Lampreia, só de ovos!

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Acasalar concorrentes até que pode ser divertido, mas a coisa muda de figura quando o “santo de um não vai com o do outro”. Os aspirantes foram desafiados a cozinhar a pares, tendo eu assumido o papel de “cupido”, sendo que os elementos de cada par cozinhariam, à vez, a mesma receita, e a partir da escolha dos ingredientes no supermercado feita por apenas um deles. Prova inesperada esta, mas desafiante pelo facto dos concorrentes terem a cada dez minutos de perceber o que o par estava a fazer e prosseguir com a receita, numa lógica que não havia sido previamente combinada. Entre os elementos de cada par era permitido o contacto visual, mas não podiam comunicar de outro jeito.

A Ann Kristin fez par com a Marita, mas o entendimento entre a duas foi difícil. Devido à sua deficiência auditiva, a Marita sabe ler nos lábios mas revela dificuldades em entender a sua parceira desta prova e por isso é a pessoa de quem se encontra mais distante. A primeira bem que trouxe do supermercado muitos limões, como que a querer dizer à Marita: “vamos lá fazer uma tarte”, mas esta não percebeu a dica  e meteu mãos a uma massa de profiteroles.

Já o Manuel e a Silvia funcionaram na perfeição. Revelando-se inteligente na escolha dos  ingredientes, o Manuel optou por tudo quanto permitisse à Silvia fazer um prato da sua cozinha de conforto, nomeadamente uma pasta. A Silvia, claro, logo entendeu a deixa do Manuel e também ela, por sua vez, deixou espinafres e ricota na bancada para que o parceiro, dez minutos depois, iniciasse a feitura do recheio para a massa que já estava adiantada.

Parece que houve transmissão de pensamento entre a Renata e o Márcio, pelo que ficou claro que do par sairia um “brownie”. Pena que tenha sido a proposta mais desconsolada. E logo um “brownie”, que quando bem feito é de babar.

Foi bom perceber que a Cátia e o Pedro puseram de parte algumas desavenças, mais evidentes há duas semanas na prova de equipas em Tomar. E assim conseguiram algum sucesso com o seu peixe no forno.

Também a Marta e o Leonel emparelharam bem, apresentando-nos um delicioso arroz  se bem que a codorniz estivesse seca.

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Desta vez o melhor prémio para esta prova não seria a habitual vantagem que se ganha para o desafio seguinte, o da equipas no exterior, mas sim um avental dourado, novidade no MasterChef, que garante a imunidade para a mais temível das provas, a da eliminação.
Por isso a Silvia, com a exuberância que lhe é particular e que faz dela, a meu ver, uma concorrente tão especial, ter jubilado e suspirado de alívio. Logo ela que tem “ido ao castigo” semana após semana. Parabéns também ao Manuel, pela inteligência e perspicácia que soube usar em toda a prova.

No dia em que gravámos o desafio a pares esperava-nos, ainda, uma longa viagem até ao Pinhão, já que seria ali nas margens do Douro que teria lugar a prova de equipas. Chegámos por volta das 20.00 horas e o que me apetecia mesmo era ter ficado logo no hotel agarrado a uma sanduíche Club (já aqui confessei que gosto de as experimentar em qualquer hotel onde pernoite, como que para formar um pódio “sanduicheiro”). Mas não, tanto insistiram que acabei por ir jantar ao DOC, celebrado restaurante do chef Rui Paula, não sem que fosse a barafustar todo o caminho, ainda que de poucos quilómetros. Jantar fora é sempre um problema para quem quase se deita “com as galinhas” (a isso me obriga o despertar diário às seis), mas claro que logo me apaziguo quando provo da excelente e criativa cozinha do chef e me coloco nas mãos da sua mulher Cristina, que é quem capitania a equipa na sala.

Manhã menina, depois de uma noite mal dormida (é o que dá ir para a cama de estômago cheio), já éramos a postos para mais uma prova de equipas, toda ela a decorrer no Vintage House Hotel, onde havíamos ficado. Deste diga-se que não foi a minha primeira vez, já ali havia pernoitado há muitos anos quando um “Praça da Alegria”,  ainda eu o apresentava, foi feito no Douro em tempo de vindimas. Um dos diligentes e simpáticos funcionários ainda se lembrava. Aconselho o hotel a quantos queiram descobrir a região, pela qualidade, conforto e bom gosto das suas instalações e a afabilidade do atendimento. Comece pela estação do Pinhão, ali mesmo ao lado, onde os painéis azulejares de 1937, saídos da fábrica Aleluia de Aveiro, contam algumas das histórias do vale encantado.

