No Mosteiro de Lorvão

Em havendo um mosteiro por perto é certo e sabido que tenho de me pôr a caminho. Apesar de não ser crente gosto destas casas de Deus na terra, locais de clausura e de piedade, e de imaginar a vida ali dentro entre orações, leituras, cânticos, recolhimento e o manuseio de doces e outras artes, como a dos papéis picados que lhes serviam de cama, ou a de palitar (e não se veja no verbo qualquer sentido pecaminoso que é mesmo de palitos que falo talhados, originalmente, em pau de loureiro para adorno das gulodices). Assim era em Lorvão com as monjas cistercienses, e antes já tinha sido com os frades da Ordem de São Bento, estes dados à arte de iluminar.

Gosto das representações artísticas da Fé e, se bem que no caso do Mosteiro do Lorvão muito do seu património se encontre distribuído por vários museus, como o de Machado de Castro em Coimbra, já me basta a Senhora da Vida, entre outras imagens sacras de grande beleza artística, os túmulos de prata de duas das filhas de Sancho I, nosso rei (Teresa e Sancha, beatificadas por vontade de Clemente XI e outra houve, Berengária, que ali foi  educada e veio a ser rainha da Dinamarca), mas acima de tudo o cadeiral setecentista para me deslumbrar. Será dos mais imponentes que podemos encontrar por esse país fora, minucioso nos seus detalhes, em jacarandá e nogueira. Um incêndio destruiu dez das suas cadeiras e é tal a delicadeza de pormenores e a sua mestria técnica que na hora de as recuperar não houve quem fosse capaz de as igualar às demais.

Depois é provar os pastéis cuja receita se diz ter saído do antigo mosteiro que não há por ali
pastelaria que os não tenha. E seguir o conselho de um simpático casal que andava ao mesmo, à procura do que temos de melhor: “já reparámos que gosta de Arte, então vá à Igreja do Botão, uma aldeia aqui a poucos quilómetros, vai gostar do altar-mor em pedra! É uma beleza!”.
Bora lá para o Botão, sem sair das redondezas, que na hora fiquei curioso pelo nome da freguesia e pela prometida “jóia”. Será o próximo escrito!

2 comentários a “No Mosteiro de Lorvão

  1. J. M. Lucas dos Santos

    Meu Caro Manuel Luís, já algum tempo andava para lhe enviar uma palavras de conforto e simpatia. Aprovetro estas belas fotos do Mosteiro do Lorvão, relembrando a canção do Zeca Afonso, um cantor que amava esta nossa zona:
    A gente ajuda, havemos de ser mais
    Eu bem sei
    Mas há quem queira, deitar abaixo
    O que eu levantei
    A bucha é dura, mais dura é a razão
    Que a sustem só nesta rusga
    Não há lugar prós filhos da mãe
    Grande abraço de amizade.
    Lucas dos Santos
    P.S. Se puder enviar um e-mail mais directo, agradecia que o fizesse. Grande abraço.

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