Amante que sou de música clássica, coisa que me vem de criança do tempo em que aprendi a gostar com a RTP e o maestro José Atalaya, ele que explicava uma partitura como quem conta uma estória, sempre olhei com alguma desconfiança certos fenómenos de indiscutível sucesso que volta e meia emergem, avassalando multidões, quase sempre em nome da modernizacão ou democratizacão neste caso da música. Os das minha geração lembrar-se-ão de Waldo de los Rios, e da sua orquestra, e do escândalo que foi junto dos puristas quando resolveu reinterpretar os clássicos de Mozart, a começar pela quadragésima sinfonia. Certo é que nasceu uma verdadeira Mozartmania junto de um público pouco ou nada ligado à musica clássica cativado pela nova e discutível roupagem com que o maestro resolveu vestir a obra. Mais tarde, na década de oitenta, será José Luís Cobos a fazer coisa idêntica com os intocáveis da música clássica e mais uma vez o sucesso é absoluto, nomeadamente no que toca à venda de álbuns. Até “dou de barato” que estes casos de extrema popularidade possam levar algumas pessoas para a música e para a ópera, arte esta que na sua origem agradava às mais diferentes classes sociais e que outros elitizaram, contesto porém o facilitismo e leviandade com que se adultera muitas vezes todo um património de séculos superiormente criado.
Não comparando, não precisamos de recuar muitos anos para lembrar o empolgamento de milhões de espectadores em todo o Mundo com os concertos dos três tenores (Pavarotti, Domingo e Carreras) sob a batuta de Zubin Mehta. Magistralmente concebido e interpretado o espetáculo alinhava de forma inteligente canções napolitanas, árias de ópera e de opereta, entre outros registos, revelando-se receita segura para o êxito sem precedentes. Longe da sofisticação do concerto dos três tenores é nesta fórmula que assenta, a meu ver, o sucesso de André Rieu.
Sou dos que gosta do formalismo de um concerto sinfónico e da Ópera, frequentando, quando posso, as suas casas maiores (La Scalla, Fenice, Ópera da Bastilha, Ópera de Viena… Festival de Salzburgo, apreciando igualmente o de Verona, ainda que este num âmbito completamente diferente), por isso não me passou pela cabeça assistir a um dos espectáculos de André Rieu aquando da sua recente e triunfosa passagem por Lisboa. Porém, num Domingo já deste ano, encontrei, pelo acaso de um “zapping”, na RTP, a transmissão de um concerto seu na Praça Vrijthof de Maastricht, a sua cidade natal, e fiquei agarrado por duas horas, pela energia festiva que perpassava através do ecrã, mérito também da realização televisiva. Sim, André Rieu sabe o que faz há muitos anos, independentemente do virtuosismo com que celebra o seu Stradivarius, e do talento dos seus músicos e solistas, há todo um espectáculo criteriosamente pensado para as massas. Sim, logo que pudesse teria de vivenciar a experiência e se possível naquele espaço ao ar livre onde cabem perto de 40 000 pessoas, pensei… longe de acreditar que tal oportunidade estaria para tão breve. Sabendo que vinha ao Festival de Equitação de Aachen e que esta cidade fica a cinquenta quilómetros de Maastricht pesquisei na Internet da existência de bilhetes para um dos espectáculos de André Rieu. O maestro todos os anos brinda a sua cidade, em Julho, com uma série de concertos, só desta vez são mais de vinte, pior é que todos estavam esgotados no site oficial.
Consegui, porém, dois bilhetes, através de um site de agência, pagos por um preço muito acima do seu real valor, mas valeu a pena para aquilo a que
me propunha: entender o fenómeno. O concerto de André Rieu é verdadeiramente um espectáculo popular onde todos os pormenores são pensados.