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Eu lampreia, só de ovos, não gosto do ciclóstomo, não há nada a fazer, mas há quem faça quilómetros para a saborear à bordalesa ou com arroz. Gostos não se discutem! Pois o bicho feio foi o mote da prova. E esta foi antecedida de uma pequena aula sobre como preparar a lampreia para a confecção, perante o olhar horrorizado da Marta. Também o caso não era para menos, que a desgraçada morre em água a ferver, depois é raspada, sangrada, esventrada e ainda tem que se lhe tirar a espicha junto à cabeça e é bom que esta saia inteira, que a rebentar dá mau gosto ao cozinhado.

Vingar-me-ia no arroz doce, a sobremesa apresentada pelas duas equipas. Digo e redigo que gosto dele de qualquer maneira, amarelinho de muita gema ou imaculado, a correr no prato ou de fatiar. Perfumado de limão, ou de laranja, e sempre coroado com rendilhado de canela.

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À mesa, vários produtores de vinho da região, pelo que a comezaina e a conversa foi bem regada. Um programa como o MasterChef é também um pretexto para se mostrar e enaltecer o que produzimos de melhor, neste caso o vinho daquela que é a mais antiga região demarcada do Mundo, também ela Património da Humanidade, desde 2001. Foram eles, os convidados de honra, como aliás é hábito nestas provas de exterior, a decidir qual das equipas merecia estar livre da prova de eliminação. Bom, o Manel (tal como a Silvia), dado o avental dourado anteriormente conquistado, já tinha garantida a passagem para o oitavo programa, mas ali ainda se lhe juntaram o Márcio, a Ann Kristin, a Marta e o Leonel, não sem brindarmos com o vinho da festa à glória da equipa.

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A última das provas vestiu-se com as cores da nossa portugalidade. Apesar de a salvo, a Silvia foi chamada a distribuir as cores pelos aspirantes. A Renata e a Cátia ficaram com os produtos de cor vermelha, cor da luta pelos grandes ideais, da coragem e do sangue derramado em combate. Ao Pedro coube a cor verde, que popularmente se associa à esperança. A Marita ficou com a cor amarela, a mesma da esfera armilar, que simboliza a vocação universal dos portugueses e toda a gesta dos descobrimentos.

Na hora da verdade, os mais rasgados gabos foram para o Pedro, pela receita mas sobretudo pelo empratamento, o primeiro de quantos nos apresentou até aqui, a revelar equilíbrio e sentido estético. Também a Marita nos convenceu com o seu frango perfumado de especiarias. Entre a Renata e a Cátia fomos pelo engenho, já que uma e outra receitas deixaram muito a desejar: se a carne apresentada pela Renata estava seca e dura, também o peixe da Cátia não estava cozinhado a nosso contento, mas o certo é que esta nos deu a provar uma deliciosa couve onde a inclusão de manga fez toda a diferença.

Da Renata, que até hoje havia escapado às provas de eliminação, recordo o seu arroz doce com um gostinho tropical, se bem que nos tenha brindado com outras deliciosas receitas onde as suas memórias se fizeram notar, e do seu sorriso tranquilo e açucarado. Foi uma muito digna representante da comunidade brasileira a viver em Portugal. Saiu do MasterChef, certa de que o programa lhe apontou um novo caminho para a sua vida. Assim seja!

www.csvintagehouse.com

www.ruipaula.com

Na próxima semana:

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Quando os concorrentes entrarem na cozinha, para a primeira das provas, terão a mais enternecedora das surpresas. Muitas lágrimas vão correr! Já aqueles que voltarem a entrar,  para a prova de eliminação, terão à sua espera o mais difícil dos desafios do MasterChef: macarrons!

Ficou curioso? Eu também ficaria. Só vai ter de esperar uma semana.

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4 comentários a “Lampreia, só de ovos!

  1. paulinha velez

    Estou aqui passado uma semana,para lhe dizer que coragem foi preciso para aquelas lampreias,,,,,
    eu se fosse concorrente ficaria por ali,nao conseguia….parabens aos concorrentes e parabens a si,,,pois que sei que tambem odeia lampreia e portou se como se nada fosse sem cair para o lado…parabens mesmo…

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  2. Graça Baptista

    Eu funciono ao contrário: não aprecio lampreia de ovos mas gosto do arroz de lampreia apesar de não comer há muitos anos. É um prato que se ama, ou se odeia; é bastante forte, tanto pelo sangue como pelo vinho verde tinto e que eu nunca me aventurei a cozinhar.

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