Lindo, não é? Mas para chegar aqui foi o cabo dos trabalhos. Há muito que queria fazer o percurso dos castelos do Loire e quando se me mete uma ideia na cabeça não descanso enquanto não a concretizo. Preparei a semana de viagem, como sempre, com todo o cuidado, não deixando ao acaso coisa alguma, já que, confesso, gosto pouco de improvisos. A ideia era fazer de Tours, cidade da região central de França, o nosso “quartel general” e dali partir à descoberta dos castelos de Chambord, Chennonceau, Amboise,…
Escolhi no guia “American Express” um hotel que me pareceu de grande qualidade, ainda por cima tendo um restaurante estrelado pela Michelin. E tudo parecia nos conformes. Chegados ao hotel logo nos desiludiu o quarto que nos havia sido destinado na mansarda, pela sua estreiteza e falta de conforto. Depois havia uma avaria nos motores da piscina, pelo que não nos garantiam que estivesse pronta nos dias seguintes. O imenso “potager” que dizia, no guia, ser usado pelo chef e sua brigada para garantir os verdes e os aromas à mesa, não passava de uns raquíticos canteiros com meia dúzia de folhas. Pomar nem vê-lo e até o gato da propriedade era zarolho. Por isso, dizia o Rui, ainda não se tinha pirado. Ao verificar melhor o guia onde havia colhido os maiores gabos, percebi, tarde e a más horas, que o mesmo só poderia estar desactualizado, já que se tratava de uma edição com dez anos. Em hotelaria e restauração a qualidade pode alterar negativamente “em menos de um fósforo”. Felizmente, havia comprado em Paris, no dia anterior, na livraria Galignani, porta ao lado do Hotel Meurice (esse nunca me desilude) um outro guia de castelos abertos ao público para neles pernoitar, a bem dizer unidades de turismo de habitação, tal como cá temos os nossos solares e outras casas apalaçadas. Mal dormi nessa noite tentando remediar a situação. Encontrei várias opções irresistíveis, pelo menos pareciam-me, seguindo o percurso dos castelos do Loire, pior era que se apresentavam lotados, era Verão e aquela região é sempre muito procurada por nacionais e estrangeiros, tal o ambiente que mais parece tirado de um conto de fadas. Todos, menos um, medieval, com ponte, fosso, teatro ao ar livre e tudo. Esse tinha ainda quartos vagos, era questão de eu escolher o que mais me agradasse logo que chegasse – disse-me a proprietária do castelo que, muito simpaticamente, me atendeu ao telefone. Ao chegar percebi tanta simpatia: deve ela ter pensado, “aleluia, temos cliente!” e eu empolgado com a ideia de ir dormir num castelo de tempos medievos. Já me imaginava num cenário de cavaleiros, poções mágicas… por certo bem diferente do “pesadelo” em que aquele fim de tarde e noite se transformariam. É que não vos passa pela cabeça o quadro de miséria, contado não tem a mesma graça mas vou tentar: o castelo tinha fosso sim, sem água, que o tempo, naquele ano, era de ardentia, apenas uma meia dúzia de poças onde alguns peixes ainda estrebuchavam, que todos os demais jaziam, pelo que o fedor impestava. Tinha ponte sim, com traves soltas e falta de outras, pelo que o mais sensato foi deixar o carro do lado de lá, não fosse “o diabo tecê-las”. E quanto ao teatro ao ar livre sê-lo-ia, se pudessemos chamar de tal, duas acanhadas fileiras de cadeiras “tem-te não caias”. Por pouco, também os quartos não eram ao ar livre, que para além das janelas com vidros partidos havia buracos nas paredes de pedra onde cresciam… cogumelos. A gentil castelã explicou-nos que, há vinte anos, estavam, ela e o marido, tentando reconstruir o castelo, mas que a tarefa se revelava hercúlea pela falta de verbas. “Vamos embora!” – disse para o Rui, confiante que ele pegasse na deixa. Mas não, pegou foi no telemóvel e filmando a cena, “gozando o pratinho”, atirou, perante o meu desalento: “Então não querias um castelo medieval?! Aqui o tens! Agora ficamos cá a dormir uma noite!”. Foi mais uma noite perdida, não preguei olho à procura de outra solução e pensando que poderíamos ser atacados por ratos esfaimados. Juro ter visto um, assim “pró grandote”, no corredor. Não que sentisse “miaúfa”, mas a ideia não era propriamente confortável. Pior seria impossível, à terceira teria de acertar, agora entregar os pontos é que nem pensar. E foi assim que cheguei ao Chateau de La Verrerie, numa rota já diferente da dos castelos do Loire mas muito próxima. Agora sim, estávamos num castelo à beira lago, uma jóia da Renascença, durante dois séculos pertença dos Stuart e assim baptizado por perto ter existido uma fábrica de vidro (verre) e ali ficámos nos três dias que restavam. À entrada da suíte, a única ainda disponível, dois régios retratos destacavam-se na ante-câmara, o de D.Carlos e o de sua mulher D.Amélia, assinados pelos próprios em agradecimento à visita que o conde de Verrerie havia feito a Portugal. Foi então que me senti “em casa”, aquele era como que um bom presságio para os dias seguintes que fariam esquecer as bolandas em que andámos. Vistas as coisas, ainda bem que ocorreram tais peripécias, se assim não fosse não teria esta história para vos contar.
Boa tarde Manuel,
Adorei estas Suas memórias, pois trata-se de um vale impressionante e muito romântico. Já lá estive por duas vezes, e a Sua “reportagem” fez-me um desejo enorme de voltar!
