Tenho verdadeira estima pelo actor Júlio César, tantas as memórias a ele associadas. Habituei me a vê-lo no teatro de revista e de comédia, de que recordo algumas inspiradas interpretações, como uma recriação de Fernando Pessoa, a partir do retrato que dele pintou Almada Negreiros, no palco do Monumental, não posso é precisar o nome da revista, que a minha memória não chega a tanto, ou a personagem de “Há Petróleo no Beato”, ao lado de Raúl Solnado. Com ele oficiei aos microfones da rádio, estava eu a começar, e penso que foi o nome do seu programa, o “Entre Linhas, Entre Gente” que extravasou para um livro peculiar, atado com um fio, sem que fosse literatura de cordel. É que o Júlio escreve bem, com humor e sabor, tal como pinta, sendo esse outro dos seus talentos. Tenho um Cristo esboçado por si, com café, num pedaço de uma toalha de papel. Tem alma grande, este alentejano de Alter, por isso as recordações são tão nítidas, como se o tivesse deixado ontem depois de uma janta bem regada.
Reencontrei-o agora através do seu Joel, personagem da novela “Amor Maior”. Um trabalho exemplar de contenção na dor de se ver maltratado por um filho. O Joel do Júlio traz ao ecrã, que é como quem diz à consciência do telespectador, o problema da violência contra os mais velhos, os mais fragilizados, os mais desprotegidos. Sabemos como a realidade ultrapassa a ficção, quantos Joéis não são, diariamente, violentados física e psicologicamente por quem supostamente deveriam ser amados e cuidados. A questão da educação assume-se uma vez mais como basilar na gestão de comportamentos face ao outro. Na falta de um ambiente familiar onde o respeito deve ser norma, terá a escola de complementar, quando não mesmo de protagonizar, esse papel formador. Ideal é que família e escola assumam o mesmo compromisso. Temo que a actual escola de massas, verdadeira linha de montagem de alunos, esteja mais preocupada com cifras de sucesso que com o desenvolvimento de uma inteligência emocional, fermento essencial para a estruturação de um ser adulto que valha a pena. Saber de alguém que desrespeita, que maltrata, mesmo que ao abrigo dos seus demónios, revolta-me e convoca-me a denunciar, a reflectir, a discutir, usando os meios ao meu dispor: o palco televisivo ou este reduto de escrita. Felizmente são muitos, os que não se acomodam perante a dor alheia. Em breve voltarei ao assunto a propósito de um livro da jornalista Carla Maia de Andrade, que vou ter o privilégio de apresentar num local de cultura e formação, o Liceu Camões, que hoje o que me levou a escrever foi o tocante desempenho de um actor que ao dar corpo e nervo, num acto de generosidade, a um velho maltratado por um filho, coloca na ordem do dia o superior valor da educação e quanto uma novela, que habitualmente associamos ao mero entretenimento, pode chamar à discussão problemas actuais de uma sociedade desapiedada.
Ola Manuel,revejo-me neste papel do querido Joel..e ganhei coragem para apresentar queixa na policia.Graças a deus que nao vivo na mesma casa que a pessoa que me maltrata …agora mais psicologicamente do que fisicamente…e as sms fazem doer o coraçao duma mae…sim Manuel é minha filha….mas a filha que eu criei com todo o amor e educaçao e a quem transmiti valores…simplesmente um dia me disse que os meus valores nao eram os mesmos. que os dela……..como diz o dr.Quintino uma palmada na hora certa……..ficaram muitas palmadas por dar…..ja pedi uma ordem de restriçao para que ela nao se aproxime de mim…esta tudo nas maos do ministerio publico…resta.me esperar…..quando vejo o querido Joel relembro-me de algumas cenas…mas tenho esperança de encontrar paz um dia….Manuel tenho 50 anos cheios de dor e sofrimento mas ca estou….Obrigada por existir…mil abraços
Depois de “Coração de Ouro”, decidi fazer o meu intervalo de novelas, já me cansa tanta maldade mesmo na ficção, e que sabemos ser um retrato da vida real. Mas a minha admiração por este grande ator é grande. Obrigada Júlio César por tudo. Um grande abraço.
Ondina Paiva
Muito obrigado Manel. Vindo de ti as coisas ganham o peso da pessoa que és.
Agradeço-te, do coração, a tua enorme simpatia e generosidade.
Um grande grande ( e velho ) abraço amigo.
Júlio César
Obrigada Goucha por trazer para a discussão a questão da violência contra os mais velhos, sobretudo tendo por horizonte uma sociedade cada vez mais envelhecida e com todas as fragilidades a ela associada. Julgo que esse vai ser o grande desafio dos vindouros.
Parabéns ao Júlio César que emprestou dignidade ao tema e é um ator de grande envergadura.
Olá MLG,
Nem todas as telenovelas me cativam. Principalmente pelo exagero de algumas personagens, que os autores carregam com dose dupla de maldade. Não é preciso ir tão longe para sabermos que há gente muito má e acaba por nos cansar – a novela ou novelas, claro.
No entanto, o papel do “Joel” é actual e mais real do que possamos imaginar, assim como o que faz de “filho”.
Está muito bem conseguido, o Júlio está de parabéns!
Ao MLG, obrigada pelo texto e pela partilha do mesmo.
Um abraço,
Manuel
Gosto e simpatizo com o Júlio parece um homem genuíno, gosto do seu profissionalismo entrega ao que faz.
Já Simone cantava ” quem faz um filho fá-lo por gosto”, faço a analogia com o ator que tem que gostar muito do que faz, para conseguir interiorizar, criar empatia com a personagem. Só assim se consegue colocar no papel do outro, tenho a certeza que o Júlio deve saber transmitir, tocar quem vê a novela para a triste e atual violência sobre os mais indefesos. Sejam eles idosos ou não, sei que em algumas escolas espanholas já existe a disciplina Inteligência Emocional , creio que muitos não devem saber o que é.
Inteligência E. promove a pratica de gratidão, controle de impulsos negativos/agressivos, Auto- motivação, sensibilidade social, muito mais poderia falar sobre esta ferramenta psíquica tão valiosa.
Tem a capacidade de reunir bons profissionais desta área, promova um debate incluir a IE nas escolas, muita coisa iria melhorar . É urgente mudar mentalidades, despertar consciências, fazer do mau/bom, insensível/sensível, etc.
Adorei, quando convidou Coimbra de Matos um mestre na relação humana.
Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil.
Mas zangar-se com a pessoa certa, na justa medida, no momento certo, pela razão certa e da maneira certa – isso não é fácil.”
Aristóteles
Abraço
Carla
Vejo todos os dias essa novela ” Amor Maior” onde entre vários e bons actores destaco sem duvida o papel exemplar feito pelo Júlio e como nos chama atenção para um problema que a todos devia preocupar, os nossos idosos !!!
Magnifico, quase real!!!
Parabéns ao Júlio….parabéns a si Goucha, por saber com simpatia e humildade dar o devido valor aos seus colegas!!!
Felicidades!!!
Concordo com tudo o que disse deste actor,mas este personagem Joel do pouco que vi ,está excelente !!Os meus parabéns ao Júlio César! E também ao Manuel Luís Goucha por este texto maravilhoso.