No rastro de Maria Pia de Sabóia (I)

maria pia saboia

Foi Isabel Silveira Godinho, então directora do Palácio Nacional da Ajuda, quem me deu a conhecer Maria Pia de Sabóia, apaixonada que era pela personalidade quase vanguardista para a época daquela que foi nossa rainha consorte pelo seu matrimónio com Luís I de Portugal.

Visitar o Palácio da Ajuda, o mais rico e completo dos nossos museus em artes decorativas, actualmente sob a superior direcção de José Alberto Ribeiro, é entrar no mundo de Maria Pia, ficando-se assim a par dos seus gostos pessoais, já que a ela deve, em grande parte, a decoração do Palácio, à excepção do seu quarto, decorado, apaixonadamente, pelo próprio rei. “Vou forrar o teu quarto de azul”, escrevia-lhe o rei a 24 de Agosto. E assim o fez, a cetim com ornamentos dourados. É ainda perceptível o confortável ambiente familiar que Maria Pia conseguiu ali criar para si, seu marido e filhos (o futuro rei D. Carlos e D. Afonso), independentemente das funções do Palácio como sede da corte.

Do que li e ouvi sobre Maria Pia e os Sabóia, há muito que tinha vontade em conhecer Turim, a uma hora e pouco de Milão, digo-o por a TAP já não ter voo directo para esta que é a quarta maior cidade de Itália e sendo assim alcançamo-la, rapidamente, de carro ou de comboio a partir do aeroporto de Malpensa. Aproveitei este fim de semana, que faço mais prolongado do que a conta, para seguir o rastro de Maria Pia, desde o seu nascimento até ao seu sepultamento, já que após quarenta e oito anos de vida em Portugal, enquanto rainha e rainha-mãe, depois da morte de D.Luis, voltou a Turim, na sequência do exílio que a implantação da República de 5 de Outubro de 1910 impôs à Família Real.

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Palácio Real de Turim

Casa dos Sabóia entre 1660 e 1861, data da unificação de Itália. Aqui nasceu Maria Pia a 16 de Outubro de 1847, filha de Victor Manuel II, rei da Sardenha, vindo a ser o primeiro monarca da Itália unificada, e da Arquiduquesa Maria Adelaide de Habsburgo Lorena, sendo a mais nova dos cinco filhos do casal.

Foi na capela real do Palácio que casou por procuração a 27 de Setembro de 1862, tinha então 15 anos, embarcando dois dias depois, na corveta “Bartolomeu Dias, “jóia” da marinha de guerra portuguesa, rumo a Portugal, onde chegaria a 5 de Outubro. No dia seguinte, o casamento seria ratificado em cerimónia com solene “Te Deum”, na Igreja de São Domingos, e seguir-se-iam três dias de festareu, com paradas, fogos de artifício e récitas de gala. Diz-se que, antes da sua partida para Portugal, Maria Pia entregou ao síndico de Turim 20.000 francos para serem distribuídos pelos pobres da cidade, tendo ainda pedido, com êxito, a seu pai que amnistiasse todos os presos políticos.

Dizem que os jardins do Palácio Real são de André le Nôtre, o maior paisagista do Barroco, criador dos principais jardins do Mundo, como Versalhes, por exemplo, senhor de um inconfundível estilo simétrico, estruturado com perfeição através de grandes eixos rectilíneos por onde se distribuem canteiros, espelhos de água e belíssimos elementos arquitectónicos. Pena que os jardins estejam fechados ao público mas pelo que vi das janelas já só resta uma pálida imagem do que possivelmente foram.

Continua…
goucha turim

Amanhã: visita ao Palácio de Stupinigi, onde a rainha Maria Pia faleceu, e à Basílica de Superga, para ver o Panteão Real dos Sabóia, onde está sepultada.

10 comentários a “No rastro de Maria Pia de Sabóia (I)

  1. Maria Garcia

    Dona Maria Pia ainda tinha 14 anos quando casou Uma violência sem dúvida Só por isso já merece o nosso respeito Vir uma criança para um País estranho, sem conhecer ninguém, para casar quando ainda devia brincar com bonecas Coitadinha! (O conde de Mafra chamou-lhe coitadinha, no seu Diário, a propósito da partida para o exílio)

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  2. Carla

    Manuel
    Maravilhoso!!
    Vejo que o Manuel é apaixonado por história, enriquece a alma a sabedoria, o saber, o ver.
    Obrigado por partilhar o belo e parte da sua história.
    Tenho em casa um apaixonado pela história, geneologia, heráldica. Veja o pote que tenho em casa, representa as armas de familia, ao vivo é muito mais bonito.

    https://www.facebook.com/HPacoDaChancelaLda/#!/HPacoDaChancelaLda/photos/a.191623374324731.1073741828.191608250992910/436988459788220/?type=3

    Carla

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  3. Maria de Lourdes de sousa

    Que belas fotos,e de facto com a tua bela forma de explicar,fiquei encantada,bom passeio,e vai.nos deliciando com mais,Versailles, eu conheço bem!de Itália,conheço, Veneza Pádua, Florença, ,,,,Turim não conheço, mas fiquei com vontade!!!!!bjs

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  4. Madalena Ferreira

    Olá MLG,

    Mais uma partilha, das muitas que faz com os seus seguidores.

    Não tenho palavras para agradecer e para lhe dizer quanto estou a gostar – sim, porque há mais?

    Obrigado e divirta-se,

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  5. Isabel Santos

    Bem … é de ficar de ” boca aberta” tal a beleza das fotos … que complementadas com a sua prosa nos transporta à época.
    Magnífico!
    Aguardo próxima publicação.
    Bem haja MLG.
    Beijos e boa estadia ☺
    Isabel Santos

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