Aachen merece um escrito, pensando melhor dois, este sobre cavalos e o próximo sobre o que vi no seu centro histórico. Todos os anos, em chegando Julho, a cidade envolve-se naquele que é tido como o melhor concurso de equitação do Mundo. Há empresas que dão férias aos seus empregados, durante toda a semana, tal a paixão dos alemães pelos cavalos e o orgulho que os da cidade têm pelo evento. Também pudera, de todo o Mundo vêm os maiores nomes da equitação, criadores de cavalos e muitos milhares de fãs das diversas modalidades. Juntam-se ao estádio Tivoli, esse para o futebol, outros dois exclusivamente para a prática das provas hípicas, de saltos e dressage e usados apenas para este evento. O mais é toda uma estrutura impecável de muito bom gosto, montada para o efeito, entre tendas para a venda de cafés, outras de champanhe, de acessórios ligados à equitação, sem esquecer toda uma zona exclusiva de restauração a cargo de chefes de gabarito e mesmo estrelados. Facturam-se milhões independentemente do patrocínio das marcas de luxo, como a Rolex, que se fazem notar por todo o recinto. Público é aos magotes e não é raro cruzarmo-nos, a caminho dos recintos das provas, com caras que já vimos na televisão, nas revistas do social ou nas notícias da política. Quase esbarrei com a Princesa Benedita, irmã da rainha Margarida da Dinamarca, logo percebi que era ali acompanhando uma das suas filhas, Nathalie, cavaleira de dressage. Úrsula Von der Leyen, recentemente eleita Presidente da Comissão Europeia também se fez notar no último dos dias, ela que foi cavaleira de competição antes das suas funções de grande responsabilidade na política alemã.
Sempre gostei de cavalos, pelo que lhes reconhecia de nobreza e pelo que via na RTP, a televisão da minha infância e adolescência, sempre que esta transmitia provas de saltos (nomes como Pimenta da Gama, Malta da Costa… ficaram para sempre guardados na memória) mas muito longe estava de imaginar que um dia iria tê-los (seis éguas, três poldros já nascidos na herdade, e três cavalos de competição, dois dos quais a serem preparados na Alemanha por Maria Caetano) e interessar-me em concreto pela dressage (disciplina de ensino).
O Rui sim, há muito que vive essa paixão sabendo montar e tendo ao mesmo tempo olho para a escolha (veja-se o caso Biso das Lezírias. Ninguém dava coisa alguma por ele, nas mãos de Paulo Caetano, mestre de dressage, e da sua filha Maria, acabou por ganhar o que tinha a ganhar nas categorias em que concorreu e foi vendido, e muito bem, a uma milionária brasileira, preparando-se agora para concorrer na próxima semana nos Pan Americanos de Lima, no Perú, com vista à qualificação dos Olímpicos de Tóquio). Agora depositamos as nossas esperanças no Happy Plus. Tem sete anos, é oitenta por cento hanoveriano e lusitano no restante. Está a aprender, mas domingo passado desfilou com a Maria Caetano na cerimónia de encerramento do Chio Aachen e foi uma emoção. É lindo, “é uma pintura!” diz-nos a cavaleira. Aproveitei estes dias em Aachen para também entender mais da modalidade, já que como em tudo tenho de compreender para assim puder tirar o melhor partido do que vejo e experiencio. Talvez seja isso que me falta para ligar ao futebol, saber do papel de cada jogador em campo, de cada tática, não me basta ver dez para cada lado atrás de uma bola procurando metê-la na baliza do décimo primeiro adversário, independentemente de achar que certos comportamentos ultimamente ligados ao futebol nada têm a ver comigo, porque deselegantes e primários. Mas voltemos aos cavalos: sabendo o que é uma pirueta, um trote reunido ou alongado, um “piaffe”, uma “passage”, entre outras figuras obrigatórias da competição, consigo já perceber a prova, nas suas transições, também elas pontuadas e nas falhas mais visíveis.
Foram três dias de fascínio e aprendizagem, mas então o último “encheu-me as medidas”, começando pela prova de estilo livre (“free style”) em que cada cavaleiro apresenta a sua sequência de exercícios obrigatórios com coreografia e banda sonora próprias (Isabel Werth, tida como a “rainha da dressage”, de tal modo limpa tudo o que é competição, mostrou-se aqui, aos cinquenta anos, avassaladora montando Belle Rose e arrebatando quantos lotavam as bancadas do estádio) e culminando na cerimónia do adeus no outro estádio três vezes maior e onde decorrem as provas de saltos. É uma tradição de muitos anos essa de acenar com lenços brancos e ao compasso da música, celebrando a excelência de quantos, cavalos e cavaleiros, participaram no evento.
Felizmente uso sempre lenço na lapela, branco naquele dia e não era por acaso, que também eu quis fazer parte da festa enquanto pensava: “para o ano estou cá caído!”.