Registos e maquinetas ou quando as mãos falam

exposicao1

 

Já fui doido por registos, chegando mesmo a ter dezenas que exibia numa das paredes do meu quarto quando ainda morava em Lisboa, no bairro de São Miguel. Quando me mudei para Fontanelas, desfiz-me, a bem dizer, da “colecção”, dei a maior parte ao meu irmão, terei apenas conservado uma meia dúzia, não mais, e nem sei explicar porquê, talvez para castigar esse meu desapego. Lembrei-me agora, quinze anos depois, de resgatar os poucos que sabia ter guardado no sótão, para os levar para o monte, por achar que fazem todo o sentido, ali na quietude da planície. Não que tenha devoção pelos santinhos que as pagelas exibem mas enternece-me a minúcia e a delicadeza com que estes trabalhos são executados.

exposicao11 exposicao10 exposicao9 exposicao8 exposicao7

 

Herdados da tradição conventual continuam a ser feitos por mãos hábeis e inspiradas, conforme o que mostra a exposição patente ao público até dia 17, no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, em boa hora recuperado pela câmara municipal de Estremoz. São registos e maquinetas, presépios que ainda se fazem em algumas ilhas dos Açores, saídos do talento de Francisca Carreiras, Maria Rita e Guilhermina Maldonado, as três artesãs convidadas a expôr. Se a primeira utiliza tecidos, missangas, papel, vidro e materiais orgânicos, já a segunda trabalha muito com produtos vegetais ( sementes e cascas) e algum de origem animal, como escamas de peixe e casulos do bicho da seda. Guilhermina Maldonado ( e referem-se aos seus trabalhos as fotos seguintes) procura gravuras antigas ou figurinhas em barro vermelho de Estremoz para depois as trabalhar com fio de prata, de ouro, canutilho, fitas de algodão e de seda, tecidos vários entre outros materiais. Guilhermina  terá herdado da mãe o jeito para o papel recortado e de um tio antiquário o gosto pelos registos, bentinhos e maquinetas. Em se vendo casada com Luis Maldonado, senhor de muita lavrança, decidiu recriar esta arte dos conventos com gabado lustro e gosto, assim amaciando o isolamento de quem vive num monte. Não mais deixou de o fazer até aos dias de hoje, com o mesmo detalhe e vagar, para que outros admirem com ternura e devoção.

 

exposicao6 exposicao5 exposicao4 exposicao3 exposicao2

7 comentários a “Registos e maquinetas ou quando as mãos falam

  1. Antonia Ramalho

    Bom dia Manel, estive a ver e a ler tudo isto que publicou sobre registos religiosos. Das artesãs que falou so conheço bem a D.Guilhermina Maldonado. Conheci tambem o Sr. Luis Maldonado, grande amigo de meu Pai e Pai de um grande amigo da minha familia, Ze Maldonado. Vem a Monforte frequentemente com a familia, hoje estão ca, fomos todos almoçar e a amizade que nos une faz com que sejamos uma familia. A D. Guilhermina e uma artesã de mão cheia, tem trabalhos maravilhosos e ainda bem que o Manel trouxe os seus aqui para o monte pois tenho a certeza que se enquadram lindamente na decoração. A minha nora tambem faz lindissimos, mas e apenas uma curiosa, mas tenho a certeza que iriam agradar a quem gosta de registos. Bom resto de fim de semana e um beijinho ao Manel e ao Rui

    Responder
  2. Carla

    Manuel
    Partilho algumas ideias do meu irmão, mails que recebo, vive na Noruega também ele está que fazer a sua evolução como ser pensante. O Deus dele é a vida, o amor, em tudo devemos colocar amor. Amor ao próximo, aos animais, natureza, viver num mundo mais ecológico, fazer alimentação biológica. Há momentos da vida, menos bons que nos fazem despertar, viver no ” agora “, isso é uma aprendizagem, treinar a mente para sermos nós comandar nela e não ela em nós.

    “A vida é uma descoberta magnifica… podemos observar a queda de todos os nossos “modelos” que temos como verdadeiros, mas que são apenas ideias erradas na nossa limitada percepção do que é viver.
    q cada momento está repleto de magia… e q se não a vermos demos tentar fazê-la.
    O pensamento persistente tem poder.”

    Desculpe invadir o seu Cabaré com coisas que nada tem haver com o tema do seu post, sou daquelas que começo a pertencer ao grupo dos malucos, que dizem tudo o que pensam. Não sabe o quanto gostei de ver o Prof. Coimbra de Matos no seu programa, fez-lhe perguntas muito inteligentes. Pode ser um cliché mas volto a repetir que admiro muito o Manuel. Em casa falo de si como se fosse alguém que fizesse parte do meu dia a dia, em certa parte faz. Porque o oiço/leio.

    Caso vá para o monte boa viagem, o calor vai apertar conheço bem os 40º no alentejo, o alentejo está no meu coração, na alma.

    Abraço caloroso aos 2
    Carla

    Responder
  3. Carla

    Manuel
    Há coisas do arco da velha, como dizia a minha avó. Foi uma surpresa ver o Prof. Coimbra de Matos hoje no programa, mesmo ontem falei dele aqui. Com ele aprendi e continou-o a aprender, a verdadeira essência da vida. Sermos nós próprios, falarmos sem pudor, mesmo que os outros nos vejm como malucos. Cada ser é unico, nascemos selvagens, a nossa personalidade é o reflexo das nossas vivências. A psicanálise ajuda a ligar fios, o porquê disto ou aquilo. É um autoconhecimento acompanhado, a meu ver as pessoas seriam muito melhor para elas e para os outros se fizessem psicanálise ou psicoterapia. Não sei quem teve a ideia de convidar o professor, mas quem foi, teve um belissímo gosto.

    Um corpo que não sonha, é como uma casa desabitada, a ruína é o seu destino.
    Coimbra de Matos

    Carla

    Responder
  4. Carla

    Manuel
    Lindos, mãos habilidosas quem os fez.
    Lembrei-me de si ontem ,fui à feira de antiguidades a Azeitão havia coisas lindissímas.
    Fiquei apaixonada por uma comoda preciosa, só não a comprei por não ter onde a por 350 € , 2 consolas em ouro velho daquelas que são pregadas à parede com tampo de pedra 2 pés sem talha lindas, gostava de ter comprado as 2 só que não há espaço, comprei 1 sem saber onde a colocar, foi regateado o preço. Foi dificil a negocio mas consegui 🙂
    Estava um Sr. com peças de um lagar, as prensas, garrafões verdes bojudos, acessórios do lagar muito giros, deviam ficar lindos no seu monte . Um jovem comprou uma prensa e 3 garrafões ( os filtros onde eram filtrados as azeitonas redondos) disse que o vai usar como tapete. Tem que visitar esta feira vai gostar, além do mais pode visitar a Bacalhoa entre outras, em Azeitão existe um comercio que aposta na doçaria local, além usufruirmos de todo um conjunto de regallos para la vista.

    http://www.bacalhoa.com/
    http://jmf.pt/index.php?id=98

    Abraço aos 2
    Carla

    Responder
  5. lsa Piedade

    Obrigada Manuel por divulgar no seu blog tão admirável exposição como disse e muito bem patente ao público até ao dia 17 julho!No Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte! No qual irá a partir do dia 30 do mesmo mês, iniciar mais uma exposição também digna de ser apreciada! Como vem muito a Estremoz aguardamos pela sua visita! Obrigada!

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *