Sempre tive um carinho muito especial pelo Museu Nacional dos Coches, talvez por ter sido o primeiro museu que visitei. Não teria mais de sete anos e fui pela mão do meu pai. Lembro-me do impacto que teve em mim todo o conjunto de viaturas reais que ali se expunham, pela sua imponência mas sobretudo pelos pormenores de decoração, dos entalhes aos bordados a fio de ouro. Estava longe de perceber a importância que o Belo teria na minha vida. Hoje imagino o que terá sentido D. Amélia de Orléans e Bragança, nossa última rainha, ao descobrir tão valioso património a degradar-se no Picadeiro Real, também ele já destituído da sua função. Por isso a ela se deve a criação do Museu, na altura, dos Coches Reais, inaugurado a 23 de Maio de 1905.
Ao Museu dos Coches voltei sempre com repetido entusiasmo e, quando o fiz por razões profissionais, não deixei nunca de manifestar a minha indignação pela apatia das entidades oficiais para com um edifício com história, o mais visitado dos nossos museus, a degradar-se a olhos vistos. Chovia lá dentro, e garantem-me que em chegando os rigores do próximo Inverno a situação manter-se-á. As mangueiras de socorro a um possível incêndio estavam rotas e os extintores vazios, o telefone cortado por falta de pagamento, pelo que o uso do cartão de crédito na loja era miragem, isto só para elencar uns quantos problemas visíveis aos olhos do visitante mais atento.
Não entendi por isso a opção da construção de um novo museu, sem que se interviesse a fundo no edifício original devolvendo-lhe a dignidade merecida por mais de cem anos de serviço público, para além de toda a sua importância histórica e artística.
Ontem entrei pela primeira no novíssimo Museu Nacional dos Coches, obra do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, inaugurado recentemente.
E não é que gostei?! Aquele que alguns dizem ser um Ikea dos coches é um conceito minimalista de arquitectura, de formas depuradas, que faz com que cada viatura valha por si e se mostre em toda a sua magnificência. Uma senhora houve que veio ter comigo e me disse: “não gosto do edifício, sou velha para o entender, mas descobri nos coches coisas que nunca havia visto!”. É isso aí: o novo edifício permite que cada veículo seja admirado em todos os seus pormenores. Convenhamos que no antigo museu se amontoavam num espaço magnífico, é certo, mas sem dimensão adequada para que cada um pudesse “respirar”. Por outro lado o outrora Picadeiro Real ganha agora maior destaque. Dado ter ficado apenas com cinco coches, uma cadeirinha, arreios, peças de vestuário e retratos, pudemos admirar todo o conjunto como nunca o havíamos feito. Por isso a visita ao novo Museu Nacional dos Coches deverá terminar com uma ida ao antigo, hoje novamente chamado de Picadeiro Real.
No actual Museu dos Coches falta ainda todo o apoio multimédia, exigido a um museu dos nossos dias, que possibilite o cruzamento de todo o tipo de informações sobre o que estamos a ver e outras complementares, bem como elementos ao nível da estruturação do espaço que irão permitir uma total fruição daquela que é a maior e mais completa colecção de coches e viaturas de aparato do Mundo, agora enriquecida também com o que estava guardado e exposto no pólo de Vila Viçosa. Mas isso só lá para os finais do ano, que isto, já se sabe, a poucos meses das eleições tem de se mostrar obra, mesmo que esteja por acabar.
É a política a valer-se da Arte que habitualmente despreza.
Alguns dos setenta veículos que pode admirar:
Coche de Filipe II
É o mais antigo de toda a colecção. Filipe II de Portugal, III de Espanha, utilizou-o em 1619, na sua vinda de Madrid para Lisboa.
Coche da Mesa
Foi este o coche usado para a célebre troca das princesas, junto à fronteira do Caia, a 19 de Janeiro 1729. De Portugal saía, para Espanha, a princesa Maria Bárbara de
Bragança, filha de D. João V, para casar com o príncipe D. Fernando, futuro rei Fernando VI, de Espanha. De Espanha chegava a Portugal a princesa Mariana Vitoria, filha de Filipe V, para casar com aquele que viria a ser o nosso rei D. José I.
Carruagem da Coroa
Erradamente há quem a chame de carruagem da rainha Isabel, mas isso tem a ver com o facto de Isabel II, de Inglaterra, a ter usado na sua primeira viagem a Portugal, em 1957.
