Um prato que se serve frio!

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Enquanto leio o livro de Valérie Trierweiler, ex-mulher de François Hollande, o actual Presidente da República Francesa, só me lembro da palavra vingança, de tal modo o seu testemunho é o de uma mulher traída, humilhada e ferida no seu amor-próprio. O livro é demolidor para François Hollande e para quantos pululam à sua volta: “aqueles que conheço melhor são justamente os que não dão a cara”.
“Os homens do poder perdem bem depressa o sentido dos limites”, disse-lhe um psiquiatra ao tempo da sua hospitalização na sequência da ruptura do casal, anunciada pelo presidente através de um comunicado de dezoito palavras. É a “síndroma do vencedor”.

“Demasiadas mentiras, demasiadas traições, muita crueldade”, assim é o comportamento humano no ninho de víboras da política, segundo a autora. “Em menos de uma semana, não só sofri uma verdadeira derrocada na minha vida, como constato a dimensão do cinismo do pequeno mundo dos amigos políticos, dos conselheiros, dos cortesãos”.

Trocada por uma actriz (Julie Gayet), Valérie Trierweiller experimenta do seu próprio “veneno”. Não foi ela também a “outra” na vida de François Hollande quando este estava casado com Ségolène Royal? “Há sete anos, fiz a triagem das malas que Ségolène Royal encheu com os seus fatos. Hoje, é a minha vez de arrumar as suas coisas em caixas e malas que mando entregar no Palácio do Eliseu…”- Lá diz o povo “quem com ferros mata, com ferros morre”.

Diabolizada em França (“desde o primeiro dia que, aos olhos de inúmeros franceses, sou a ilegítima, tomei o lugar de uma outra…) a efémera primeira dama, conseguiu, porém, um êxito retumbante no Reino Unido, onde apresentou o seu livro e participou em algumas entrevistas televisivas impondo o seu talento de oradora. Quando lhe perguntaram se é sua intenção destruir François Hollande, ela responde que apenas pretendeu contar o final de uma história de amor e paixão e que através desse exercido de escrita procurou reconstruir-se: “Lá fora, é verão, sinto-me como uma terra queimada. Durmo muito, acolhendo o sono como uma benção. Dormir sem sonhar, sem a dor que escava o seu sulco, sem a cólera que me devasta, a falta que me devora… Tenho de me segurar. Agir sem ele. Viver sem ele. Pensar sem ele. Amar sem ele”. Valérie não desarma quando lhe lembram que a imagem que passa do presidente é a de um homem mentiroso e vaidoso: “conhecem algum político que não seja centrado em si próprio? François não terá mais defeitos que um outro presidente qualquer”.

Certo é que o índice de popularidade do presidente baixou e muito. “Apaixonei-me na época em que ele era apenas objecto de troça. Hoje, Presidente da República, ei-lo regressado aos três por cento como na época em que éramos o mais felizes possível. Neste mês de Maio de 2014, como que para reatar o passado, não pára de me mandar mensagens de amor. Diz-me que precisa de mim… Teria tanta necessidade de mim se o seu índice de popularidade não tivesse caído tanto? Escreve-me que está à beira de perder tudo”.

Melhor é ler o livro para que seja você a tirar as suas conclusões. São revelações marcadas pela dor, pela revolta e pela crueza. Indignas, como alguém lhe disse, por serem sobre quem se mantém Presidente da República, função sacralizada. Ao que Valérie não se ficou: “Mas quem é que dessacacralizou a função? E porque é que uma mulher traída e humilhada, perante todo o mundo, se deve calar? Uma mulher digna é quem se cala e se submete?”.

Valérie Trierweiler “quis sair do livro sem o peso do que fica por dizer”.

“Obrigado por este momento”
Valérie Trierweiler
editado pelo Clube de Autor

4 comentários a “Um prato que se serve frio!

  1. zuzarte ana

    Acabei de ler o que esta escrito sobre o livro da antiga primeira dame de frança,ela diz que foi humiliada,ela se asqueceu que a fez a mesma coisa com a primeira mulher dele e mae dos seus quatros filhos; sogolene royal ela nada disse sobre a separaçao,mas esta deita fora o veneno sobre François Hollande.o culpado é tambem a impressa que da tanto de falar,se cada casal que se separa da um livro,a literatura esta em mau…

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  2. Celia Silva

    É curioso verificar que os sentimentos são indiferentes a qualquer estrato social. Pois eu acabei de sair de um processo de divórcio antecedido de uma traição ao fim de 30 e muitos anos de relacionamento e 2 filhos. E o meu sentimento é o mesmo que a Dº Valérie, só com uma diferença ela pode e tem o poder de mostrar ao mundo toda a sua revolta, ao passo que eu tenho que a suportar sozinha ( tendo muitas vezes vontade de gritar ao mundo toda a minha revolta).

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  3. Berta Veiga

    “Demasiadas mentiras, demasiadas traições, muita crueldade”, assim é o comportamento humano no ninho de víboras da política, segundo a autora. Até parece que a autora estudou os nossos políticos antes de escrever o livro,não lhe parece?ficção que mais parece realidade e bem perto de nós.

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