Na Casa dos Cadaval

A cidade deslumbra pela harmonia e pela qualidade e preservação do seu património dentro das muralhas, por isso todos os pretextos são bons para me levarem até ela, uma vez mais, tendo a certeza que fica sempre algo por descobrir para a próxima. Depois, está a pouco mais de uma hora de Lisboa, ficando em caminho de mais longes paragens, em não se querendo ali pernoitar (não faltam porém alojamentos de excepção, como o “Convento do Espinheiro” ou a “Pousada dos Loios”).

Desta vez quis conhecer o Palácio Cadaval, por ser um dos sessenta e dois “Palácios e Casas Senhoriais de Portugal” que Diana de Cadaval escolheu como tema para o seu mais recente livro publicado e que tive a honra de apresentar na semana passada. Apaixonada pela História e pelo Património, a autora oferece-nos, desta vez, um guia precioso para que possamos (re)descobrir alguns belíssimos exemplares da arquitectura civil do nosso país, ainda hoje vigorosos por terem sido, em boa hora, transformados em unidades hoteleiras, ou de turismo de habitação, ou abertos, à comunidade, como museus (se assim não fosse quantos destes não se teriam, entretanto, perdido, pela implacabilidade do tempo e da indiferença de quem tutela). É o caso do Palácio Cadaval, na família de Diana há mais de 600 anos, aberto ao público depois de todo um processo de recuperação levado a cabo pelo seu pai, D. Jaime, o primeiro dos Cadaval a regressar ao país, cento e vinte anos depois de terem partido para o exílio, por serem Miguelistas confessos, e sua mãe Claudine.

foto1

 

Deixemos que seja Diana de Cadaval a falar daquela que é a sua casa:
“Fundado em 1390 por Martim Afonso de Mello, a construção do Palácio Cadaval assentou sobre as muralhas romano-visigodas do antigo Castelo de Évora. Martim Afonso de Mello, muito próximo do Mestre de Avis, que o tinha feito guarda-mor do reino e alcaide da cidade, manteve as principais características da fachada e, nas traseiras, mandou erguer a célebre Torre das Cinco Quinas, um edifício pentagonal, classificado como Monumento Nacional e que a partir de então começou a designar o palácio como um todo. A Torre simboliza bem a história do palácio: é o ponto de contacto, a ligação, entre a muralha medieval e a parte mais recente”.

foto2 foto3 foto4 foto5

 

“O Palácio Cadaval” foi residência de vários dos nossos reis, como D.João II, e mais tarde, D.João IV e D. João V. A História às vezes é implacável e não nos podemos esquecer que foi aqui que o poderoso D.Fernando II, terceiro Duque de Bragança, esteve encarcerado antes de ser executado na Praça do Giraldo, acusado de conspiração contra D. João II.

foto6 foto7 foto8 foto9

 

“Independentemente da sua beleza, valor arquitectónico e histórico, para mim este palácio e esta igreja são e serão sempre sobretudo a minha casa. É um património que assim espero que continue, preservado e vivo, para os meus filhos, netos e bisnetos”.

foto10 foto11 foto12 foto13

 

Volto à “liça” para justamente falar da Igreja que faz parte do conjunto arquitectónico. Consagrada a S.João Evangelista também é conhecida como Igreja dos Loios, por ter feito parte do Convento dos Loios. No chão da igreja do século XV, uma cripta guarda as ossadas dos frades da Ordem de Santo Elói. Já este está representado nos azulejos do século XVIIII que vestem as paredes de alto a baixo, num trabalho notável do mestre azulejista  António de Oliveira Bernardes.

“Esta igreja tem muito significado para mim. É o mausoléu da família: estão lá sepultados todos os Cadaval. Com a derrota de D.Miguel nas lutas liberais, os Cadaval partiram para o
exílio. Todos os duques estavam sepultados em diversos lugares da Europa. Quando nos anos sessenta o meu pai fez obras na igreja, fez todos os esforços para que os seus antepassados fossem reunidos na mesma igreja”.

