Morreu um imperador …

… da cozinha, dizê-la francesa é pouco, de tal modo o seu talento revolucionou os cânones da prática culinária e do gosto em qualquer parte do Mundo. Paul Bocuse ganhou fama mundial na década de setenta, já era um chef de três estrelas, como grande criador da “nouvelle cuisine”, privilegiando métodos mais adequados e saudáveis de confecção, sempre com vista a enaltecer a verdade e qualidade do produto, e a estética do empratamento. Com ele os grandes cozinheiros assumem o protagonismo de toda uma liturgia culinária até então “dominada” pela figura do chefe de sala que, à frente do cliente, trinchava, temperava e flamejava. Com o seu talento e saber não mais largaria o proscénio de uma arte que arrebata e consola. Sem internet e redes sociais, soube como poucos impôr a sua imagem e a da cozinha francesa, com um inegável sentido de humor e grande poder de comunicação, conseguindo assim construir um verdadeiro império através dos seus restaurantes e “brasseries”, da sua fundação, do prémio que leva o seu nome (“Bocuse d’Or”) e dos seus livros … Obcecado pela partilha de conhecimentos, cria o Instituto d’Écully, onde alunos vindos de todo o Mundo procuram aprender as bases da superior cozinha francesa. O próprio o disse em 2010, consciente da importância dessa formação na vida de muitos: “Tenho muita sorte. Hoje é possível encontrar em vários pontos do Mundo pequenos Bocuse que se transformaram em grandes cozinheiros. É o meu maior prazer!”.
Mas de outros prazeres se fez esta longa vida de 91 anos. As mulheres ocuparam sempre um lugar de grande importância na sua vida a ponto de se assumir publicamente polígamo e dividir o seu quotidiano com três companheiras (Raymonde, Raimone e Patrícia). Dizia-se que tomava o pequeno-almoço com uma, almoçava com outra, ficando o jantar para a terceira. Permitam-me a graçola, mas é mesmo caso para dizer que viveu “à grande e à(s)francesa(s)!”

Faço minhas as palavras do ministro francês do Interior, Gérard Collomb, quando ontem deu a notícia da sua morte: “Paul Bocuse morreu. A Gastronomia está de luto!
Paul Bocuse era a França. Simplicidade & Generosidade. Excelência & Arte de Viver … Que os nossos chefs, possam, em Lyon, como nos quatro cantos do Mundo, cultivar por muito tempo os frutos da sua paixão!”.

2 comentários a “Morreu um imperador …

  1. Carla

    Manuel
    Já tinha saudades dos seus textos!
    Um bom líder cria outros lideres, partilhar conhecimentos é de gente sábia .
    Curioso o que conta das mulheres, foi feliz à sua maneira e elas também.

    Obcecado pela partilha de conhecimentos…

    Abraço
    Carla

    Responder
  2. Nathalie Carvalho

    Os meus pais foram um dia jantar ao restaurante de Paul Bocuse em Lyon, foi um jantar organizado pela empresa para quem a minha Mãe trabalhava na altura, já foi há mais de trinta anos, ainda me lembro que nesse dia houve uma trovoada tão grande, mas os meus pais não desistiram de ir ao jantar, lembro-me também de nunca ter visto a minha Mãe tão bem arranjada como nessa noite, e claro adoraram o que comeram e todo o serviço do restaurante.

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *