Falar de “Chateau Mouton Rotschild” é falar de um dos melhores vinhos do Mundo. Visitar as caves, a uma hora de Bordéus, é entrar num mundo feito de paixão, de saber e de audácia, marcado pelas personalidades de Philippine de Rotschild (1933/2014) e de seu pai, o barão Philipe de Rotschild (1902/1988). A história do vinho é porém um pouco mais antiga, teremos de recuar a Maio de 1855 quando o barão Nathaniel de Rotschild, do ramo inglês da família, compra, aos barões de Brane, o “Chateau Brane-Mouton” logo rebaptizado de “Chateau Mouton-Rotschild”, juntando assim aos grandes vinhos do Médoc o nome de uma família célebre, sinónimo de progresso e sofisticação. Quando Philipe de Rotschild, com vinte anos, seduzido pelo charme do local, toma em mãos os destinos da propriedade, passa a marcar o negócio com grande sentido comercial e inovação. Logo em 1924 assume a revolucionária medida de engarrafar o vinho dentro do “Chateau”, passando assim a controlar todo o processo vinícola. Até então os vinhos eram engarrafados em Bordéus, pelos negociantes do vinho. A sua luta de anos, coroada de êxito, foi a de conseguir elevar o seu vinho à categoria máxima de “Premié Cru Classé”. A partir de 1988 é a sua filha, a baronesa Philippine de Rotschild, quem passa a presidir à sociedade familiar impondo-se num mundo até ali marcadamente masculino, através da sua energia, modernidade e curiosidade. O seu amor pela arte em geral e pelo teatro em particular, tendo sido actriz da “Comédie-Francaise” durante parte dos anos oitenta, influencia algumas das suas mais notáveis decisões, como por exemplo a de juntar ao arquitecto Bernard Maziéres o cenógrafo Richard Peduzzi, encomendando-lhes a construção das novas caves. O resultado é impressionante. Verdadeira catedral do vinho, em chegando a época das vindimas, todo o espaço se redimensiona teatralmente para receber as uvas e dar-se início ao longo processo de vinificação.
As caves escondem tesouros impressionantes, por isso a visita exige tempo e atenção, que o deslumbre está garantido, a começar pela caixa-forte, digamos assim, onde se guardam dez garrafas de cada vinho ali produzido, desde sempre. Não podemos lá entrar, contentamo-nos por vê-las através das grades. Nem os nazis, que ocuparam a propriedade durante a segunda guerra mundial, deram com elas, emparedadas que foram pelo barão Philipe. Em 1945, após a Libertação, é o próprio quem decide dedicar o “milésime 1945” (um dos maiores vinhos do século XX) à vitória dos aliados, convidando Philippe Julian, artista gráfico, a desenvolver um rótulo com o V (da vitória) e dando, assim, início a um hábito que ainda hoje se mantém e que faz igualmente a diferença: o de convidar anualmente um artista plástico a criar uma etiqueta para o “Chateau Mouton-Rothschild”. Todos estes trabalhos artísticos estão em exposição, pelo que é possível passear pelos rótulos de 1945 até aos nossos dias, percebendo que nomes como Jean Cocteau, Chagall, Picasso, Salvador Dali, Miró, Andy Warhol, Francis Bacon, Kadinsky, entre muitos outros, desenharam para a família, por vezes a troco de umas caixas de “Chateau Mouton Rotschild” (se pensarmos que hoje uma garrafa pode atingir preços na ordem dos muitos milhares euros, um pagamento assim não seria de todo desprezível).
Como se não bastasse a valiosa exposição dos originais criados para os rótulos, somos ainda surpreendidos por um museu, sem tirar nem pôr, onde se exibem obras de arte, entre pinturas, esculturas, tapeçarias e objectos, tendo o vinho como tema. O museu foi inaugurado em 1962, por André Malraux (grande escritor e pensador francês) enquanto ministro da Cultura. Não falta um belíssimo jarro de vinho em prata trabalhada, obra maior da ourivesaria portuense do século XVIII, mas das largas centenas de peças que compõem o acerco, com séculos de existência e trazidas pela família, dos quatro cantos do Mundo, destacaria o impressionante trabalho de minúcia, em marfim, de António Leoni (século XVIII).
Actualmente são os filhos de Philippine de Rotschild que gerem o negócio com mestria e dedicação, honrando o legado de sua mãe e avô e o nome daquele que é um dos dez melhores e mais caros vinhos do Mundo.
… maravilhoso … tanto para aprender … tanto para agradecer!
Gostei bastante do que vi e achei muito interessante as histórias associadas à vida dos Rotschild.
A ideia dos rótulos é de cabecinhas pensadoras!
É interessante saber como conseguiram enganar os alemães, tudo é história.
Obrigada
Raquel
maravilhoso adorei obrigada Manuel bom fim de semana tudo de bom