Na “bolacha” onde habitualmente nos posicionamos face aos concorrentes, triunfava um reluzente conjunto de facas douradas. Em cada faca uma inscrição com o nome de um prato da nossa cozinha, particularmente apreciado pelos portugueses.
Só não entendi o que fazia ali um “bitoque”, que é nico de carne sem estatuto para chegar a bife. Bifes sim, há vários e da tradição lisboeta, como o “Marrare”, o “à Cortador” ou o “Jansen” (ora aqui está um bom tema para prosar e receitar).
Bom, estava encontrado o mote para o primeiro dos desafios. Era tudo uma questão de sorte na escolha da faca. Foi o que teve o Luís, ao sair-lhe um “coelho à caçador”. Continuava, assim, na sua zona de conforto, manipulando carne, como ele gosta, e acrescentando-lhe aromas da terra, como bem sabe. Gostei que tivesse usado bagas de zimbro (muito apreciadas nas cozinhas nórdicas), que só elas emprestam um gosto silvestre. Mas foi a Cristina a levar a melhor, com a sua receita de ervilhas com ovo escalfado, pelo equilíbrio de sabores e pela elegância do empratamento, se bem que não tenha existido a habitual unanimidade entre jurados (algum dia teria de acontecer!).
É Setúbal, terra de Bocage, de Luísa Todi, do choco frito e dos erres dobrados. E, como se isto não bastasse para dar boa fama à cidade, ainda temos doze bombeiros sapadores a dar (o) corpo a um calendário que deixou muito boa gente afogueada.
Foi no quartel destes que decorreu a prova de equipas. A ideia era pôr os concorrentes a cozinhar para a corporação e seus convidados. Dos “doze magníficos”, apenas uns três ou quatro não faltaram à chamada, se bem que estivessem ali outros tantos que já se perfilam para botar corpo no próximo calendário, depois das desejadas e persistentes malhações. O prato do dia seria caldeirada, ou não fosse aquela também terra de pescadores. Homens espessos que tiram do mar o sustento. Do quartel não vejo o mar mas pressinto-lhe o hálito salgado. O mesmo que tempera o peixe na hora de o cozinhar a bordo. Não há prato mais simples de se fazer, respeitando a fresquidão do pescado e temperando a preceito (isso mesmo ouvi dizer há uns trinta anos, quando fui jurado do primeiro concurso de caldeiradas da Costa de Caparica).
Inadmissível é quando ela sabe a “bispo”, que este é jeito popular de dizer que a coisa queimou. Foi o que aconteceu a uma delas, por isso não foi difícil decidir qual a equipa perdedora.
Enquanto a corporação se amesendava à espera da paparoca, cá fora passeava tranquilo um belíssimo trio de gansos guardadores. Pelo sim, pelo não, fotografei-os de longe e gabei-lhes o garbo. Estes, pelo menos, safam-se de acabar em “foie-gras”. E ao falar deste que é um rito de luxo, um produto único pela sua suavidade, untuosidade e harmonia, não consigo esquecer a crueldade de que resulta, ou seja, a hipertrofia forçada do fígado da ave.
Já a prova de eliminação propunha que os concorrentes, a ela sujeitos, tivessem a oportunidade de corrigir alguns erros “de palmatória”, denunciados em episódios anteriores. Esclareça-se que é esta prova, tal como o próprio nome o indica, que dita a saída de um, ou uma, concorrente da competição, sem que se tenha em linha de conta o seu percurso até então. “É o tudo ou nada!”. Convenhamos que esta não é madureza dos jurados portugueses, já que o programa obedece a regras e critérios, seguidos em todos os países em que é produzido.
À Teresa, foi-lhe pedido que tentasse, de novo, a sua receita de “crème brûlée”. E se bem que a tradução à letra, do francês, seja creme queimado, a sua confecção exige uma particularidade que faz toda a diferença em relação ao nosso leite-creme. É que se o nosso é feito ao lume, este outro, dos franceses, é feito no forno, ainda que em doce cozedura (em banho-maria), por isso a sua textura resulta de outro modo, mais compacta, menos cremosa, quase pudim.
Uma vez mais, a Teresa falhou no seu crème brûlée, logo ela que se assume uma amante da cozinha francesa (já somos dois!), daí…
…que tenha sido o sexto concorrente a abandonar a competição. Fica, na minha memória, o folhado de míscaros e cabrito, que fez na cozinha de preparação, entre outras agradáveis receitas que posteriormente executou. Mas também a sua elegância e discrição, qualidades que terão ajudado (nomeadamente nas provas de equipas) a que chegasse até aqui, quando a competição já entra na sua segunda metade.
Desde miúda que a Teresa persegue os seus sonhos e vontades: quis ser estilista, tirou um curso. Depois cursou Educação Visual e Tecnológica e deu aulas. Mais tarde, desistiu do ensino e apaixonou-se por Medicina Dentária. Hoje é dentista… em Viseu, cidade onde vive com a sua família: marido e duas filhas gémeas. As mesmas que dizem gostar muito de mim, a ponto de me terem oferecido um desenho, feito por elas, aquando das provas de selecção, e que guardo com carinho.
Felicidades, Té.
No próximo programa:
Que raio de coisa esconderá a caixa, que levou às lágrimas concorrentes e jurados? Mistério!…
Vai ter que esperar uma semana para saber. Só lhe posso dizer que no próximo programa tudo vai mudar!… O Masterchef Portugal não será mais o mesmo!
Muito bem! Adorei a 1 prova. Com uma pitada de sorte (ou azar para alguns) lá fomos vendo os conhecimentos dos concorrentes relativamente à nossa rica cozinha portuguesa. Penso que os jurados são como devem ser! Não saber fazer um arroz, é inaceitável para quem está num programa desta qualidade. Quanto às provas de eliminação, deveriam “ir todos à chapa”; como se apregoava no outro programa… Acreditem que teriam muitas surpresas! Cozinhar não se resume a saber fazer mouse de chocolate. Parabéns Manuel e restantes jurados.
Boa Tarde! Adoro o V. programa, apesar de não concordar com a dureza de alguns comentários dos jurados, mas pronto… O que acho que é pena, é não fazerem um programa diário a mostrar as masterclasses, pois seria bastante interessante poder acompanhar a aprendizagem diária dos concorrentes!! fica a sugestão! Boa Páscoa!
As Masterclasses estão disponíveis na net (http://www.tvi.iol.pt/masterchef/masterclasses) ou em DVD. Foi essa a opção da TVI. Um beijo
Pois, foi o que pensei assim que vi o tal “bitoque”.
Gosto muito do programa, mas parece-me que os concorrentes são muito fracos quando comparados com os da versão australiana. Ontem comprovei esta minha opinião.
Manuel, adoro o programa. Mas vou confessar-lhe uma coisa… N\ao gosto, da forma como o Daniel ( o rapaz de oculos) é tratado pelos colegas… Aquilo que noto, é que é sempre deixado de lado, e n\ao imaginam a beleza de pessoa que ele é … Ontem foi um desses dias, mas se ha concorrente que tem crescido no progrma, é mesmo ele … Ele merece chegar longe !
Tenho adorado o programa, para mim o melhor a passar de momento na televis\ao portuguesa!
Bj
O Daniel não usa óculos, o rapaz de óculos e o Filipe 😉 mas concordo com a sua opinião …
Todos gostam do Filipe, porque é dele que fala. Vai gostar do que o programa reserva para o Filipe. Um beijo
Bom dia Manuel Luís. Uma Páscoa Feliz,com saude e sorte.Tenham um bom Domingo.Um abraço.Gertrudes
por aquilo que vi a escolha para sair foi a melhor, pois aquilo nao era o famoso creme frances. os outros concorrentes podem ser mto bons mas pela postura devia chegar ao fim o rapaz.
Adorei a ideia de terem de reproduzir os pratos que antes nao lhes tinham corrido bem, mostrando assim diretamente a chamada margem de progressão. Parabéns. E também felecitá-lo pela otimo misto de cultura e humor que dá ao programa, mais uma vez parabéns.