Um bem-haja
MRui Duro
Oh Goucha, nem acredito que esteve a 10 minutos de minha casa e não o vi vivo a 10 minutos do Castelo de chambord ainda não consegui visitar todos os castelos…
Manuel Luis Goucha,foram umas ferias a grande e a francesa, es unico .quando passares por paris gostaria muito de te conhecer, mas enquanto vens e naõ vens mil beijinhos pra ti e pra Cristina e claro pro, Rui sejam felizes . E obrigado pelas gargalhadas todas as manhas , ja agora naõ deixes de vizitar o mont de saint Michel que vale a pena passer a noite dentro ou fora num dos hoteis .
Querido Manuel Luís,
Não é que vos deseje igual aventura para o ano, mas tanto me ri com todas as peripécias que conta, de forma tão engraçada e minuciosa, que foi como se eu própria lá estivesse a vive-las.
Este é o pormenor da escrita descritiva que o Manuel tem, e que encanta o leitor.
Ainda bem que o final das férias correspondeu ao sonho, caso contrário teria sido uma enorme desilusão.
Muito obrigada pela boa disposição.
Um beijinho
Bom dia Manel. (Tb me chamo Manuel, por acaso)
Adorei esta tua reportagem dos Castelos, afinal de contas, vi e concretizei um sonho através dos teus olhos, que passaram a ser os meus naquela viagem magnífica.
Adoro Castelos e quanto mais magestosos, melhor.
Já conheço alguns por esse mundo fora, mas nunca tive a felixidade de viajar para essa zona de França.
Muito obrigada por esta delícia de fotos.
Forte abraço
Quando voltar de novo visitar Les Châteaux de la Loire dou-lhe sem problema estadia na minha casa. Em Montbazon o castelo vale a pena ser visitado.
Beijos
Agora que li as peripécias que andaram pelos hotéis estou farta de me rir.
Lindíssimos mas por dentro é que devem de ser uma Maravilha. Pena não poder fazer o mesmo. Por cá deviam de os manter em melhor estado assim como outros monumentos que muitas vezes estão a cair de podre.
Um abraço Manuel
( Era para ter continuado a ir ao seu programa Você na TV mas não me tem sido possível vou ver se ainda consigo este mês ).
Giríssima ☺ esta história. Um abraço da Madeira /Funchal
Nada que muito desejamos tem esse belo sabor se não fôr conquistado com garra e AMOR. Aliás jamais esperaria outro fim quando o protagonista se trata de uma pessoa que muito admiro e acompanho desde jovem. CONTINUEM e “façam o favor de ser felizes”❤
OLA
ESSAS COISAS ACONTECEM AOS MELHORES POR MUITO BEM PROGRAMADO AS VEZES ACONTECE.
EU VIVO EN ANDORRA E A MIM TB ME ENCANTA CASTELOS NAO SEI DE ONDE VEM ESTA PAIXAO MAS ME ENCANTARIA TER UM ENTAO EXISTE AQUI UMA AGENCIA QUE SO VENDE CASTELOS ENTAO EU TB FIZ UM TOUR
MAS MOSTRANDO-ME INTERESSADA EM 4 ENTAO CONBINAVA COM A AGENCIA E IAMOS VISITAR O CASTELO 1
POR SEMANA TODOS AQUI PELO SUL DE FRANCA E LHA POSSO DIZER QUE FOI MARAVILHOSO.EXCUSADO SERA
DIZER QUE AINDA FIQUEI MAIS APAIXONADA COM A IDEIA DE TER UM. JA TIVE O PREVILEGIO DE DORMIR EM
ALGUNS MAS TRANSFORMADOS EM HOTEIS QUE NAO E PROPRIAMENTE O MESMO
UM ABRACO
Manuel
Pois imagino a sua cara de espanto/decepção quando viu os castelos naquela degradação, só lhe faltou aparecer um rato no quarto hehehe
Fotos lindas, as 2 primeiras parecem postais.
Abraço ao 2
Carla
Se soubesse que gostava de fazer esse passeio, oferecia-lhe de boa vontade estadia na minha casa, que não é um castelo mas é o meu castelo. Por certo não visitou outros castelos igualmente bonitos no loire, como o brissac, onde pode dormir, Angers, Serrano, etc…..se quiser voltar conctate-me. Beijinhos
Adorava fazer o mesmo.
Grande aventura Sr.Manuel , assim ate e’ mais divertido .
So fiquei com pena dos donos do outro castelo , se eles nao tiverem clientes assim nao conseguiram reconstruir o castelo , e’ uma pena situacoes destas acontecer .
Devia de haver verbas para este tipo situacoes .
Pronto, para a proxima ja sabe, se vier a Tours a minha casa está à disposição ! Olha eu sem saber que andava por estas “bandas” imagino a minha cara de “tola” se o visse por aqui !! O meu marido que ja me faz cara de espanto quando me vê a rir à gargalhada em frente ao seu programa (bien sûr sans rien comprendre de la langue portugaise) se eu lhe dissesse que o tinha visto, dizia que tinha “pirado” de vez !!!
Manel que grande aventura que acabou bem mas eu com buracos e possíveis ratinhos jamais beijokas
Magnífico, o que já me ri só de imaginar. Bjs
Sabe o que lhe digo Manel “não há melhor hotel que a nossa casa”.
Mas devo dizer-lhe que adorei a sua história e até parece que estou a ver a sua irritação e encredulidade com tudo o que lhe estava a acontecer.
Um beijinho Manel diretamente de Lordemão, Coimbra.
Adorei a sua maneira de descrever “esta desgraça” de início de viagem. Ainda bem que tudo acabou bem. Bjs
Sem comentarios!!! Espectacular, Lindo, Maravolhoso!!!
Que história maravilhosa querido Goucha