Na Casa de Anastácio Gonçalves

Já o deveria ter feito há muito tempo, tantas as vezes que à porta passei gabando-lhe a arquitectura, desconhecendo porém o recheio, mas desta é que foi e lá diz o povo que “mais vale tarde do que nunca”. Entrar numa casa-museu, seja ela qual for, é sempre comovente por ser um espaço vivido e onde se podem adivinhar personalidades, conflitos, inquietações, desejos… Era inevitável que neste caso se falasse de Malhoa, ilustre pintor e desenhista caldense, já que foi ele quem mandou construir a casa, em inícios do século passado, tendo sido a primeira casa de artista da capital, logo premiada com o Prémio Valmor (instituído há mais de um século, o Prémio Valmor surge na sequência de indicações deixadas no testamento do segundo e último visconde de Valmor, Fausto Queiroz Guedes, diplomata, político, membro do Partido Progressista, par do reino, governador civil de Lisboa e grande apreciador de belas artes).O seu amplo atelier, no primeiro andar, alberga parte da colecção de pintura de Anastácio Gonçalves, médico oftalmologista que adquiriu a casa em 1932, em hasta pública, para ali viver até à data da sua morte, em 1965. Mas todas as divisões, da casa de jantar ao quarto, mostram-nos muito do seu espírito de coleccionador também de mobiliário e de cerâmica. O acervo da casa-museu é composto por umas três mil peças, nem todas em exposição, adquiridas na maior parte dos casos em leilões, antiquários ou através de uma privilegiada rede de contactos. Por vontade do próprio a casa foi doada ao Estado mais a sua colecção de Arte, para que esta ficasse “regularmente patente ao público para seu recreio e instrução”. Para ajudar à mantença ainda acrescentou, em testamento, um milhão de escudos. A casa fala das viagens que fez, ainda com mais regularidade depois de se ter reformado, sempre em busca do Belo (“São Petersburgo”, na altura Leninegrado, terá sido a última, já que sucumbe, de ataque cardíaco, no hotel, depois de concretizado um velho sonho: o de visitar o “Hermitage”), das amizades que cultivou, das pessoas que recebeu à mesa de jantar, comungando da mesma paixão ou vicio. “Coleccionar” é um vício, coleccionar quadros e móveis é, ainda por cima, um vício caro. O que vale é que é um vício de que sempre fica qualquer coisa”. Então não fica! Só temos que lhe agradecer tamanho vício e tomá-lo como nosso em visitando a casa que foi sua. Em tendo oportunidade, não deixe de o fazer.

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Peça em destaque:
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Destaco-a por dizer bem da obstinação com que Anastácio Gonçalves agia quando se apaixonava por uma peça. Em sabendo da existência de um par de aquários chineses dinastia Qing “Família Rosa”, do segundo quartel do século XVIII, numa quinta se encontrava à venda na zona de Azeitão, a Quinta das Baldrucas, procurou adquiri-los. O proprietário da quinta disse-lhe, porém, que tal não seria possível dado os ditos aquários fazerem parte do recheio da quinta à venda. Anastácio Gonçalves não esteve com meias medidas: comprou a quinta.

Casa-Museu Anastácio Gonçalves
Avenida 5 de Outubro, 8
Lisboa
Aberta ao público, de terça a domingo (inclusive), das 10.00 às 18.00 horas

Fecha à segunda.

13 comentários a “Na Casa de Anastácio Gonçalves

  1. João Parreira

    Caro Manuel Luis Goucha,

    Interessante esta reportagem à casa-museu Anastácio Gonçalves.
    Seguindo o seu repto, gostaria de deixar uma sugestão de visita a uma casa-museu da minha terra.
    É a casa-museu Alfredo da Silva no Barreiro
    Segue em baixo o link com mais informações
    http://www.cm-barreiro.pt/pages/730

    Obrigado.
    João Parreira

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  2. Bruno

    Boa noite sr. Manuel Luís Goucha!
    Gostei muito da sua reportagem a esta casa museu , principalmente porque gosto de preservar o património cultural e histórico . Valorizo o legado que a casa de Anastácio Gonçalves deixa ,bem como muitas casas museus deixam ao longo do tempo para quem vai visitando . Também gostava de dizer que gosto muito de ler os seus posts interessantes ,que mostram lugares e histórias antes desconhecidas pela minha parte !
    Deixo um convite para vir visitar a casa museu Teixeira Lopes em Vila Nova de Gaia !
    Cumprimentos cordiais

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  3. Carla

    Manuel
    Já pensou fazer uma reportagem sobre o palácio dos Marqueses da Fronteira, acho que seria uma boa aposta.
    Amanhã vai haver uma visita ao palácio dos Marqueses da Fronteira às 10 horas valor 15 €, o homem da casa como a princesa vão, não vou estarei em outro poiso prazeroso também.
    Comentei sobre a reportagem acima não sei se chegou a receber, volto a frisar adorei.