Há fotos do maestro por todo o lado, livros com a sua história de vida, discos e dvds dos seus concertos empilham-se em todas as livrarias, numa operação de marketing que impressiona (até a garrafa de água colocada sobre cada assento na praça tem a cara do maestro!). O alinhamento do concerto é construído de modo a facilmente conquistar a mais vasta e heterogênea das plateias. Começando pelas canções napolitanas, indo às valsas, à musica pop, arriscando de modo seguro e eficaz numa ou noutra ária conhecida de Verdi, Bizet… (nem meia dúzia, convenhamos), tudo entremeado com gagues e conversas com o público, temos a receita infalível que se repete, espectáculo após espectáculo, na sua linha dorsal, seja ali ou na Cochinchina. Todos cantam (eu também), dançam (eu também, ainda por cima ao som da disco com um dos sobreviventes dos Village People como convidado), gritam (eu também gritei quando André Rieu pergunta por Portugal) unidos pela Música. É esse o objectivo da festa, unir as pessoas através de uma linguagem universal. Tanto melhor se houver (e haverá certamente) quem se sinta motivado a querer mais, entrando no fascinante mundo da música erudita. Naquela noite fui feliz, como aqueles muitos milhares que enchiam a Praça, como quantos por certo lotaram o Altice Arena e voltarão a fazê-lo quando em Novembro, André Rieu voltar a Lisboa, pois aquele é um eficaz espectáculo de variedades, popular (até nos brilhos, folhos e acetinados das fatiotas das instrumentistas e solistas, de gosto muito discutível e não é que também idealizados pelo próprio artista!), executado, e muito bem, por artistas com formação clássica. Não lhe chamem é outra coisa! É como comparar espumante com champanhe, mas calma que também há mau champanhe.
Aqui ficam algumas fotos e vídeos, para mais tarde recordar!
Adoro os concertos de André Rieu e tive oportunidade de ver este ano, nos concertos em Lisboa mas aí deve ter outra magia!!!
Eu vi na televisão e, também eu, estive duas horas, presa ao ecrã! Adorei! Imagino o quão belo seria, assistir ao vivo!!!
Obrigada, Manuel Luís Goucha, por nos levar pela mão, aos meandros da cultura, com as suas descrições tão tão belas e tão reais! Abraço amigo.
Show…show…show.
Bravo.
Como adorava ver um concerto assim! Parabéns! É magnifico!
Parabéns, o retrato duma apresentação desse maestro está perfeito. Ele realmente respira música, e como ele anunciou em uma de suas entrevistas, não pode entrar em seu castelo quem não tiver a música no sangue.
A meu ver ele tem como missão levar a música aos quatro cantos do planeta.
amo o violino.
O Manuel Luís já disse tudo sobre o trabalho do André Rieu. Sou fã dele faz uns 12 anos. É de facto uma personagem fantástica. Puxa a ele a alegria de ” beber” a sua música.
Fiquei com inveja de si, rsrrsrrsrs
Obrigado pelo texto.
Um abraço desde Coimbra.
É INESQUECÍVEL!
Tive a felicidade de assistir ao vivo, ao Concerto Magnífico de Andre Rieu, nesse lugar maravilhoso.
Adorei a sua maravilhosa descrição MANUEL LUÍS GOUCHA!
BEM HAJA!
Um grande beijinho da Adelaide Manzoni.
Boa noite! Me chamo Sônia. Fiquei feliz de ler sua reportagem sobre André Rieu! Amo muito ele, todo o seu trabalho, por sinal muito bem feito. Ele tem o dom de nos tirar um pouco desse mundo moderno. Obrigada por compartilhar.
Não fui assistir ao concerto/s de André Rieu a Maastricht, ( adorava), mas fiquei-me pelo Altice Arena e adoorei.
Estão muito bem
Tenho acompanhado o Sr. Luís Goucha desde a Praça da Alegria, até hoje. Muito tem evoluído como apresentador de vários programas que tem apresentado, e hoje verifico também que é um homem de cultura. Com meus respeitosos cumprimentos, Manuel Lopes
Tenho visto o Manuel em muitas situações na televisão e sempre feliz.Mas nunca como deixou transparecer neste espetáculo, me desculpe mas parecia uma criança a quem lhe deram o maior presente do mundo.Obrigado por tudo o que nos deixar partilhar consigo
Marravilhaaa!!!!
♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥, preciso de dizer mais alguma coisa?