O meu foi melhor que o teu!

Há muito que não fazia algo que sempre me agradou: passar um fim de semana apenas comigo, a bem dizer um sábado inteiro, que sexta é para ir, depois dos afazeres profissionais, e domingo é para voltar e pode ser logo ao fim da manhã para chegar ainda a tempo de amainar a excitação. Eu explico: é então que me desforro nas exposições, nos concertos, nos espectáculos de ópera… coisas que me deixam possuído por uma espécie de vertigem precisando depois de um tempo para “cair na real”.

Se o Rui havia ido para Sevilha para assistir a uma corrida de touros, coisa que abomino, e participar na “Feria”, diga-se que também não sou dado a grandes confusões, a mim apeteceu-me conhecer Chantilly, o seu palácio, os jardins, o museu do cavalo… sem sequer dar um pulo a Paris, ali a trinta quilómetros, já que até o hotel é nos seus domínios. Um sábado só para mim, dono e senhor das horas, para entrar no palácio logo ao abrir da porta tanto que há para admirar. Só a colecção de pintura clássica é tida como das mais importantes de França a seguir à do Louvre e se duvida deixe-me atirar-lhe aqui uns quantos artistas ali representados: Raphael, Delacroix, Nicolas Poussin…

Foi Henrique de Orleães, Duque de Aumale, quinto dos filhos de Luís Filipe, o último rei dos franceses, quem a adquiriu gostando de com ela surpreender os seus convidados após o jantar, pelo que a imponente galeria onde a maior parte da colecção se exibe, tal como foi por si disposta, abre-se a meio da sala das refeições de aparato. Amante das artes e coleccionador, juntou igualmente na biblioteca, construída bem ao jeito do século XIX, milhares de livros e manuscritos, dezanove mil de uns e mil e quinhentos de outros, para sermos mais exactos. Sem herdeiros directos, Henrique de Orleães decidiu legar todo o Domínio de Chantilly, bem como os seus tesouros, ao Instituto de França, instituição criada em 1795, agrupando as cinco grandes academias francesas, deixando no seu testamento de 1884 bem explícita a vontade em que toda a propriedade fosse um lugar de excepção para usufruto do público e que nenhum quadro ou outra obra de arte fosse retirada do local.

Passear pelos jardins em dia de chuva torna-se desconfortável, ainda por cima para quem como eu se apresenta todo pimpão, mas mesmo de sapatos enlameados tinha pelo menos de percorrer o que Le Nôtre, o mais famoso paisagista de todo o barroco francês, desenhou, que os outros deixo para quando voltar em dia de corridas. Sim, que Chantilly é a capital do cavalo, sendo este celebrado no museu onde antes eram
os estábulos do palácio. Há exibições de dressage todos os dias e os cavalos usados são lusitanos, fiquei contente de saber e ver, diz quem com eles
lida que é por terem carácter.

Nas antigas cozinhas do palácio é agora um restaurante. Ali almocei, uma refeição mediana, nem outra coisa seria de esperar, o que me interessava era imaginar-me no espaço onde Vatel oficiou enquanto intendente e chefe das cozinhas do Príncipe de Condé. Ali baptizou o seu creme de natas batidas, perfumado de baunilha, com o nome do lugar e em Chantilly se suicidou quandoachou que o peixe encomendado para o festim em honra de Luís XIV não chegaria a tempo. Acabou por chegar já Vatel havia ido desta para pior.

Outro nível de exigência teria ao jantar, que o restaurante do hotel faz gala no seu chef estrelado pela Michelin (Julien Lucas) e apetecia-me acabar a jornada em beleza. Sim, realmente a cozinha toda ela é superior mas babei-me foi com o puré de batata que acompanhava o pombo, tal qual a receita de Joel Robuchon que me delicia sempre que vou ao seu “L’Atelier”. Não há outro assim, untuoso e leve. Bem que pergunto qual a manteiga que usam mas fecham-se em copas, que o segredo reside nela e na sua dosagem, convenhamos que generosa. Tanta gordura faz mal, dir-me-ão alguns, pois sim, mas esta sabe pela Vida e um dia não são dias!