Até 7 Setembro a Igreja de S. João Evangelista serve de ambiente a uma deslumbrante exposição de vestidos de noiva, organizada pelo criador de moda Hubert de Givenchy, amigo de longa data de Claudine de Cadaval. É uma oportunidade única de apreciarmos o trabalho do próprio e de outros grandes  nomes da alta costura, como Balenciaga, Yves Saint-Laurent, Philippe  Venet ou Carolina Herrera. Carolina Herrera criou o vestido de noiva de Diana de Cadaval, presente  na exposição, em lugar de maior destaque, como se fosse a própria duquesa de novo a envergá-lo frente ao altar flamejante de ouro. Na longa cauda estão bordadas as armas dos Cadaval e a flor-de-lis, símbolo dos Orléans. Diana de Cadaval ao casar com Charles-Philippe D’Orléans, entrou na Sé de Évora, naquele 21 de Junho de 2008, como Duquesa de Cadaval e saiu Princesa de Orléans.

foto22 foto14 foto15 foto16 foto17 foto18 foto19 foto20 foto21

 

De férias a sul, não deixe de visitar Évora. Na cidade, descubra também o Palácio Cadaval e a Igreja de São João Evangelista que faz parte do mesmo. Tanto melhor se tiver comprado o livro de Diana, onde pode colher muitas informações sobre a sua história e a de outros “Palácios e Casas Senhoriais de Portugal”, alguns nesse Alentejo irresistível para o caso de seguir viagem. Já me conhece, por isso sabe que tenho a Arte como redentora!

foto23

 

Edição Esfera dos Livros

Não perca as reportagens que fiz para o Você na TV, aqui.

8 comentários a “Na Casa dos Cadaval

  1. Maria da Glória Fernandes

    Excelentes fotos. Parabéns
    Tive o privilégio de inaugurar uma exposição na sala de exposições temporárias do Palácio. Foi-me apresentada a Princesa Diana de Cadaval. Foi para mim um enorme prazer.

    Grata pela atenção
    Atentamente
    Maria da Glória

    Responder
  2. Rita Rosado

    Boa noite Sr.Manuel Luis Goucha , chamo-me Rita tenho 16 anos e sou do concelho de Setúbal. Em primeiro lugar, admiro muito o seu trabalho e a forma como contagia o povo português com a sua alegria e talento, principalmente nos tempos que correm! Estou a escrever este comentário, (visto que não lhe consigo contactar de outra forma, e peço desculpa por isso) porque a minha escola ( E.B 2,3/S Michel Giacometti- Quinta do conde, Sesimbra) criou um projeto- Musical “Portugal e o Mundo” em que relata a epopeia dos descobrimentos através da representação e da canção( tudo criado pela nossa escola) . A peça passa-se numa aula de história em que os alunos e a professora vão relatando os acontecimentos mais importantes na história dos descobrimentos e onde cantam! Seria um enorme prazer podermos apresentar este nosso projeto, num dos mais conceituados programas da manhã! Junto envio um link de um vídeo cheio de talento : https://www.youtube.com/watch?v=ZMfzRDKpJpg . Gostariamos muito de o poder apresentar para vocês e para portugal, mas acima de tudo que o Sr.Goucha veja, vai gostar! Obrigada pela sua atenção! Muita sorte e felicidades!

    Responder
  3. Lea

    Adoro visitar palácios e casas senhoriais. Normalmente nas férias que faço no país reservo sempre uns dias para estas visitas. O livro deve ser absolutamente maravilhoso. É pena não haver orçamento disponível para o adquirir. A ver vamos se o encontro na Biblioteca Municipal cá da cidade…

    Responder
  4. Maria Emilia Cunha Lopes

    Obrigada Manel,mais uma vez nos mostra coisas lindas,para mim é dificil visitar esses sitios,cada vez tenho a vida mais complicada e dou-lhe os parabens por nos contar as histórias dos palácios e Igrejas tem sempre a lição bem estudada. BJO

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *