Um sábado diferente!


Combinámos às dez na Quinta da Regaleira, de todos apenas o Tiago conhecia o palácio e tudo o mais por via de ser fotógrafo e de ali ter feito casamentos, mais a Sofia Matos, se bem que no caso da advogada, também da pantalha, e senhora que tanto prezo, o passeio já tivesse sido há muitos anos. Incrível mesmo era saber que eu, vivendo, há vinte anos, a dez minutos de Sintra, nunca ali tinha estado, bem que tentei por diversas vezes mas em chegando perto e ao perceber “milhentos” visitantes desistia sempre, já que gosto de ver tudo nas “calmas” e sem confusões. Sábado às dez é perfeito e ainda tivemos sorte com o sol de inverno, éramos seis, que a grupeta ficou completa com a Maria, minha deliciosa companheira das manhãs, a Sandra, que também é Marisa mas detesta, nossa mui profissional editora, por quem nutro um afecto tumultuoso e especial, e o Pedro Lopes, que o ledor conhecerá por certo também das lidas televisivas, médico apaixonado e eficaz comunicador.

Por ali andámos três horas e mais tivéssemos antes do almoço, perdidos no verde e encantados com o delírio romântico de quem tudo criou nos antigos domínios da Viscondessa da Regaleira. Chamemos à escrita Luigi Manini (1848-1936), arquitecto e cenógrafo, nomeadamente no São Carlos, talvez também por isso a teatralidade de todo o conjunto, do palácio (“bolo de noiva”, para os sintrenses de então, de tão irreal que parecia ser) ao poço iniciático, passando por torres, lagos, e grutas artificiais, e mais os mestres escultores, canteiros e entalhadores que com ele haviam trabalhado no Palace Hotel do Buçaco, contratados por António Augusto Carvalho Monteiro, filho de pais portugueses, carioca de nascimento, licenciado em leis pela Universidade de Coimbra e com interesses vários, da entomologia à obra camoniana. Monteiro dos Milhões, assim era conhecido, pela fortuna herdada e consolidada pelo comércio de cafés e pedras preciosas. Terei de voltar outras vezes, como que a querer tirar-me da realidade, para entrar num universo prodigioso de símbolos e metáforas.

Dali fomos almoçar ao “Solar dos Duques”, em Campo de Ourique, um dos melhores bairros da cidade, por nele tudo se encontrar, nem de propósito que o senhor da Regaleira, lembrei-me agora enquanto escrevinho, tem jazigo ali nos Prazeres, dizem que até parece retirado da Quinta de Sintra tal a sua monumentalidade (será coisa para ver uma tarde destas). Também foi a minha primeira vez enquanto comensal e bem agradado fiquei pela cozinha de conforto feita com esmero e verdade. A Sofia foi nas iscas de vitela, cliente fiel que é do restaurante e da receita, já eu e a Maria optámos pelos carapauzinhos fritos, daqueles que tudo se come da cabeça ao rabo, com arroz de tomate a fugir do prato, que é como eu gosto. Tudo regado com um branco do Douro, fresco e cítrico.

O dia terminaria no Teatro da Trindade, ouro sobre azul, magnífica sala à italiana com mais de 150 anos, para ver “Chicago”, o musical. À entrada percebo a presença do Tito, simpático fotógrafo do grupo Impala, ali feito “paparazzo”. Estava de escala ontem e sabia-se que íamos ao Teatro, pelos vistos dissemos no ar quando segunda-feira passada conversámos no programa com a Soraia Tavares, uma das protagonistas. Ficou contente por termos optado pela matiné, é que senão lá teria de voltar ao Teatro à noite a ver se nos apanhava, e até eu lhe tirei uma foto. Do espectáculo o melhor que posso dizer é que não o pode perder. Já tinha visto este musical em Londres, há uns bons anos, mas foi como se fosse uma primeira vez, tal o empolgamento. Já que conhecia a trama, fixei-me na excelência de todo um elenco: eles cantam, dançam, representam com um talento e uma entrega notáveis, sob a direcção de um homem maior da cultura teatral em Portugal: Diogo Infante.

Regressei a Fontanelas, à hora do jantar, de alma cheia e a querer mais dias assim.

www.regaleira.pt
restaurante Solar dos Duques
Rua Almeida e Sousa, 58
Lisboa
tel. 21 387 2674

12 comentários a “Um sábado diferente!

  1. Maria Saude

    Foi uma bela surpresa encontrar vos nessa manhã de sábado. Foi pena a maior fã lá de casa não ter ido connosco, pois assim que lhe enviei a foto que tirei com o Manel e com a Maria ela ficou com ciúmes . Não sei se se recorda mas fui a jovem de samarra alentejana. Adorei o pequeno momento. Abraços.

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  2. Helena Al

    Sempre maravilhoso na sua descrição nas partilhas que faz… Um dia destes vou lá passear de novo mas com os meus filhos um dia destes por volta das 10h 30

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  3. Alice salgueiro

    Obrigada Manuel Luís pela excelente descrição, senti me a vaguear por aí, que por sinal não conheço, e já agora parabéns pela companhia que me fazem, adoro os dois em separado mas gosto imenso de ver a cumplicidade que criaram

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  4. Gertrudes da Luz Ferra

    Olá ! Manuel Luís . Tenho 70 anos já nao me apetece fazer nada em casa……… de manha vejo o Manuel Luís …….depois do almoço ouço musica……..acabei de ouvir o Andrés Rieu e a Mireille Matheie. E, nao é que de repente me lembrei de 2 programos que anos atrás eu nao perdi nenhum ! NOITES DE GALA no Casinho Estoril apresentado por Joao Maria Tudela……Saudades . Outro….. MOMENTOS de GLÓRIA APRESENTADO pelo Manuel LUÍS. Agora pergunto eu !…. O senhor nao gostaria de produzir e apresentar um programa nos mesmos registos mas com uma nova roupagem ? O publico dos 50 anos para cima e eu com os meus 70 anos ficavamos tao felizes., ÓH ! MANUEL LUÍ DIGA LÁ SE NAO ERA UMA BOA IDEIA ? DESCULPE O MEU ATREVIMENTO !!!!!! Um abraço de Gratidao. Gertrudes

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  5. Margarida Correia Ramos

    OBRIGADA Manuel Luis !
    Também já visitei a Regaleira, vim de lá com vontade de voltar ,ainda não aconteceu ,mas quero muito porque não percorri todo o espaço maravilhoso recomendo
    Respeitosamente Margarida

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  6. Raquel Silva

    Olá Manel
    Estive a ler , como descreve este passeio, amigos jovens e simpáticos.
    As fotos estão maravilhosas, pela camera de um bom fotógrafo. Fiquei admirada, do Manel tão apaixonado pela beleza,que não conhecesse, a Quinta da Regaleira. Que é um regalo apreciá-la e desfrutar toda a sua beleza, encanto com algum mistério
    é o que eu sinto.
    A primeira vez fui sozinha, vim encantada pois vivo muito com este tipo de lugares, gosto de entrar na história.
    Já fui mais vezes, mas nunca numa visita guiada, que deve ser muito interessante.
    Um dia destes, talvez.
    Bjnho

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