Coche dos Oceanos
O mais espectacular de todos quantos a colecção exibe. Restaurado pela Fundação Ricardo Espírito Santo, é um dos três coches que o Museu guarda, do conjunto de quinze veículos que compunham a embaixada que D. João V enviou ao Papa Clemente XI, em Roma. As embaixadas ao Papa eram actos de grande ostentação e importância diplomática e esta foi de tal modo faustosa que, durante muitos anos, monarca algum se atreveu a enviar uma outra embaixada ao Papa, por mais gloriosa que fosse.
Landau Regicídio
Estávamos a 1 de Fevereiro de 1908. A família real regressava de Vila Viçosa. Foi neste landau que D. Carlos e seu filho Luis Filipe foram, mortalmente, alvejados a tiro. No veículo seguiam, ainda, a rainha D. Amélia e seu outro filho, Manuel, que viria a ser o último rei de Portugal.
Mala-posta
Esta é dos inícios do século XIX e podemos dizer que assim começava o transporte público. Levava cerca de dezasseis pessoas, entre a primeira e a segunda classes. O povo ia no tejadilho junto com as malas do correio.
Meu caro Manuel Luís Goucha, quero dizer-lhe que sou um grande admirador do seu programa, mas desconhecia que admirava os coches, pois este é um tema que me é extremamente caro, pois é o meu hobby favorito, eu tenho vários coches por mim construídos á escala 1/10 , neste momento estou a construir a carruagem da malaposta de origem Francesa que esteve no museu por algum tempo, mas que de momento está em Vila Viçosa, e foi por procurar referências sobre este veículo que encontrei aqui o seu magnífico artigo sobre este tema, neste momento a minha coleção encontra-se em exposição no museu municipal de Olhão, onde irá ficar até final de Fevereiro do próximo ano. seria um tema muito interessante mostrar e divulgar estes trabalhos no seu programa , que acha? pode ver algumas das minhas peças em modelismo invulgar de jose cardoso brito. grato pela atenção e parabéns pelo seu artigo com excelentes fotos dos coches. José Cardoso Brito.
Boa tarde Sr. Manuel Luís Goucha,
Talvez seja tontice mas na verdade fiquei muito triste quando se começou a falar em mudar o Museu dos Coches. É que há coisas que é melhor manter, talvez porque têm alma, na minha forma de sentir pelo menos.
Ainda não visitei o actual museu porque na minha ignorancia é um monte de cimento que nada tem a ver com os maravilhosos coches que alberga.
O Senhor que é um homem de bom gosto acha mesmo que mudaram para melhor?
Obrigada,
Maria João Cardoso
confesso q a mudanca nao me agradou em nada…o antigo edificio é belissimo e unido ao encantos desses coches criava ma magia unica ao local…
o museu em si super recomendo..visitei pra ai umas 5 vezes e cada vez admirava mais
Adorei. Também lá fui com 8 ou 9 anos e estava receosa! Mas gostei mesmo. Obrigada Manuel Goucha
E vai ficar melhor quando estiver tudo pronto. Um beijo Ana
Que excelente texto!
Adorei ler e também gostei das fotos, o mesmo bom ler o blog do Sr MLG.
Obrigada 🙂
Manuel Luís Goucha, é claro que deve ter gostado com tantos Coches tão bonitos e com todas as Pinturas que estão no tecto que cercam tão belas e maravilhosas antiguidades, que na minha opinião devem ser as mais Belas do Mundo.
Manuel Luís Goucha, eu sou a João Alves Pinto que está no Facebook, com o nome do meu Sogro que não tendo conhecido ele foi uma pessoa muito adorável, assim como o meu Marido que sendo Diabético me ajuda em muito.
Receba beijinhos com muito Carinho da Maria Isabel e cumprimentos do Meu Marido Albino Alves Nog. Pinto de Aveiro
Boa tarde Sr, Manuel Goucha
Sou seguidora do seu blogue, do qual aprecio muito todos os temas…na realidade ainda não visitei o novo museu, de qualquer forma fiquei triste por não ter ficado no anterior, penso que era mais rico antigo e lindo,,,quando era pequena visitei-o com o meu pai…..ainda hoje recordo…
Obrigada pelas fotos e temas…
Dina