O trambolhão da Cátia

fotografia1A duas semanas da grande final recebemos na cozinha do MasterChef a vencedora da competição do ano passado, a Rita Neto, e viu-se como isso foi estimulante para os concorrentes que estão cada vez mais perto do objectivo final. Ninguém melhor do que a Rita para simbolizar o quanto este programa pode mudar a vida de quem nele participa. A jovem arquitecta de Setúbal, pela vitória alcançada com grande mérito, viu a sua vida mudar completamente através de uma completa e exigente formação, de nove meses, na melhor escola de alta cozinha do Mundo, “Le Cordon Bleu”, em Madrid. Se já antes queria seguir o sonho da cozinha, agora na posse do grande diploma está apta a oficiar numa qualquer cozinha profissional de gabarito. Ouvi-la, como o fiz nos bastidores da prova a que hoje assistiu, foi ficar com a certeza que a mudança tomou conta da sua vida e que esta vai passar por longes paragens, onde a descoberta de novos sabores e experiências só poderão enriquecer e cimentar tudo quando já aprendeu e assimilou. Na prova da caixa mistério o que a Rita propôs aos concorrentes foi um desafio com produtos do mar, salmonetes e carabineiros, e os resultados foram díspares. O Leonel, por exemplo, desiludiu, e de que maneira, ao apresentar-nos o peixe cru (não há desculpa nesta fase final da competição), enquanto o Manuel deixou-o secar. O peixe da Joana apresentou-se perfeito, mas sem molho. O ravioli da Cátia, feito com tinta de choco e recheio de carabineiro, estava duro e o molho proposto pela Ann Kristin demasiado agressivo, talvez a combinar com a concorrente.

Há muitas semanas que, enquanto jurados, não temos dúvidas acerca da sua categoria como concorrente. Pelo bom gosto e modernidade dos empratamentos (provou-o uma vez mais nesta prova), pelas técnicas usadas e pelos conhecimentos que detém. É isso, e só isso, que conta, volto a dizer, mas porque cozinhar profissionalmente exige saber trabalhar em brigada, ou seja em equipa, achei que poderia sugerir à concorrente uma pitadinha de humildade, sobretudo na hora de ouvir uma crítica. Soube que, aquando dos depoimentos (no momento em que escrevo este texto não sei se porventura essa parte foi editada), a Ann-Kristin disse em jeito de resposta que “humildade é sinónimo de falta de confiança” e por isso era coisa que rejeitava liminarmente. Curiosamente, tal como lho disse já concluídas as gravações, e redigo agora, acho que a arrogância, essa sim, pode mascarar um défice de auto-confiança. Quando se é seguro, uma crítica construtiva não abala e escuta-se tranquilamente, sem desdém. Quando se é seguro, não necessitamos de armar defesas face a uma opinião que nos seja contrária.
Desta vez foi o Pedro a surpreender-nos procurando recriar a receita de salmonete que a Rita Neto apresentou-nos, com sucesso, na edição anterior. O seu molho de carabineiro revelou-se delicioso, entre outros gabos que a receita nos mereceu. Prova concluída haveríamos de juntar o Pedro com a Ann Kristin (safadeza esta, que todos sabemos que os santos destes não casam) e com a Joana para a seguinte. O palco para a prova de equipas não poderia ter sido mais majestoso. Olé!

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Da paixão que Sevilha me despertou, já lho disse neste blogue em prosa anterior que pode rever se achar interessante. Porém, nada escrevi na altura sobre a Praça de Espanha que nos acolheu para a prova e fi-lo, propositadamente, a guardar-me para este momento. A Praça não poderia ser mais imponente, era este o impacto que se pretendia com sua construção em 1929, por vontade de Alfonso XIII, rei e bisavô do actual Filipe VI, para a Cimeira Ibero-Americana que nesse ano se realizou na capital da Andaluzia. Levou quatorze anos a construir, num estilo muito sevilhano, segundo o projecto do arquitecto Aníbal Gonzalez, caracterizado por combinar artes tradicionais tão enraizadas na construção local como a do ladrilho recortado, a da cerâmica artística, a da madeira entalhada com os estilos históricos próprios da cidade, desde o Mudéjar ao Barroco. Todas as províncias de Espanha estão ali representadas nos retábulos azulejares, daí o nome com que a praça foi baptizada.

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Foi em pleno parque Maria Luisa, um dos pulmões verdes da cidade, formado a partir dos jardins do Palácio de San Telmo que a Infanta Maria Luisa de Borbón y Borbón doou a Sevilha em 1893, que recebemos os concorrentes que resistem em prova e logo estranhámos o facto da Cátia se apresentar de braço ao peito. Aquilo havia sido queda no dia anterior por causa de um pino, daqueles que impedem o estacionamento de carros nas artérias do coração histórico da cidade – foi o que a própria nos explicou, não pondo sequer a hipótese de deixar de fazer a prova. Podia lá desistir, deixando uma equipa desfalcada e em desvantagem pela falta de um elemento. Só da Cátia, senhora de um contagiante sorriso que nunca esmorece, nem mesmo em situações dramáticas como aquela. Foi impressionante vê-la laborar daquele jeito, procurando que o braço incólume fizesse o trabalho de dois e sempre preocupada com os outros elementos da equipa. Não imaginei a enormidade do esforço, ao longo da prova, porque desconhecíamos a extensão do problema. A Cátia havia fracturado o ombro em cinco ou seis pontos e por isso teve de regressar a Portugal após a prova de equipas, já não participando nas gravações que decorreram no dia seguinte com os restantes concorrentes, em vários pontos de Sevilha.

