em 1938. É a mesma casa de sempre, desde que casou com aquele que viria a ser o primeiro Presidente da Republica eleito após o 25 de Abril, o general Ramalho Eanes. Em casa, cada peça ou objecto tem uma história para ser contada e no jardim há roseiras, laranjeiras, limoeiros mas são as buganvílias que triunfam em cores estonteantes.
Sempre pensei que nos quisesse receber no Instituto de Apoio à Criança, a bem dizer uma segunda casa?
O Instituto de Apoio à Criança é um sonho, uma utopia que procuramos realizar dia-a-dia. E a utopia, a frase não é minha mas gosto de a citar, é apenas o que ainda não se conseguiu. É um esforço de muitas pessoas das mais diversas áreas profissionais, médicos, professores, psicólogos, assistentes sociais e com muitos projectos em curso. Há vinte e sete anos não se falava de crianças em risco, abusadas, maltratadas e por isso o primeiro congresso que fizemos na Gulbenkian foi um quebrar desse tabu terrível. Um dos projectos dos quais nos orgulhamos é o das crianças de rua, pusemo-lo em prática quando na Europa se achava que esse problema apenas se punha em países de África ou da América. Este nosso projecto foi considerado, então, inovador a nível europeu. Em 2001, foi apresentada na Europa a “Federação para as crianças desaparecidas e exploradas sexualmente”, e o IAC é a única instituição portuguesa que está nessa federação. Houve muitos progressos. Ao fim de vinte e sete anos as instalações do IAC são pequenas e ainda por cima estamos dispersos por vários sítios, por isso e sabendo que esta conversa também é uma conversa de vida pensei ser adequado um ambiente de casa onde nos sintamos bem com afecto e compreensão.
Faz sentido que assim seja, já que creio ser nesta casa que encontra a energia necessária para levar a cabo todo o trabalho que desenvolve há tantos anos.
Ganhamos força na família quando há todo esse ambiente de afecto, compreensão, entreajuda e costumo falar disso aos pais quando têm filhos adolescentes. Todos sabemos que os jovens são por norma generosos, muitas vezes há é falta de diálogo, por isso costumo dizer-lhes que sintam os pais como uns amigos em quem podem confiar, que se tiverem algum problema partilhem-no em família, que em casa não está um papão que vai castigar, que vai zangar-se, antes alguém que os compreende para que recomecem a caminhada.
Que valores balizam a sua vida?
Há um pensamento que procuro ter presente em toda a minha vida, é o pensamento de Mounier (1) que nos diz que só existimos quando existimos para os outros, por outro lado procuro estar em paz comigo e com os outros, e ajudar quem está à minha volta a sentir-se feliz , para tal há muitas vezes que procurar ajudar na solução de alguns problemas e a angústia é quando não o conseguimos.
Mas como consegue manter essa serenidade quando tem de lidar com questões tão ignóbeis como a das cranças maltratadas?
Perante situações tão chocantes sinto uma angústia enorme, mas por outro lado uma força que se materializa em muitas pessoas, que trabalham em equipa, nomeadamente no instituto. Isto nunca pode ser visto como o trabalho de um, é um privilégio poder contar com a força de muitas pessoas que conseguem em conjunto respostas para as mais chocantes situações.
Acrescento eu que conheço um pouco do vosso projecto de crianças de rua: muitas das crianças que dormiam sobre as grelhas do metro, que roubavam, que cheiravam cola… foram tiradas à rua e devolvidas a uma infância ou adolescência que não conheciam como dignas.
Não é só o IAC que tem esse tipo de trabalho. Estamos ligados a uma rede de cem instituições que trabalham com estes jovens que já roubaram carros, que já foram sinalizados pelos tribunais, que já experimentaram a marginalidade. Através do projecto “ Educar e formar para inserir”, e em parceria com escolas, entidades diversas e trabalhando com as famílias, conseguiu-se que muitos desses jovens tivessem a escola, uma escola diferente não formal, ocupação de tempo livres com actividades desportivas, formação em exercício, por exemplo repor produto nos supermercados, dar apoio no hipódromo, colaborar em serralharias… ao mesmo tempo fazendo-os sentir que são amados, respeitados e que têm direito a um horizonte digno com família, casa e profissão. Têm de se sentir úteis à sociedade para que não desistam. Por isso, por mais pequena que seja uma vitória, é sempre um consolo para quantos trabalham, diariamente, nestes projectos.
Mas nunca se irrita?
Acho que, quando há algum problema, as pessoas devem conversar e tentar superar as dificuldades. Acho justamente que um dos males do nosso tempo é as pessoas andarem crispadas. Vê-se no trânsito, à mais pequena coisa zangam-se, discutem, explodem… não é necessário, tudo se resolve conversando.
Nem mesmo perante uma gritante injustiça social?
Isso leva-me a ganhar força interior para agir, mas não com irritação. A irritação tira objectividade e ela é necessária quando se procuram soluções. Procuro e procurei ser sempre uma pessoa activa e exigente. “Põe tudo quanto és no mínimo que fazes”, como dizia Ricardo Reis. Por vezes fazem-se as coisas com uma certa leviandade, sem esse grau de exigência.
Herdou esses valores dos seus pais?
Ah, sim! Tive uns pais extraordinários que me apoiaram muito. O meu pai nasceu no concelho de Penedono, terra do Magriço (2), no distrito de Viseu. Os meus avós eram pessoas simples que trabalhavam no campo e ele fez os sete anos do liceu, já adulto, e depois foi para a faculdade de Direito e a minha mãe estava em casa com os filhos dando-lhes todo o carinho. O meu pai dedicou-se muito a coisas sociais. Na aldeia dele conseguiu tudo aquilo que ele não tinha tido. Há uns anos fizeram uma homenagem para celebrar os cinquenta anos do lar que ele criou, levou para lá a telescola, o hospital…
O seu pai, Manuel Neto de Portugal, morreu magoado com o vinte e cinco de Abril?
Teve alguns problemas, ele era director daquilo que hoje seria a ASAE, mas acabou por nos acompanhar, depois do vinte e cinco de Novembro, naquele tempo que era novo, de liberdade e de grandes sonhos também.
Que opinião tinha ele do genro?
Tinha uma profunda admiração pelo meu marido. Tinha um grande orgulho nele. Graças a Deus, porque faleceu aos noventa anos, houve tempo para que entre eles existisse uma convivência muito profunda.
Ainda por cima, o seu marido casou tarde, aos trinta e tais.
Ele diz isso numa entrevista, que tinha trinta e cinco anos e já não pensava em casar. Talvez por ter visto situações de família que não tivessem a dignidade que uma família deve ter. Encontramo-nos, era ele director dos serviços culturais da Academia Militar, e começámos a ir aos concertos da Gulbenkian, a trocar livros… Eu, nessa linha de exigência, sonhei sempre encontrar alguém que tivesse certas qualidades: dignidade, carácter, simplicidade, honestidade.
Foi por essas qualidades que se apaixonou?
Foi por um todo de sensibilidade, carácter, cultura, inteligência…
Foram estes os princípios que passaram aos vossos filhos?
Tenho que agradecer a Deus, por ter dois filhos muito responsáveis, muito trabalhadores, muito afectivos. Têm um relacionamento muito bonito connosco. Têm um enorme orgulho do pai e uma relação de muito companheirismo. Comigo, já é uma relação um pouco diferente que envolve algumas confidências.
Esta casa ficou vazia quando eles saíram?
Não, porque também tivemos a sorte de ganhar duas filhas. Tanto o meu filho mais velho, o Manuel, que está a viver no Porto, como o Miguel, casaram com duas jovens com quem mantemos uma relação muito afectiva. São pessoas sensíveis, inteligentes, óptimas companheiras e mães. Eu já estou a ficar com o menos possível das minhas coisas, coisas de que gosto, mas aproveito o Natal, os aniversários, para lhes dar coisas minhas porque acho que tem valor.
E como é a relação com os netos?
Isso é um encanto! O meu marido gosta imenso de crianças e está muito feliz com os seus meninos. A Joana, a filha do Manuel, só a vemos uma vez por mês, parece que vive do outro lado do Mundo, mas os pais têm muito trabalho, nós por outro lado continuamos com muitas solicitações para congressos, exposições, lançamentos de livros, homenagens e por isso temos muita pena de não estarmos mais com ela.
Teme pelo futuro dos seus netos, sabendo-os numa sociedade desapiedada?
Sabe que sou uma pessoa de fé e na medida que vivemos com eles com muito carinho, acompanhando-os nas suas alegrias, nos seus problemas e nas suas vivências, acredito que em chegando o momento eles darão o seu contributo. Muitas vezes desvalorizamos os pequenos gestos. Um telefonema, um cartão com uma palavrinha de afecto, de apoio, podem ser decisivos para uma pessoa que esteja a passar por um momento mais difícil, menos digno. Tenho a certeza que os meus netos terão esse tempo para os outros. A pobreza tem a ver com a falta de dinheiro, de emprego, de casa, mas acima de tudo com a dignidade das pessoas. Em 2009 começamos com a Fundação Gulbenkian e muitas outras pessoas a pensar na criação de um movimento a nível nacional para ver se conseguimos um fundo de apoio às vitimas da crise. Um pequeno contributo que cada um desse segundo as suas posses…cinco, dez euros… Muitas pessoas mostraram-se na altura entusiasmadas. O meu marido chegou a receber uma carta comovente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (homens que sofreram os horrores da guerra, em nome da Pátria e nem sempre foram reconhecidos, cegos, amputados, com stress pós traumático…), que dizia: “nós temos cem mil associados e queremos colaborar!”. É um sonho que ainda não realizei mas havemos de o conseguir. Talvez possamos criar um sítio na Internet onde as pessoas possam colaborar.
