Em Monserrate

Tinha estado no Palácio, ainda em obras de restauro, há precisamente dez anos, para uma conversa com Teresa Salgueiro no âmbito da série “Mulheres da Minha Vida” (como o tempo voa!), mas não passei da sala da Música. Já então havia ficado com ganas de passear pelos jardins, de tão extraordinários me parecerem, e de mais saber acerca do local, por isso trouxe livros que agora me deram jeito, já que a Monserrate finalmente voltei. Falam de Francis Cook, e sua família inglesa, rico pelo negócio dos têxtéis e coleccionador pelo gosto da Arte, de como comprou a quinta de Monserrate, tão da cobiça de D. Fernando, segundo de seu nome, e mandou reformar a casa já existente e onde outros haviam vivido, até William Beckford, escritor e aristocrata, também ele rendido aos predicados naturais de toda a propriedade. A James Thomas Knowles, arquitecto das relações da família, coube o plano de reconstrução do Palácio, imponente e algo estranho pela dificuldade em individualizar um estilo dominante. Gótico? Sim, talvez por respeito ao estilo da construção primitiva. Fala-se em gótico veneziano, que há pormenores, como o pórtico axial, que fazem lembrar os palácios de Veneza, já a cúpula octogonal do corpo central leva-nos para a Toscânia, tão inspirada que parece ser na da Catedral de Florença. Arábico? Também, com certeza, tantas as referências bizantinas e mouriscas, nos azulejos, e nas infindáveis fantasias geométricas que ornam galerias e átrios, fazendo-me lembrar o Alhambra de Granada. Dá gosto perceber o notável trabalho de restauro e recuperação ali levado a cabo pela Parques de Sintra Monte da Lua, empresa criada em 2000, e em boa hora, para atender às necessidades de gestão patrimonial que advieram do facto de Sintra ser Paisagem Cultural e Património da Humanidade desde 1995 (que isto com o IPPAR
não ia lá!).

Pelos jardins deambulei por umas duas horas, entre verdes luxuriantes e o cantar das águas, mas de novo me ficou a vontade em regressar, para mais absorver e registar. Acanham-se-me as palavras para descrever o que ali a Natureza nos oferece, entre caminhos que nos doem, flores e cactos exóticos, lagos encobertos, cascatas ruidosas, troncos que se retorcem… apetece ali ficar até que a noite caia, o luar coalhe e a madrugada se estenda, fimbria de solidão.

Quis que o Tiago Charrua, o mesmo que cuida do meu instagram, jovem fotógrafo de sénior talento, tudo captasse com o seu olhar, que sou dos que acha que a sensibilidade artística se sobrepõe à qualidade e domínio da máquina e da objectiva. É da sua autoria a foto à cabeça do escrito, bem como as que se seguem.

Mas também não sei castigar esta minha vontade em fotografar. Foi mesmo com o telemóvel…
desculpa lá, Tiago, mas as que se seguem eu tinha de acrescentar.

www.parquesdesintra.pt

11 comentários a “Em Monserrate

  1. Diana

    Monserrate é só o palácio mais bonito de Sintra, pena não ser muito visitado mas sempre que levo clientes ficam maravilhados. O vale dos fetos, as cascatas, o lago, as infindáveis espécies maioritariamente do hemisfério sul, tudo é fantástico e apetece ficar, ficar e ficar. É o meu palácio preferido…simplesmente lindo.

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  2. Raquel Silva

    Manel, como sempre adorei o texto.
    Resumindo bebi as suas palavras.
    Estive em Montserrat, verão passado.
    E dos interiores tenho fotos muito parecidas com as suas.
    Não se consegue ser indiferente a tanta beleza e mistura de estilos.
    Parabéns pela bela escrita.

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  3. Zulinda da Conceição Pereira

    Muito lindas está de parabéns Manel estou adorar a ver as paisagens mesmo fabulosas dou -lhe os meus parabéns beijinhos.

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  4. Paulinha Velez

    MLG
    E magia aconteceu nessa tarde..
    O Tiago é um mágico estão maravilhosas as fotos, mas o seu texto é de uma riqueza, e as suas fotos também.
    Conheço bem esse local mas hoje aprendi tanto .. Obrigado pela partilha

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