Eu e Sampaio da Nóvoa

sampaioSou dos muitos, cada vez mais, que estão fartos de políticos pouco honestos e aldrabões. Dos que prometem e não cumprem, antes pelo contrário, fazem mesmo o que disseram que não fariam, quando lhes deu jeito andando à caça do voto. Preciso de dar exemplos da desfaçatez com que nos enganam? Sabemos quem são, ora de um lado ora do outro, basta estarmos atentos ao que nos procuram impingir nos telejornais, que nem vendedores da “banha da cobra”. Dos que se assumem de uma arrogância desmedida para quantos os elegem, como se fossem, e não estivessem, ministros, secretários de estado ou outra coisa qualquer do lote. Parecem que padecem de uma “patologia do poder” que faz com que se achem superiores. Dos que se julgam imunes a toda a contestação e controlo populares. Bem sabemos que por cá não surtem grandes resultados quantas manifestações se façam, mais uma prova de como esses políticos se estão marimbando para toda e qualquer indignação, por muito mobilizadora que seja. Dos que convivem promiscuamente com os interesses dos grandes grupos económicos e dos grandes escritórios de advogados. Dos que estão na política não para servir o bem comum mas para garantir um futuro risonho num qualquer conselho de admnistração. Dos que não nos representam, antes estão na política para servir a ideologia e os interesses do partido a que estão ligados e de quantos financiaram (que não é coisa ilegal, convenhamos) as campanhas.

Claro que seria imprudente e muito injusto da minha parte generalizar, que haverá quem esteja na política pelos motivos certos, mas mesmo assim quantos desses não terão sido já engolidos pelo sistema?

Precisa a Democracia de ser reinventada? Até à data não se terá criado regime melhor, como diria Churchill, mas sobre ela Jean-Jacques Rousseau, filósofo e teórico político, já dizia há mais de duzentos anos: “as pessoas acreditam ser livres, mas estão seriamente enganadas. São livres apenas durante as eleições para o seu Parlamento. Quando as eleições acabam voltam a ser escravas”. Isso mesmo lembra Manuel Arriaga no seu livro “Reinventar a Democracia“, onde numa linguagem por todos entendível esplana cinco ideias para uma sociedade diferente. Vale como exercício de reflexão na urgência que temos de ajudar a construir e a controlar o nosso futuro, já que este presente só interessa aos mesmos de sempre.

Mas não é sobre o livro (edição da Manuscrito) que quero agora falar, sugerida que é a sua leitura, mas sim de um artigo publicado na revista “Visão” onde nos é apresentado Sampaio da Nóvoa como o candidato sem medo às próximas presidenciais. Diz-nos a jornalista Isabel Nery, autora do artigo, depois de escutados quantos o conhecem, que é homem desprendido das coisas materiais. Que não gosta de dinheiro nem de consumo. Que lhe incomoda comer num restaurante caro, que conduz um Lancia que já nem se fabrica, há quinze anos, e que até veste comprado na feira. Não é por aqui que me cativa, digo já, por não alinhar em loas miserabilistas (logo eu que gosto de roupa e de restaurantes), se bem que a jornalista nos faça notar como esse desprendimento lhe pode ter forjado a independência com que sempre viveu, desde os dezasseis anos, que foi quando entrou para a Universidade de Coimbra (aos dezasseis, leu bem!). O que me interessou mesmo foi perceber que “o teatro, a educação e a história lhe definiram o passado”. Um homem que devora livros, que ama o teatro, tendo frequentado mesmo o Conservatório de Lisboa, que pugnou pela educação pela Arte é necessariamente portador de uma outra visão da Vida, mais humanista e, por isso, desafiadora. É o poder da Cultura e da Educação. Não é por acaso que a guerra cultural faz parte integrante da Jhiad Islâmica, ajudando ao objectivo de chocar, intimidar, manipular e anular… a memória. É como que um “memoricídio”. Não há identidade, individual ou colectiva, sem memória (isto agora levar-nos-ia a outras conversas que não têm aqui cabimento). Sampaio da Nóvoa sabe que a Educação e a Formação são a melhor prevenção.

Esse outro olhar posso pressentir no seu discurso, nas comemorações do Dia de Portugal de 2012, quando pôs, desassombradamente, o dedo na ferida: “Começa a haver demasiados portugais dentro de Portugal. Começa a haver demasiadas desigualdades. E uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e pela radicalização”. Não estaremos também a falar das periferias tão caras ao Papa Francisco (ele sim, já deu para ver, inovador e portador de mudanças no seio de uma doente cúria romana)?

Chega para o apoiar? De modo algum, escaldado que estou. Mas para já é suficiente para passar a ouvir com outra atenção o que tem para nos propôr. Um homem que promete não recorrer ao achincalho na luta que não tarda e para quem a Arte e a Educação são valores formadores pelo menos é alguém que se apresenta no palco da política de uma forma diferente e a que não estamos habituados. Mas a ver vamos, que isto ainda é o começo!

8 comentários a “Eu e Sampaio da Nóvoa

  1. AJN Cruz

    Olá Manuel Luis,
    Admiro muitas das coisas que diz e faz. O seu amor pelos animais, derrete-me ;), pois eu também os adoro.
    Confesso que nunca tinha ouvido falar neste Senhor Sampaio da Nóvoa até à pouco tempo atrás. Depois deste longo texto, acredite que já sei para quem vai o meu voto, mas tenho muitas dúvidas que ganhe uma vez que não tem o “poder partidário” na retaguarda. E o nosso povinho, já me parece, que gosta de ser enganado sempre pelos mesmos. Sai um mentiroso, entra outro pior e assim sucessivamente!
    Pena é que não haja um candidato a PM e a PR com igual perfil a este Sampaio da Nóvoa…

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  2. LLucia

    Óó Goucha ouve lá isto… (Q saudades q tenho de ver as vossas manhãs…)
    Soberbo. É grande a lucidez com que escreveu e faseou este post.
    Bem-Vindo seja quem vier por bem! Aguardemos e veremos.
    Ass. Uma professora emigrada, que os governantes do meu amado país usaram e deitaram fora. Como a
    milhares de outros profissionais. A esperança de um dia voltar ao meu país e de voltar a ensinar Matemática em Língua Portuguesa é o que me dá alento e coragem.
    Respeitosamente, LLuccia.

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  3. M. Barros

    “Conheci” Sampaio da Nóvoa um pouco melhor aquando de uma entrevista à RTP há cerca de 3 anos (não tenho a certeza). Nunca tinha sequer escutado a sua voz, mas as suas palavras, já na altura desalinhadas com as guidelines habituais da política, imediatamente me prenderam ao ecrã. Longe de imaginar na altura que ele efectivamente pudesse escolher um rumo mais político, logo ali me predispus a votar nele um dia se a oportunidade surgisse. Há muito quem diga que não serve porque não é um político. Pois digo precisamente o contrário, Sampaio da Nóvoa pode servir e muito o país, exactamente porque não é um “profissional do voto”.
    O dia chegou!

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  4. Maria F Silva

    Sou admiradora do Manuel há muitos anos …Adoro a sua frontalidade , alegria e bom gosto ( sim também gosto de restaurantes e de vestir bem ….e mais ainda de livros, teatro …) …não é para falar disto que comecei a escrever e nem sequer se apoio ou não Sampaio da Novoa …A minha intenção era sugerir ao Manuel Luis a leitura da Biografia de Pedro Passos Coelho ” Somos o que escolhemos ser ” ….( como sei que gosta de ler …) . Gostava de saber a sua opinião . Um grande beijinho e até amanhã …

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  5. Francisco Sá

    Boa noite, Manuel Luís

    Gostei de ler o que escreveu, uma vez mais obrigado por partilhar tão importante pensamento que muito gostava que fosse lido por todos os portugueses. Falou em Manuel Arriaga no seu livro “Reinventar a Democracia“, comprei o livro este fim de semana e do pouco que ainda li, uma leitura que aconselho vivamente a todos, em muitos aspectos revi a minha pessoa, sim estou na politica, fui Presidente de Junta durante 12 anos e actualmente Secretario de Junta. Cargo que assumi e assumo, mas o mais importante é que fui sempre o Francisco Sá. Estive e estou na politica para servir e não me servir! O que falta ao nosso povo para de uma vez por todas parar para reflectir, para analisar devidamente um candidato a qualquer que seja o seu cargo a que se candidata? Admiro Sampaio da Nóvoa. Será este o homem que Portugal á muito precisa? Tudo indica que sim.

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  6. Paula Francisca

    Também eu estou desiludida com a política. .. Também eu me cansei de ver que a política não é para fazer o bem para todos… Li o artigo a que faz referência e encantou.me a personalidade descrita.
    ficarei atenta porque acredito que há gente que pode fazer a diferença. .. se não for corrompida nos entretantos tornando.se demasiado igual. ..na política urge a diferença…
    Bem.haja por nos ajudar a ficar atentos ao mundo. .. ao bom e ao mau…

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  7. tichadiogo

    Concordo consigo. Fui das primeiras a apoiar a sua candidatura, faço campanha por ele porque acredito , e eu não sou muito fácil de me deixar levar por politiquices. Vamos a ver , o futuro o dirá

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