Será necessária uma mobilização geral…
Há milagres, veja-se o que aconteceu em Portugal com os retornados. Foi um milagre.
Aliás, vivido pelo casal Eanes em 1976.
Foi no ano em que o meu marido tomou posse e eu acompanhei de perto o problema. Havia o Alto-Comissário para os Retornados, alguns Ministérios envolvidos e famílias houve que receberam essas pessoas. E conseguiu-se que fossem integradas com êxito.
Mas o processo não foi assim tão pacífico. Houve sectores da sociedade muito crispados por causa do problema dos retornados.
Mas o que importa é o resultado final. E lembro-me que, em muitas visitas que fizemos pelo país, encontrámos muitas pessoas que refizeram a sua vida, a partir do nada, com muita coragem e sucesso. Uns eram autarcas, outros tinham as suas empresas familiares… O país mobilizou-se. Nós somos generosos.
Mas o dinheiro não resolve tudo na vida das pessoas mais fragilizadas.
Tem que haver mais emprego, mais apoio, tem de haver políticas de integração… é todo um programa político. Mas este sonho está ligado sobretudo à sociedade civil, depois terá que haver outras políticas a nível de Estado.
Foram anos apaixonantes os que viveram em Belém?
Foram muito, muito difíceis. Quando o meu marido foi eleito, ficámos aqui em casa, mas era impossível continuar. Chegou a haver ameaças de rapto do meu filho e portanto fomos para Belém.
Eles foram felizes vivendo e crescendo no Palácio de Belém?
Foram muito felizes porque na Presidência da República viviam pessoas, funcionários sobretudo da garagem e da portaria que tinham filhos das idades deles. Por isso tinham crianças para brincar e todo o espaço do jardim. E brincar é importantíssimo. Brincarestabelece uma interactividade entre a criança e a pessoa com quem brinca, seja o pai, a mãe, o amigo. A criança precisa de brincar para ser feliz. É um direito seu.
Não acha que os pais sobrecarregam, por vezes, a agenda diária dos filhos com actividades extra-escolares, como a natação, o bailado, o desporto…?
Acho. A criança precisa de brincar, de jogar, de ler. Os pais têm de ter um tempo para a brincadeira com os seus filhos. Basta meia hora ao final do dia.
Naqueles dez anos, tiveram tempo para os vossos filhos?
Começámos, a pouco e pouco, a criar um lar numa residência que estava degradada. Fizemo-lo levando objectos cá de casa, fotografias e também foram cedidos alguns quadros de museus. Depois, havia sempre ocasião para ir sabendo como eles estavam. Houve sempre uma relação muito estreita com o colégio onde estudavam, o Colégio S. João de Brito, e com os respectivos directores de turma. Nunca deixei de ir a uma reunião de pais e o meu marido sempre que podia também ia.
O Miguel já nasceu na Presidência da República.
Ser Presidente em 1976, a seguir a uma revolução, é completamente diferente do que é ser Presidente agora. Houve convulsões, governos a cair, inventonas, problemas políticos, dificuldades económicas… e ter nascido, naquela altura, uma criança foi uma bênção. O meu marido subia as escadas e tinha um bebé à espera. E havia sempre uma história nova para contar: começou a gatinhar, começou a andar, hoje fez isto ou aquilo, começou a falar.
Mas estávamos a falar de quão apaixonantes foram aqueles anos em Belém.
Eu continuei na Presidência da República um trabalho que havia feito em toda a minha vida.
Um trabalho social, com e para as pessoas.
Pois! Não sou arquitecta, não sou engenheira, não sou médica, mas trabalhei sempre na área social onde me sinto útil.
Mas licenciou-se em Direito, por vontade do seu pai.
O meu pai queria muito que eu me licenciasse em Direito.
Arrepende-se?
Não, não me arrependo porque acho que o curso me deu uma grande abertura para os problemas sociais, internacionais, jurídicos…Mas realmente, durante esses anos, tivemos o privilégio de privar com pessoas muito ricas culturalmente. E essa é das recordações mais gratas. Estou-me a lembrar do Miguel Torga, um dos maiores escritores do nosso tempo, com quem mantivemos uma relação muito estreita e de grande afecto. Chegámos a passar um fim-de-semana em S Martinho de Anta, sem que a comunicação social o tivesse sabido, andámos por aquelas terras, tivemos a emoção de o ouvirmos a ler um poema em S.Leonardo da Galafura (3), e da Natália Correia, uma mulher que eu admirava imenso, que trabalhou connosco, participou em campanhas. E depois conhecemos muitas pessoas anónimas, extraordinárias, que sempre manifestaram um grande carinho por mim e pelo meu marido. Lembro-me de uma campanha, em que andávamos a correr de terra em terra, sob temperaturas muito altas e de repente há um homem que nos salta ao caminho e faz parar o carro porque achava que eu teria sede e por isso queria oferecer-me uma bebida fresca. Muitas vezes eram as mulheres, que no decorrer da campanha, me pediam para não ir embora, para que continuássemos à conversa. Nunca recusei esse contacto interessado com as pessoas.
Talvez por isso, e sobretudo pelo seu empenho nas causas sociais, o “Washington Post” a tenha considerado como uma primeira dama modelo.
Isso foi bondade da jornalista. Mas esse artigo foi escrito na sequência de uma ida minha à capital norte-americana a convite de Nancy Reagan, para participar na Conferência sobre o Consumo de Drogas e suas Consequências Sociais. Depois de ter eu falado na conferência, uma jornalista quis conversar comigo sobre as acções em que eu estava envolvida aqui em Portugal, com muitas outras pessoas, digo-o sempre, e depois também houve uma certa empatia entre as duas, o que resultou nesse artigo tão simpático. Não nos esqueçamos, também, que havia, em todo o mundo, um grande interesse por esta democracia que estava a crescer.
Um encontro que a tenha marcado.
Estivemos três vezes com o Papa João Paulo II, a primeira das quais no decorrer de uma visita oficial ao Vaticano, em que o Manuel foi connosco. Depois o Santo Padre esteve em Portugal por duas vezes. É uma marca que fica para toda a vida pelo seu exemplo de força interior e de entrega aos outros em paz e serenidade, para além do seu papel na mudança do Mundo. Tive o privilégio de estar com Madre Teresa de Calcutá e houve um casal que nos marcou profundamente: os antigos reis da Bélgica, o rei Balduíno e a Rainha Fabíola. Eram pessoas muito simples, com uma grande dimensão espiritual e muita coerência nas suas posições de vida. Sempre foram pessoas muita preocupadas com as questões de ordem social, e por isso foram sempre muito estimados pelo povo belga. Quando o rei Balduíno faleceu houve uma missa maravilhosa de emoção e sentido e uma das pessoas que interveio foi uma prostituta.
Que acha que os portugueses pensam de si e do seu marido?
Costumo dizer que a herança mais importante que deixamos, aos nossos filhos e aos nossos netos, é a dignidade com que vivemos e a honestidade que temos tido na vida. E este sentir dos outros. Só existimos quando existimos para os outros.
(1) Emmanuel Mounier (1905-1950) – pensador francês nascido em Grenoble. As suas reflexões têm a pessoa no centro, pelo que este jeito de pensar foi chamado de personalismo. As suas obras influenciaram a ideologia da Democracia Cristã.
(2) Álvaro Gonçalves Coutinho, mais conhecido pelo Magriço, foi valente cavaleiro e guerreiro ao tempo de D.João I, finais do século XIV, e foi um dos Doze de Inglaterra.
(3) Na freguesia de Galafura encontramos um dos mais bonitos miradouros da região duriense, o miradouro de S.Leonardo. Sobre uma pedra está registado um excerto de um dos Diários de Miguel Torga: “É o Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir…”.
Foi a primeira vez que entrei nesta sua página ,e adorei tanto a entrevistada ,que sempre admirei, como o próprio Manuel ,que o conheço apenas do seu trabalho de «locutor » desde o primeiro canal até agora ,e, já agora digo-lhe que gosto mais de si agora do que antes , Parabéns tudo de bom para si
Adorei !Não é difícil porque adoro tudo o que escreve quem me dera ter 1/3 da sua sabedoria.Entrevistar esta senhora já é uma honra que só os Grandes podem ter
Parabénsssssssssssssss!
Adorava poder visitá-lo mas há quase um ano que fui á TVI inscrevi-me ,
fotografaram-me e até á data ninguem me disse nada.Tenho muita pena,não sei o que se passou,dizendo eu que quería asistir ao programa da manhã.
Um abraço
ADORO_O
Margarida