IMPORTA-SE DE REPETIR?

… ou os disparates que se escutam na tv!

sericaia

Já ouvi chamá-lo de serigaita quando sericá ou sericaia são os únicos nomes legítimos para o doce trazido das Índias por D. Constantino de Bragança (7º vice-rei) e que há muito faz parte do património doceiro do Alentejo e particularmente da região de Elvas. Segundo a tradição, era servido em pratos de estanho. Manda a receita que a massa seja disposta em colheradas desencontradas, no prato de a levar ao quente, para que no forno abra rachaduras.

Domingo, na Feira Nacional da Agricultura, pedia-se a um produtor que indicasse as características dos seus vinhos a partir das sensações estimuladas pelas suas pupilas gustativas. Pupila?!!! Papila é que é!

brasão da cidade

E já agora, que o mês é do santório popular, não repitam o disparate de dizer que Santo António é o padroeiro de Lisboa, quando é S. Vicente, o alfacinha orago. Segundo a lenda, quando no ano de 713 as relíquias do santo estavam à deriva em alto mar, terão sido dois corvos, entretanto pousados na embarcação, que as trouxeram para junto daquele que é hoje o cabo de S. Vicente. Por isso dois corvos figuram no brasão da cidade.

2 comentários a “IMPORTA-SE DE REPETIR?

  1. Fátima, Lisboa

    Querido Manuel Luís,

    Longe de mim querer desdizê-lo ou contrariá-lo, mas gostaria de facto e de fonte segura saber até que ponto é errado apelidar Santo António de padroeiro de Lisboa…

    Por gostar imenso de História de Portugal, que considero muito rica, e também por “deformação” profissional, uma vez que estou ligada à área de Turismo, sempre tive essa dúvida que nunca me foi devidamente esclarecida.

    De facto, é inteiramente verdade que o 1º (se assim se puder considerar) santo padroeiro de Lisboa foi de facto S. Vicente. Segundo reza a lenda, terá nascido em Aragão, veio a ser diácono em Valência-Espanha e mais tarde terá morrido como mártir às mãos dos mouros.
    Alguns anos mais tarde, após a ordem dada pelos mouros que ocupavam ainda grande parte do território da Península Ibérica, de que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas, alguns dos cristãos de Valência quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente, que estava guardado numa igreja, vindo este a ser escondido, no cabo de S. Vicente-Algarve, e guardado por corvos.
    Terá sido, ainda segundo a lenda, um destes cristãos, entretanto cativo dos mouros, e “resgatado” por D. Afonso Henriques numa das várias incursões pelas terras do Al-garbh, que terá contado ao rei a história deste santo mártir.

    Segundo alguns historiadores, a decisão de transladar o corpo do santo para a Sé de Lisboa, e torná-lo padroeiro da cidade, terá sido sob a influência de sua mãe, D. Tareja, de ascendência espanhola por parte do pai, e devota do santo.

    Como todos sabemos, mais tarde viria a nascer em Lisboa Fernando de Bulhões, que depois de se tornar frade agostinho (ou agostiniano) adoptaria o nome de António e ficaria também conhecido como de Pádua, onde veio a falecer.

    E é após a sua morte, e posterior canonização em 1232 pelo Papa Gregório IX, que a polémica se gera…

    Talvez tenha sido, por Santo António ter nascido ao mesmo tempo tão perto das muralhas da cidade, mas já fora delas, e tão perto simultâneamente dos bairros pobres e limítrofes como o ainda hoje típico bairro de Alfama, já à época habitado pelas gentes ligadas ao mar, que o tornaram tão querido das massas populares.
    Ou talvez tenha sido, como opinam alguns historiadores, que após a sua canonização, o povo logo se “levantou” para tomar como seu por direito um santo que aqui nasceu (contra os que o chamam de Pádua…) e em detrimento de um outro que não era nosso, mas espanhol…

    Agora, verdade seja dita, a dúvida está instalada !! Será que não é permitido uma cidade ter dois santos padroeiros distintos?
    Desconheço realmente o que é necessário para “legalizar” tal acto. Creio que o mesmo deverá ser aprovado pelo patriarcado. Mas também é verdade, que em quase 50 anos de vida, não me lembro de em vez alguma ter sido celebrado em Lisboa o dia 22 de Janeiro (dia de S. Vicente), como o dia do seu santo protector… Já o de Santo António…é até feriado…

    Pois em que ficamos então? São os dois? Festejamos o errado, e porquê? Ou em alguma altura, apesar da História da cidade que se mantém e faz parte da mesma em motivos decorativos no brasão, nos candeeiros de rua ou na típica calçadinha portuguesa, foi alterado para Santo António e se perdeu a explicação de tal acto?

    Talvez o amigo Manuel Luís, num dia que possa e queira, através dos seus vastos e doutos conhecimentos, nos possa elucidar…

    Aproveito para lhe dar os parabéns pelo seu blog, cuja leitura já não dispenso, bem como os seus programas na Tv.
    Um bem-haja!!

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