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Para a avaliação da prova na Praça de Espanha contámos com o contributo da Samantha Vallejo Nagéra, jurada do MasterChef espanhol, para além dos convidados à mesa, figuras ligadas ao turismo andaluz e à cidade, e do cônsul de Portugal em Sevilha, Jorge Monteiro, que, aliás, ficou à minha direita e com quem conversei longamente. O consulado fica ali ao lado, num belíssimo edifício construído para albergar o pavilhão de Portugal na Cimeira Ibero-Americana de 1929 e fiz questão de o visitar, terminadas as gravações. A prova de equipas foi ganha pela da Ann-Kristin, Pedro e Joana, por ter sido a que mais se aproximou dos sabores da cozinha andaluza, mas ficou também marcada por alguns percalços de permeio, do mais divertido, como o que forçou o chefe Rui Paula a mudar de fatiota, àquele que poderia ter sido grave, o dos respingos de azeite quente no rosto da Joana, um pouco por canhastrez da jovem concorrente. Ficámos a saber que o creme catalana tem de se apresentar mais fluído que o nosso leite-creme, que o gaspacho andaluz, onde todos os ingredientes são triturados, pouca, ou mesmo nenhuma, cebola deve levar, e que os churros não devem ser passados por mistura alguma de açúcar e canela, ficando isso para depois e consoante o gosto de cada um.

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Regressados à cozinha do MasterChef, e antes de mesmo da última das provas, todos ficámos a saber da desistência forçada da Cátia. A quatro horas de ser operada no Hospital Lusíadas Lisboa, e depois de ali ter efectuado uma série de exames prévios necessários, quis ainda voltar ao estúdio para se despedir dos colegas e de nós, jurados. Foi um momento emotivo com uma concorrente que marcou esta competição pela alegria, pela força e pelo sorriso. Nunca recusou um desafio, por mais complicado que fosse, próprio de quem abomina o banal, o básico. O facto de se assumir insatisfeita, justifica o que muitas vezes lhe apontámos como criatividade descontrolada ou a dificuldade de saber parar no momento certo. Mas até disso ficámos saudosos.

O trambolhão da Cátia acabou por ditar um desfecho completamente inesperado neste décimo terceiro programa. Pela primeira vez na competição, e perante a saída da Cátia, não houve eliminação, passando-se a cozinhar para a conquista de um avental dourado ou, se preferir, de um passaporte para a final.

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O desafio revelou-se surpreendente. Fiz-me “leiloeiro”, desafiando os concorrentes a adquirir produtos alimentares em troca de tempo. Cada concorrente teve de pensar se preferia fazer a prova em menos tempo e escolher os ingredientes que queria confeccionar ou se, por outro lado, preferia mais tempo e ficar com os ingredientes que iam sobrando ao longo do leilão. Não poderia ter sido mais divertido. À Joana coube o desafio mais difícil: licitou cinquenta minutos, ficando com outro tanto, o que era manifestamente acanhado para quem tinha uma barriga de porco para cozinhar, mas conseguiu desenvencilhar-se bem e assim provar que regressou, mesmo, à competição com outro fôlego. Foi a Ann-Kristin quem ganhou o avental dourado: apesar de um empratamento aquém do que nos habituou, apresentou uma receita de lavagante muito saborosa e com um delicioso esparregado, logo ela que há umas semanas nem sabia o que isso era.  A Ann-Kristin já está na final e é inteiramente justo.

Na próxima semana:

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MasterChef está a chegar ao fim. Já temos uma finalista, a Ann-Kristin, mas ainda há três lugares livres para a final e quatro concorrentes em prova. Qual destes abandonará a cozinha do MasterChef: Leonel, Manuel, Joana ou Pedro?
Sábado próximo sabê-lo-á!

4 comentários a “O trambolhão da Cátia

  1. Anabela Marques

    Tenho muita pena de não conseguir ver o progama mas quero aqui elogiar as belissimas fotos que foram aqui colocadas…já deu paea viajar um pouco sem sair de casa. Obrigado.

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  2. liliana neto

    Antes de mais, quero felicitar a TVI e os apresentadores do Masterchef!! É excelente, excelente! adoro mesmo! Tenho imensa pena que vá terminar!! Quanto à Cátia, era a minha favorita! Despachada e muito perspicaz! Lamento muito a sua saída! Agora torço pelo Leonel ou pelo Manuel! Não gosto da Ann pois acho-a convencida! de um modo geral, parabéns a todos!!!
    Façam já um novo programa!!!
    beijos Manuel e um especial à minha querida Cristina! Adoro-vos!!!
    Liliana

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  3. Fernanda Lima

    Um grande beijinho á Cátia a minha preferida mulher de garra programa
    precisa assim de garra atitude tinha sempre solução pra tudo ria me muito com ela
    os meus parabéns pra ela e muito boa sorte daqui pra frente um grande beijinho
    aqui da ilha Terceira pra ela e restantes concorrentes

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