    Nb- Mais um vez gostei da forma como falou da sua depressão, livre sem tabus, não sabia que a Teresa Guilherme tinha feito psicanálise. Gosto da forma como ela encara a vida, das coisas que ensina, às x entro no seu blog, um blog positivo com a energia que precisamos. É isso, a psicanalise melhora a pessoa num todo.

    Abraço
    Carla

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  4. Maria do Rosário Sacramento Marques

    Boa tarde Manuel Luís, relativamente ao seu pedido de informação sobre Casas Museu, aqui lhe envio o link para a Casa Museu Passos Canavarro em Santarém:

    “Veja o Tejo como Garrett o viu…”

    FUNDAÇÃO PASSOS CANAVARRO – Arte, Ciência e Democracia
    CASA-MUSEU
    Largo da Alcáçova, 1
    PT – 2000-110 Santarém
    +351 243 325 708/9

    na internet:
    http://www.fundacaopassoscanavarro.pt
    facebook

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  5. Carla

    Manuel
    Muito interessante o que a Cláudia lhe sugere, muito lúdico para quem desconhece. Bom tema para debater no programa da manhã 🙂
    Permita-me um pequeno devaneio sobre esta tema, penso que é um área que tem que ser investida na saúde pública, não se pode só dopar os medicamentos não curam, mascaram. É preciso investigar, conseguir chegar à origem do problema, ninguém fica doente da alma porque quer, há sempre uma causa que originou a patologia.
    A psicoterapia ou a psicanalise é a abertura de uma caixa de pandora, dela saem muitos fantasmas mas ao saírem a pessoa renasce no seu útero mental, falando na linguagem psicanalítica. A pessoa renasce dentro de si mesma, com esta ciência fica-se munido de ferramentas para o dia a dia, aprende-se a viver, dar valor ao essencial , fica-se mais tolerante para umas coisas menos para outras, aprende-se a dizer não, ter foco, ser nos a comandar a mente não ela a nós, saber reconhecer o que é tóxico, saber um desenrolar de coisas benéficas para dia a dia , desenvolve o insigt ( intuição, sexto sentido ).
    Não ficar preso ao passado, o passado já não tem retorno , viver o presente com o olho no futuro.

    A estrada e melhor que a estalagem
    Cervantes

    Abraço
    Carla

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  6. Maria Sousa

    Boa Tarde Manuel,

    Adorei esta sua visita ao museu, tem peças lindíssimas e cheias de história. Sempre que posso desloco-me a visitar quando passo por um novo local. Este ainda não conheço e passo ali quase todos os dias em trabalho.

    Perto de si tem o museu de Odrinhas, não sei se já visitou, tem peças interessantes dos vários tempos da nossa era, com muita história, mas são em pedra.

    Um beijo

    Maria

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  7. Claudia

    Bom dia Manuel Luís, obrigado pelos post tão interessantes que publica no seu blog. Gostaria de lhe lançar um desafio: visto que fez psicoterapia e, sem entrar em pormenores sobre a sua situação pessoal que o levou a tal terapia, que tal um texto sobre o que aprendeu nessas várias consultas, em termos gerais; aquilo a que todas as pessoas devem estar atentos em regra geral para evitar a tão frequente depressão.. obrigado e tudo de bom para si!

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  8. Madalena Ferreira

    Olá MLG!

    Obrigada pela partilha das imagens e pelo texto. Autentica lição de história, com factos desconhecidos da maioria das pessoas. Quando poder, serei visita. O seu post é apelativo!

    Bem haja!

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  9. Joana Lopes de Almeida

    Boa tarde, já aqui não escrevo faz muito tempo, mas sempre que posso vou acompanhando. Primeiro acho excelente este tipo de reportagens que faz, dando a conhecer o nosso património que é vastíssimo, e depois porque tenho sempre uma curiosidade enorme nas casa-museu. Muitas vezes gosto de “bisbilhotar” pelas janelas o interior das casas (principalmente no Alentejo onde em Campo Maior me deliciava quando era pequena juntamente com o meu pai, a ver a entrada das casas e janelas porque as deixavam abertas de propósito aquando das festas do povo). Entretanto relacionado com o livro que depois apresentou, não sei se tem conhecimento, o mais provável é ter, de um livro chamado Amores de uma Cadela Pura, Confissões da Marquesa de Jácome Correia, é uma biografia de uma personalidade feminina muito interessante e forte, e parece-me que vá gostar bastante, nasceu no seio de uma família riquíssima e nobre mas era uma mulher muito a frente do seu tempo.

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  10. Carla

    Manuel
    Nada melhor que começar o dia a ler um belíssimo texto e ver uma boa reportagem.
    5*
    Me ha encantado todoooooo, sensillamente preciosooo, la quiero ver!!!
    Estás muy elegante un tipazo!!

    Abrazo
    Carla

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