No palácio da Duquesa de Alba

“Olha a noiva maiiii liiiinda!” – o que nos ríamos, em pleno programa, sempre que a Cristina brincava com o facto de Cayetana, a aristocrata duquesa de Alba, se ir casar, pela terceira vez, na altura já com mais de oitenta anos. Era figura que admirávamos pelo que dela sabíamos de insubmissão e independência (“… desde pequena que sempre tive uma grande auto-confiança… Não posso dizer se fui bonita – não sou eu que tenho de o afirmar – mas sei que sou atraente, interessante, diferente. Posso parecer excessiva, mas a falsa modéstia aborrece-me” em “Eu, Cayetana”) e várias vezes manifestámos, nos nossos incontroláveis delírios em directo, a vontade de irmos bater-lhe à porta para que ela nos recebesse, como se nos fosse ligar alguma.

Agora, quatro anos depois do seu falecimento, qualquer um pode franquear as pesadas portas do seu palácio em Sevilha, uma vez aberto ao público, se bem que não registe grande afluência, talvez por estar fora do chamado percurso turístico (tanto melhor, confesso, que detesto visitar, o que quer que seja, com atropelos, tempo contado e guias debitando apenas o que lhes interessa), mas partindo da Catedral contei dez minutos por becos e ruelas.

Dos três palácios mais importantes da Casa de Alba, o mais imponente será o de Madrid, o Palácio Lira, soube que abre ao público uma vez por semana, o maior palácio privado de toda Espanha. Ali nasceu Cayetana em 1926 mas seria sobretudo em Las Dueñas que viveria os últimos anos, nele acabando por falecer, por sua vontade, a 20 de Novembro de 2014. Gostava particularmente desta casa e sobretudo de Sevilha, da exuberância da sua luz e das suas tradições. Como a compreendo: Sevilha tem feitiço!

A casa desenvolve-se à volta de um pátio de honra, segundo a tradição mourisca e sobre ele abrem-se os mais diversos cómodos do rés-do-chão, os únicos visíveis ao olhar do público, já que todo o primeiro andar se mantém residência privada. Se o próprio pátio exibe azulejos e cerâmica de Triana e tapeçarias flamengas dos séculos XVII e XVIII, muitas são as peças valiosas que recheiam a capela, a biblioteca e os salões. De realçar na biblioteca, onde edições raras vestem as estantes, um autógrafo de Dali lado a lado com um desenho seu de Quixote de Cervantes. Aliás, ao longo dos anos, o Palácio de Las Dueñas tem albergado visitantes reais e ilustres, como Alfonso XIII, Jorge VI de Inglaterra, Eugénia de Montijo (mulher de Napoleão III), Eduardo VIII, Rainier do Mónaco, Grace Kelly (sendo porém a duquesa de Alba a aristocrata com mais títulos do Mundo, mais de quarenta), Mário Vargas Llosa, Montserrat Caballé…
Entre muitas curiosidades que o palácio, igualmente, exibe é de notar a sala cujas paredes estão forradas de cartazes tauromáquicos e outros relativos à mítica feira anual. Arte (a própria pintava), touros e flamenco eram grandes paixões de Cayetana, todas elas também ligadas à “sua” Sevilha: “Não me canso de agradecer a Sevilha, a cidade mais maravilhosa do mundo, pela qual me apaixonei no momento em que a conheci, sentimento que cresce a cada dia que passa. Muitas vezes sinto a nostalgia das suas ruas, dos seus jardins, dos seus recantos, mas esse é estado de alma que passa quando o Inverno dá lugar à exuberância da Primavera e devolve a cidade aos sevilhanos para a viverem em momentos únicos e intensos como o da sua Semana mágica e Santa”.

Olha Cristina, como ela teria gostado de nos conhecer! Já te estou a ver
a bailar, a bailar… olé!

 

 

10 comentários a “No palácio da Duquesa de Alba

  1. Ana Lúcia Mendes

    Adorei o post, ainda para mais porque me inteirei há pouco da grande mulher que foi Cayetana de Alba. Vi há pouco a série espanhola A Duquesa, onde dá uma pequena ideia da sua vida e fiquei fascinada. Espero ainda este Verão ir a Las Dueñas e ter o mesmo privilégio que o Manuel teve.
    Bem haja
    Ana Mendes

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  2. Maria Sousa

    Boa Tarde Manuel
    “Uau”, lindo. Não sabia que estava aberto ao público. Adoro a trepadeira lilás, adoro tudo o que tem essa côr. Bem como toda a arte envolvente.

    Boas visitas e continuação de boas férias. Beijinhos para ambos.

    Maria Sousa

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  3. Antónia Marques

    Adorei o comentário e as fotos, como sempre belos enquadramentos ! Visitei o Palácio uma semana antes de Vós; e, fiquei intrigada por ver em colunas do pátio interior o brasão real de Portugal e tb. pintado num quadro, ao lado de outro quadro com um brasão que penso ser da Casa de Alva ou Olivares ??? Porquê o brasão monárquico português lá ?? Terá a haver com a dinastia Filipina em Portugal e com a ajuda dada a D. Filipe II, de Espanha ??? Ainda não encontrei a resposta … Feliz resto de férias ! Bjns

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  4. Lucinda Costa

    Manuel eu ria me sozinha quando vocês falavam da Duquesa e a Cristina fazia aquelas palhaçadas.
    Continuação de boas férias ☺

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  5. Carolina

    Adorei relembrar tudo o que nos diziam da duquesa.
    E agora escrever toda essa História, daquela que eu tinha sempre negativa…
    Mas agora sempre que posso tambem gosto de visitar tudo o que é passado…
    Na minha opinião a culpa devia ser da professora
    Guardem todo este vocabulário…quero um livro de memorias do Goucha.
    À ja agora não se esqueça da Isabela para apresentar o Circo…ela merecia ganhar (todos)

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  6. Maximiano Peixoto

    Bom dia, sei que sou ordinário mas Sr Manuel Luís Goucha por favor podia contactar-me estou mesmo a precisar de falar consigo, aguardo resposta.

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  7. Maria de Lourdes

    Adorei a sua maravilhosa discrição sobre Sevilha e sobre o Palácio de las Duenas
    Sevilha é mágica mesmo! Também já visitei o Palácio e fiquei emcantada. Fui fã da duquesa, lia tudo o que se relacionava com ela, era uma mulher muito interessante, muito culta, e muito à frente , para a época! E claro, por supuesto, também sou su fã 🙂
    Um abraço Manuel Luis

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  8. Maria de Fátima Pereira Mesquita

    Estava à espera do texto mas desta vez fez as minhas delícias que são as fotos ( os textos também o são) que eu adoro há sabe! Bem haja e obrigada. Está o maravilhosas como sempre. Continuação de bom descanso❤

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