Uma ida ao Mosteiro

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O conjunto monástico de Santo André de Ancede, no concelho de Baião, é um exemplar
magnífico do românico em Portugal. E largas dezenas de outros monumentos, entre mosteiros, igrejas, capelas, memoriais… podemos encontrar a norte do país, no território do Tâmega e Sousa, devidamente sinalizados numa rota, a do românico, para que o visitante interessado possa ser levado a tempos medievos e ao conhecimento da importância daquela região na história da nobreza e das ordens religiosas em Portugal. E não andavam uns sem os outros, que é sabido terem sido as melhores famílias a fundar ou a tomar sob sua protecção as mais diversas casas monásticas.

Muitas são as personalidades históricas ligadas a este território, a começar por Afonso, nosso primeiro rei, já que segundo a tradição aqui se fez homem junto dos senhores de Ribadouro e aqui colheu simpatias e fidelidades na hora de o tomarem como líder às pretensões da governança do Condado Portucalense.

Entrar no Mosteiro (pertença da autarquia desde 1985), escaqueirado pelo tempo e pelos sucessivos abandonos a que foi votado após as extinções das ordem religiosas no século XIX e a morte do último frade dominicano residente, leva-nos a lamentar uma vez mais a falta de discernimento da classe política ao longo de sucessivas décadas, por não entenderem que todo este património esventrado, delapidado, em muitos casos irremediavelmente perdido, é das nossas maiores riquezas, nomeadamente, quando pretendemos ser, e temos como, um país competitivo em termos turísticos.

O turismo cultural cada vez mais mobiliza pessoas e gera receitas. Assim é em todo o mundo: em Dezembro de 2014 mostrei-lhe aqui como o Metropolitan de Nova Iorque tem em exibição todo um valioso espólio de claustros inteiros levados de conventos europeus e que é visitado diariamente por milhares de turistas.

Mostrar Portugal apenas como o país do enchido e da vinhaça, como aliás é vulgar ver-se até em programas regulares de televisão, é menorizá-lo. Muito da nossa identidade e força está em cada uma destas pedras que, infelizmente em muitos casos, o mato engoliu.

A importância do Mosteiro de Santo André de Ancede, tal como acontecia com muitos outros, foi tal que toda uma comunidade se desenvolveu em seu torno. A produção vinícola e agrícola do mosteiro, dada a fertilidade dos terrenos que lhe eram pertença, conferiu-lhe grande poder económico. Chegaram a exportar vinho para a Flandres, na altura o principal porto mercantil do mundo, pelo que tinham nau própria para o transporte.

Desde 2010 que a quinta do Mosteiro voltou a produzir vinho, legumes e fruta, por vontade e empenho da Câmara de Baião. Diga-se a propósito que o Mosteiro tem sido uma das grandes preocupações do actual autarca (José Luis Carneiro), responsável também pelos pelouros da cultura, património e turismo (haja alguém que entenda que isto está tudo ligado) estando em curso várias acções de recuperação, restauro e revitalização do conjunto, algumas com a inconfundível marca Siza Vieira.

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Há dias que ando a sul, mas não quis deixar de partilhar consigo um pequeno vídeo que editei, quando passei por Ancede, para que melhor perceba o que sinto, em tristeza, revolta e incredulidade, quando vejo, por todo o país, que o melhor de nós está em risco ou já se foi.

Tome nota:
Muitos dos produtos produzidos no concelho de Baião, nomeadamente alguns do Mosteiro de Santo André de Ancede, como por exemplo a sua “Ginja do Convento”, encontram-se à venda na loja “Porto de Baião”, na rua das Flores, 55 – Porto.
Telefone 220168017
Abre também aos sábados até às 19.00 horas

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Obrigado Pedro Cunha por ter sido o meu cicerone naquela manhã. Um beijo Ana Maria.

7 comentários a “Uma ida ao Mosteiro

  1. Maria Helena

    Gostei do texto, mas faço um reparo .Fala no Sisa Vieira mas quem restaurou o teto pintou e ensinou a pinar foi António de Magalhães Queiroz e Laços há mais ou menos há 20anos com uma opinião do Arq.Fernando Távora.
    É pena esquecerem sempre os pequenos que tanto fazem.
    Maria Helena.

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  2. helder

    Perfeito. Devias ter um programa de história. Falar de história não é só saber história, é preciso vivê la. Abraço grande. Hélder Reis

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  3. Olga Duarte

    Caro Manuel Luís, continuo uma seguidora fiel dos seus artigos sobre o muito que Portugal tem e tão pouco estimado. Estive no Mosteiro de Ancede e na fantástica capela que tão bem descreve e que tanto me encantou.
    Obrigada por mais esta partilha.

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  4. isofia

    Património magnífico de uma importância que poucos têm noção. Felizmente a C. M. de Baião começa, aos poucos, a dinamizar o espaço e a aproveitar o que o (também meu) Concelho tem de melhor.

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