Está na hora de regressarmos, cada um do seu fim de semana, e de partilharmos as emoções vividas. E ainda que umas e outras não sejam comparáveis, que aos “olés” duma praça em delírio e tal nunca conseguirei entender, quis a quietude da contemplação, já sei que acabaremos ao despique dizendo que “o meu foi melhor que o teu!”.

Fotos Palácio

Fotos Museu do Cavalo

Fotos Jantar

15 comentários a “O meu foi melhor que o teu!

  1. Paulinha Velez

    MLG
    Depois de ler e ver as suas fotos.. Umas vinte vezes, parece que estive lá.. Obrigada pela generosidade destas partilhas, pois quem nunca foi… Ja pode falar com algum conhecimento.. Obrigadaaaaa é tudo tão belo e a história dava um filme
    Obrigada

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  2. Maria José Marques

    Muito obrigado, pela reportagem maravilhosa e a partilha das fotos. Eu também não trocava este passeio pelos toiros. Beijinhos aos dois
    Maria José Marques

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  3. Ana Simão

    Muito obrigado Manel pela generosidade de partilhar essa sua viagem tão maravilhosa terei sempre que o elogiar de tanto que o respeito e o admiro, terá sempre que ser por aqui no seu blogue pois na sua página do facebook deixei de poder comentar e só me é petmitido partilhar como um cadtigo de tanto elogio ao apresentador e homem que tanto admiro beijinhos para o Rui e para si querido Manel

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  4. Maria de Jesus

    Abençoado Manuel Luis Goucha .
    Um Sábado maravilhoso e bem aproveitado em ver o que vale a pena.
    Embora, também goste de ver de vez em quando uma tourada.
    Não se zanguem. O seu Sábado foi muito melhor.
    Beijinho

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  5. Teresa Teles

    Espero que tenha gostado. Para mim faz me lembrar um pouco a zona de Sintra pois tudo à volta do Castelo é só espaços verdes com muitos jardins e uma bonita floresta. Eu sei pois moro perto de Chantilly uma pequena aldeia que se chama Marly la ville já vai fazer 9 anos.

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  6. Ilda Cardoso

    Simplesmente fantástico muito obrigada por partilhar as fotos para podermos ver e apesar de gostar de tourada não trocava de jeito maneira,por essa maravilha mais uma vez obrigada .

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  7. Dina carvalho

    Pois eu também abomino touradas, sinto-me sempre na pele do touro (sou taurina de signo), na sua luta para se defender de tudo à sua volta, e fico muito triste, de não poder acabar com essa “triste festa”!
    Isto para dizer, que faria o que o Manuel Luís fez, gostei muito da sua reportagem, mas também, iria sim, perder-me pelas ruas de Paris, que eu tanto gosto!
    Por outro lado, adorei ver os vídeos que o Rui fez, pelas ruas e praças de Sevilha, em passeio de charrete, que também tanto gosto!
    Obrigada aos dois e continuem a ser felizes!

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  8. Antónia Marques

    Sonho com a descrição e as fotos, uma reportagem Fabulosa, para quem, como eu, adora a cultura, “só sei que nada sei”… Lê Nôtre que criou tb. os fabulosos jardins de Versailles, etc. É por isso que eu gosto tanto de si, brincalhão, culto e bem resolvido na Vida! Um abraço

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  9. Célia

    Mas que excelente fim de semana!
    O Rui pode dizer que o seu fim de semana foi um regalo,mas Manuel diga lhe que o seu foi um must…
    Livros,pinturas, beleza de um sitio onde se imagina vivências de outrora…nada melhor para enaltecer a nossa alma e enobrecermos a nossa ânsia voraz de cultura…
    Como o compreendo…
    Não conheço esse lugar que ao julgamento me parece magnífico…
    Ficará guardado em lugar próprio.. até aguardar vez no livro das descobertas…bjnho e bem haja pela partilha…
    Quanto ao Rui…hmmm,cheira me que se terá arrependido(permita me que o diga…)

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